Abner
Neemias Cruz
Diego de
Freitas Úngari
Kátia Lima
de Oliveira
Luis
Gustavo Terra Telles
Michel
Willians Araujo Yamamoto
Por
muitas vezes, costumamos acreditar que grande parte de nossa cultura
constituiu-se sob a influência do colonizador branco europeu. Tal percepção
deve-se, pois, acreditarmos que os aspectos culturais fundamentais de nossa
nação, como nossa língua, nossas tradições e nossos valores, constituídos
predominantemente sobre a influência do catolicismo romano, não tiveram
qualquer interpenetração relevante de aspectos culturais advindos dos indígenas
e dos negros.
Com
isso, acabamos por acreditar que alguns traços culturais, em muitos casos,
associados ao campo do exótico e das curiosidades, vieram apenas das heranças
deixadas por índios e, aqui merecendo maior destaque, pelos escravos, além de
ficarem restritos aos substratos sociais mais baixos e tidos por "menos cultos". Na verdade
isto não se efetivava, pois acabou havendo uma hibridização com a criação de uma
cultura crioula desse modo, o samba, o funk e o próprio rock n’ roll, no caso
da música; o candomblé e a umbanda, no campo religioso; o vatapá, o acarajé e
outros tantos quitutes, acabaram por constituir uma cultura afro-americana no
Novo Mundo.
Contudo,
o colonizador europeu tenha conseguido criar nas suas colônias americanas
sistemas legais, econômicos e instituições religiosas a seus moldes, estes não
foram constituídos de forma integral, pois nenhum grupo é capaz de transferir
de um lugar para o outro, de maneira intacta, seu estilo de vida, seus valores
e suas crenças, pois as próprias características do lugar que recepciona essa
cultura alienígena, restringe a intensidade pela qual esta é absorvida.
Soma-se,
ainda, que com o povoamento, o crescimento e a consolidação das colônias
americanas, onde a cada dia aportavam mais e mais escravos num fluxo
ininterrupto por mais de três séculos, resultaram na criação de sociedades
profundamente divididas tanto culturalmente como fisicamente. Apesar dos maus tratos
e outros elementos coercitivos utilizados pelos senhores para submeter os
cativos, estes não podiam ser utilizados a esmo, visto que os escravos possuíam
consciência da dependência dos senhores em relação a eles. Castigos físicos e
separação de familiares podiam engendrar inúmeras reações, que variavam desde a
doença fingida à fuga, o que afetaria diretamente os lucros.
Seria
um erro, então, supor que nunca houvera choques culturais entre o elemento
branco e o negro e que estes formaram juntos uma cultura crioula nas Américas,
embora estes contatos não estivessem nos planos dos senhores, pois tais
contatos poderiam colocar em xeque a estabilidade do sistema escravagista.
Ao
chegarem a América, negros, vindos de várias regiões da África, só tinham contatos
com outros escravos, em mesma condição que ele nas senzalas dos senhores ou em
espaços comuns frequentados por eles, muitas vezes, com línguas e culturas
diferentes da sua. Outra interação possível ao cativo estava com seu próprio
senhor. Com isso, os escravos tiveram que constituir novas comunidades de
sentido, com normas e língua própria, que lhes proporcionassem se comunicar e
se relacionar, dando origem a uma nova cultura híbrida.
Do
contato com o homem branco, diverso elementos culturais surgiram, advindos
tanto pela delegação de obrigações no trabalho nas fazendas de açúcar e café; quanto
pelas relações domésticas com os escravos da casa-grande; do inevitável contato
sexual entre libertos e cativos; e até mesmo pelas relações surgidas pelos
contatos comerciais ou em ocasiões festivas.
É
de se convir que nas sociedades americanas, composta por uma minoria de
europeus que controlavam uma grande maioria de africanos, que as normas que
regulavam o contato entre esses dois grupos tenham sido os primeiros a serem
criados e normatizados.