sexta-feira, 11 de novembro de 2011

BRASILEIROS NA ILHA DA DEMOCRACIA RACIAL

Daiana Beigo Farias
Kéllyta da Silva Veiga
Lucas Braghetta Caceres
Nicia Flávia Narciso

Globalização, de acordo com Schwarcz, dita uma unidade cultural em sentido amplo do termo, em meio à uma explosão de diferenças culturais, sociais, religiosas e políticas que se apresentam em todo o mundo.
Essa diversidade, ao longo da história da humanidade gerou conflitos entre os povos, fator que deu origem ao termo e sentido literal da palavra preconceito.
Para pautar essa tese, no artigo Usos e abusos da mestiçagem e da raça no Brasil, a autora dita sobre as diferenças raciais, termo que ganhou um sinônimo eufemístico conhecido por etnia, discutida entre sociólogos e antropólogos e outros estudiosos da área de humanidades da atualidade a partir de finais do século XVIII.
Schwarcz se utiliza da história nesse artigo, para nos informar a retórica do termo preconceito racial presente entre os homens em diversas sociedades, em diversos períodos históricos que vão da Roma antiga até a atualidade.
É importante ressaltar que as diferenças sociais e os conflitos gerados pela diversidade entre os homens é fator antigo e também atual, ou seja, é um paradoxo ao avesso, pois o antigo e o moderno estão em consonância, alterando apenas o seu discurso em relação às diferenças gerais entre os homens.
Na Roma Antiga, todos os que não eram romanos e não tinham territórios delimitados, ou mesmo demarcados, eram tratados como bárbaros. Em sentido religioso, pela força da Igreja Católica na Idade Média e na atualidade, todos o que não são cristãos eram e são considerados pagãos que representa um modo de consenso de diferenças presente em todos os grupos religiosos, religiões enquanto instituição, tribos ou mesmo sociedade dita atualmente como civilizada, moderna e evoluída que se difere daquilo que é dito como padrão a cada grupo ou sociedade. Contudo esse consenso de diferenças gerou o sentido de preconceito que maculou o mundo com guerras e conflitos entre os homens.
No decorrer da história, houve vários estudiosos que contribuíram para a evolução dessas idéias com propostas de entendimentos das diferenças e respeito mútuo entre os homens. Na França de finais do século XVIII a proposta apresentada era a de unidade, igualdade e fraternidade. Termos muitos discutidos que deram origem a outros discursos sempre na tentativa de encontrar um eixo central que pudesse balancear as sensações de diferenças em meio à humanidade e, sobretudo a aceitação e entendimento entre os povos, fator desconsiderado entre a humanidade, historicamente, pois as teorias seguiram e as diferenças permaneceram através do preconceito em sentido atual.
Muitos pensadores propuseram a “formalização das diferenças”, pensaram na evolução da espécie, marco histórico, representado por Darwin com a Teoria da Evolução da Espécie. Com a teoria determinista, as diferenças foram ainda mais ressaltadas na história da humanidade, sobretudo no século XV e XVI em que o Velho Mundo descobria o Novo Mundo.
Para exemplificar o sentido de preconceito, Schwarcz se utiliza da Descoberta da América pelos Europeus para denotar as diferenças e a idéia do termo “civilização” defendido pelos descobridores da América que chocaram com o modo de vida dos chamados primitivos, termo resultante do encontro entre os europeus e os povos americanos ditado como etnocentrismo por Todorov apud Schwarcz p, 79.
O encontro entre os civilizados e os não civilizados remeteu aos europeus o sentido de chegarem ao paraíso devido à abundância natural vista na América, sobretudo no Brasil. Também atribuiu aos povos nativos, o conceito se seres inferiores que perdurou durante todo o período colonial e republicano no Brasil.
Com a abolição da escravatura o problema das diferenças se acentuou ainda mais no Brasil, pois a mão de obra dos negros, considerados uma espécie inferior, inapta ao viver considerado civilizado, não servia aos moldes europeus. Logo precisavam de orientação em sentidos diversos.Estudiosos fizeram evoluir o sentido primitivo entre os homens, tanto que os antropólogos especificam os homens por estágios, o primeiro como estado de selvageria, o segundo em estado de barbárie e o terceiro como civilizado. Assim origina o conceito e “sociedade”.
É importante ressaltar que a questão de inferioridade dos homens americanos foi justificada no Brasil através da mestiçagem que deteriorava uma chamada “raça pura”
que poderia se degenerar com o cruzamento de raças. Entretanto o mundo propunha um “tipo ideal”. A mestiçagem passa a ser vista no Brasil, primeiramente, como um fator de degeneração, mas com a busca por uma convenção da identidade nacional há uma valorização da mestiçagem através de várias teorias, uma delas a das “três raças” que elegia o branco, o negro e o indígena como integrantes dessa amálgama que resultaria no brasileiro, porém o branco era colocado como representante da raça ligada ao civilizado, portanto, o projeto nacional oficial segue esta vertente e busca o branqueamento do brasileiro ao longo de gerações. É neste contexto e neste imaginário que verificamos o incentivo a imigração européia de áreas que os habitantes eram em sua maioria com a cor da pele branca.
Diante de tais constatações e observações de alguns aspectos da história da humanidade podemos, dedutivamente, afirmar que as diferenças e o preconceito estão presentes entre os homens, pois, mesmo que sociólogos, políticos, antropólogos, cientistas, historiadores e outros intelectuais que estudam os acontecimentos históricos da humanidade, ditam uma dada igualdade, há um sentido velado de preconceito em meio ao mundo global e diverso que se apresenta através da intolerância religiosa, política, social e cultural em destaque mundial.
 No caso de Schwarcz seu enfoque é o Brasil e tentar compreender a dinâmica do pensamento e das teorias criadas e difundidas desde o século XVIII e que estão imbuídas de um racismo frente a questão da mestiçagem no Brasil, um preconceito justificado em cada momento e contexto por um fator distinto, como por exemplo retomar o campo biológico das raças para defender uma degeneração que estaria presente na mistura de raças. Defende que o racismo não se findou no Brasil e que pensar na constituição e identidade nacional brasileira a partir de um vínculo com a teoria das três raças pode ser entendido como uma forma de “preconceito de ter preconceito”, pois retomar a identidade nacional a partir de teoria de raça é demonstrar como a diferença de raças ainda está presente em nosso imaginário e ignorar esta presença apenas contribui para encobrir essas permanências na sociedade brasileira.

“Limitar a questão racial a um problema exclusivamente econômico pouco resolve. Afirmar que a raça se esconde na classe é entender só parte da questão. Talvez seja mais produtivo enfrentar o mito, o “mito da democracia racial”, e entender porque ele continua a repercutir e a ser resignificado entre nós” (Schwarcz, 1996, p. 101)

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Usos e abusos da mestiçagem e da raça no Brasil: uma história das teorias raciais em finais do século XIX. Afro-Ásia, 18, 1996.

15 comentários:

  1. Apesar do sentido de globalidade expresso pelo capitalismo em meios políticos, culturais, econômicos e sociais, no mundo, que infere um modelo de unificação da humanidade, percebem-se as diferenças que são gritantes na humanidade. Tais antagonismos culminam através de conflitos étnicos, religiosos e políticos que mesmo com a proposta de unificação capitalista através da globalização, não se resolvem.
    O texto em questão, da Lilia K. Schwarcz, nos apresenta que tais conflitos são reflexos das diferenças entre os homens e, sobretudo da falta de respeito pela diversidade entre eles que perduram ao longo da história da humanidade, mesmo com o entender evolucionista sócio, político, social e cultural, em sentido amplo do termo. A autora nos apresenta o resultado da intolerância entre os homens gerando assim o preconceito e a permanência da idéia de superioridade de uns perante outros que nos cerca desde tempos mais longínquos até os tempos atuais que vela esse sentido através de leis de cidadania que para um bom leitor e observador não se mantêem.

    Ana Paula Svirbul de Oliveira - 4 Ano HN

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  2. O texto de Lilia K. Schwarcz apresenta o preconceito racial na atualidade de forma velada através do conceito de mestiçagem e, sobretudo pela substituição do termo raça por etnia que, mesmo sendo um termo atual, não modificou a estrutura social e as relações entre os povos. Contudo, o sentido atribuído ao modelo de diversidade cultural e étnica entre os homens não superou o preconceito e a intolerância entre eles , os quais se mantêm política, social e culturalmente através do conceito de hierarquia, em seu vasto sentido, fator que resulta a permanência da idéia de superioridade de uns perante os outros, refletindo o preconceito em permanência ao longo da história.

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  3. Sarah Fortino Lasmar (Matutino)18 de novembro de 2011 às 15:42

    Dentro da questão da introdução das teorias raciais no Brasil, em fins do século XIX, a autora destaca o papel das faculdades de Medicina e Direito. Os intelectuais que delas faziam parte acreditavam que os ditames do futuro da nação estavam sob a sua responsabilidade e que a realidade da sociedade brasileira a estes deveria se adaptar. Envolvidas pelas teorias raciais e com a imagem de que a mestiçagem não permitiria o desenvolvimento nacional, mas, pelo contrário, levaria à sua degeneração, estas referidas instituições elegem a questão racial como um importante objeto de estudo.
    Das escolas de Direito, em particular a de Recife pode-se destacar a importância da dentro da teorização dos assuntos ligados a raça; enquanto São Paulo destacava-se pela política posta em prática contra a mestiçagem e a favor do branqueamento populacional, principalmente através do incentivo à entrada de imigrantes brancos e à restrição de asiáticos e africanos.
    No que diz respeito às escolas de Medicina, a faculdade da Bahia destacava-se pelo estudo do “doente”, estabelecendo uma análise que seguia a escola criminológica italiana que apontava que através de determinados traços físicos seria possível a determinação prévia daqueles que apresentassem tendências ao crime; além de enxergar na suposta degeneração derivada da mestiçagem a causa de problemas como a embriaguez, a loucura e a falta de moral.
    No Rio de Janeiro, o enfoque da Medicina se inclinava ao combate e prevenção das doenças, iniciando um programa de higienização que passava a impor determinados hábitos ao cotidiano privado das pessoas, mas principalmente culpava a miscigenação por ter enfraquecido a população perante as doenças e os africanos por terem supostamente trazido grande quantidade destas. Assim, fomentou-se uma política de eugenia, combatendo a miscigenação, defendendo a separação da população e o “cruzamento” somente entre os “sãos” e uma educação dos instintos sexuais.

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  4. O texto de de Lilia Schwarcz, assim como o texto sobre o samba da semana anterior, mostra mais uma vez a conciliação do projeto de Nação que se pretendia para o Brasil e a política implementada na época. Nesse sentido, a questão da mestiçagem ainda vista de forma pejorativa em finais do século XIX, foi amparada pelas Teorias Raciais que ganhavam força no país e que colocavam o mestiço em condições de inferioridade, mais do que isso esse discurso ganhou força sendo legitimado pelas Escolas de Medicina e de Direito que, através dos seus estudos, tentavam comprovar a inferioridade do mestiço. Já nos anos 30 do século XX, a política proposta visava valorizar o mestiço tratando-o como o símbolo nacional, postriormente o Brasil foi taratado como o país da "Democracia Racial", mas a realidade que nos deparamos é a de uma "Ilha da democracia racial" cercada por preconceito por todos os lados.

    Camila S. Martins
    4º História Diurno

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  5. Diante da proposta de compreender a especificidade do racismo existente no Brasil, Lilia Schwarcz faz uma análise das teorias e pensamentos difundidos desde o século XVIII e mostra a ligação entre o racismo aqui presente e a questão da mestiçagem. Coloca em evidência que, apesar do discurso racial ter perdido sua legitimidade nos anos 20 nos espaços das instituições científicas, ganhou lugar no espaço privado. E, mesmo a partir dos anos 30, com uma certa positivação da idéia de mestiçagem, o que temos ainda é uma discussão da identidade nacional relacionada com a questão da raça, evidenciando assim, como bem aponta a autora, que o tema da mestiçagem não fora, de fato, enfrentado.

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  6. A autora expõe a gênese do termo "preconceito",como a composição da diversidade cultural,religiosa,social e política que resultou em conflitos entre diversos povos.Diferença racial à partir do século XVIII agora é sinônimo de etnia.
    Schwarcz utiliza-se de um artigo para expor a história do preconceito desde os tempos antigos até os dias atuais,mostrando que o preconceito permanace o mesmo ao longo dos tempos.
    As diferenças geram conflitos,há uma aversão ao "outro",à aquele que não pertence a um determinado meio,grupo,ou raça,é exatamente essa intolerância que vai resultar no preconceito.
    Muitos foram os estudiosos e teóricos que contribuíram para dimininuir essa concepção preconceituosa entre os povos,a autora cita o exemplo da França no século XVIII que em meio a diversos conflitos entre classes lança como lema de sua revolução,"Unidade,Igualdade e Fraternidade".
    O Brasil foi e ainda é um grande exemplo de conflitos étnicos.
    A mestiçagem foi justificada no país como a deteriorização da "raça pura",posteriormente este conceito foi sendo modificado,porém o branco permanece como a "raça civilizada".
    Schwarcz centraliza seus estudos no caso do Brasil e na dinâmica de teorias desenvolvidas sobre o racismo que está enraizada nos homens desde os tempo mais longíquos.

    Maiara Mano 4°H/N

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  7. No que se refere à transposição das teorias raciais européias para o Brasil, em finais do século XIX, é interessante notar o esforço de se submeter o contexto social aos modelos teóricos externos. A realidade social deve ser modificada em função de um modelo teórico pré-estabelecido e importado. Neste sentido, as teorias, com destaque para o determinismo racial, são adaptadas ao contexto do Brasil na tentativa de produzir uma descrição coerente acerca da nação. Há uma preocupação da nação de se auto-explicar com base nessas classificações raciais. Nesse esforço de auto-entendimento e de explicação para os males, as teorias raciais conduzem à constatação de um mal (a mestiçagem) e ao esforço de eliminá-lo. Com isso, podemos observar que essa compreensão de si próprio se dá a partir de parâmetros exteriores e, então, compreendemos o enorme peso que os esquemas teóricos europeus têm sobre as descrições do Brasil, na época. Desta forma, podemos perceber nesse período, que a própria compreensão da História estava impregnada e era explicada pela perspectiva racial. Assim, podemos ver a enorme dimensão que as teorias raciais alcançam, influindo em diversas esferas da vida e do pensamento: a raça acaba sendo explicação para tudo.

    Laísa Almeida
    4° História Diurno

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  8. O texto de Lilia Schwarcz traz a questão do preconceito existente ainda hoje no Brasil, preconceito este que aparece, porém, de forma velada. A fim de chamar à atenção para este problema de ordem nacional, explica o quão artificial é o conceito de “raça”. A autora retoma em seu texto todo o processo de construção das idéias raciais que foram consolidadas historicamente ao longo dos séculos. Estranhamente esse tema ainda hoje sofre influência dos argumentos típicos de contextos dos séculos passados e que foram sustentados por grupos que utilizaram-se de teorias raciais, estas totalmente discriminatórias para se assentarem como “raça” superior. Na Europa dos séculos XVIII e XIX defenderam-se abertamente os argumentos que davam sustento às teses referentes às diferenças “raciais”. No caso, do Brasil, no entanto, o discurso aparece no século XIX adaptado de determinada forma que a miscigenação pudesse forjar a formação do elemento nacional a fim de se preservar a unidade territorial do país. Por isso, os intelectuais brasileiros elaboraram teses que justificavam a miscigenação por meio da retórica da formação do homem tipicamente nacional. O índio, a princípio e o negro num segundo momento entrariam como “elementos” que ao unir-se ao homem branco, contribuiriam para a formação de um ideário nacional.
    Entretanto, esse discurso encobre um preconceito que sempre existiu em nossa sociedade, independente da época. O homem branco mesmo na realidade de um país colonizado como o Brasil, sempre assegurou seu atributo de “raça” superior, as demais “raças” viriam por meio da mistura ocasionar uma desvirtuação da suposta superioridade da primeira. Mas, num determinado momento, segundo as necessidades vigentes, essa mistura passou a ser valorizada, porém, o preconceito nunca fora superado, apenas manteve-se oculto. A falácia relacionada ao “Mito da democracia racial” é facilmente desmascarada quando prestamos uma maior atenção aos discursos e condutas de boa parte da sociedade brasileira quando o assunto envolve a cor da pele.

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  9. Através desse texto me identifiquei com outras leituras sobre o assunto e que talvez seja importante citar aqui. Essa temática perpassa discussões sobre alteridade e multiculturalismo e envolve (como citado pela autora) as ideias de Todorov, que faz uma divisão nos estágios que se passa o reconhecimento do outro e de sua aceitação ou não, e acrescento Edgar Morin que compactua informações na tentativa (um pouco utópica eu diria) de formar uma ética e uma política em escala humana - antropoética e antropolítica. Sendo assim, como foi dito em sala, estamos disposto a ver o preconceito nos outros e não reagimos a ele de forma definida. A inércia no que tange esse assunto justifica a permanência velada na sociedade, uma vez que não se encara os elementos que compõem a questão racial. Reconhecer o outro antes de julgá-lo, não submete-lo forçadamente a um modelo preestabelecido e, ainda que não compactue com a cultura alheia, respeitá-la. A nossa democracia racial acabou se tornando um meio de ver a situação quotidiana por um viés racial e não desagregador dessa ideia. Acabou se invertendo as coisas e talvez por isso a necessidade de uma ética em escala humana, onde o homem é visto acima de tudo e não sua condição.

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  10. O grande problema do racismo no Brasil contemporaneo é a questão das pessoas acharem que vivemos em uma democracia racial. todos concordam que o racismo existe e está presente em grande parte da sociedade, porem ninguem se assume como racista, o racista é sempre o vizinho.
    a questão de tentarmos nos identificar como mestiços também é um problema, pois assim se passa uma imagem de que o Brasil é um país onde todas as pessoas são iguais. o problema do racismo está em todos os locais da sociedade e enquanto não se parar com a hipocrisia, o problema não tem chances de ser resolvido.

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