sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Respeitar diferenças ou defender a igualdade? O discurso paradoxal

Ariane Pereira Lima
Caio Brandão
Mariana Rezende de Campos
Matheus Wilson de Oliveira Rodrigues
Rosa Aparecida do Couto Silva

Através de uma pesquisa realizada entre 1986 e 1987 pelos bairros de classe média baixa em São Paulo, o sociólogo Antônio Flávio Pierucci constatou que havia uma similaridade entre as respostas obtidas em sua investigação com a pesquisa amostral realizada por Hans J. Eysenck, intitulada “Social Attitude and Social Class”, a qual retrata a figura do conservador inglês na segunda metade da década de 40. Segundo o autor, há no Brasil o mesmo pensamento conservador de direita constatado no artigo de Eysenck meio século antes. Estes pensamentos de cunho conservador ocorrem ainda no país porque, segundo o autor, estão para além do campo de análise do político, estão no “metapolítico”, ou seja, nas relações sociais quotidianas e na luta cultural.
O artigo estudado se pauta, portanto, na discussão sobre a valorização das diferenças entre os indivíduos, o que teria sido uma bandeira primeiramente levantada pela direita, no final do século XVIII e início do XIX como reação à Revolução Francesa, que defendia a igualdade entre os homens. Mas o que Pierucci constata é que, atualmente, esta bandeira do incentivo à valorização das diferenças tem sido levantada pela esquerda com os “novos” movimentos sociais.
O objetivo de Antônio Flávio Pierucci nesta discussão é mostrar como essa apropriação da defesa das diferenças feita pela esquerda acabou causando um efeito de “retorsão”, ou seja, de fortalecimento do argumento que a direita sustenta desde o princípio, que é firmado na demarcação das diferenças. O autor defende que o racismo e o chauvinismo são caracterizados por rejeições à diferença, sendo que estas rejeições só podem ser colocadas após a afirmação da diferença, papel este que, com esta retorsão, passou a ser feito inconscientemente pela esquerda.
Essa apropriação do discurso das diferenças feita pela esquerda, com vistas à valorização das diversidades torna-se paralelo ao discurso da direita, enquanto deveria exatamente fazer o contrário, ou seja, deveria confrontá-lo, e é isso o que Pierucci chama de “ciladas da diferença”. Em seus argumentos ele coloca que, sendo este discurso historicamente da direita, a única maneira de afrontar o discurso conservador seria se manifestar na defesa e valorização da igualdade, e não da diferença. Ou como ele diz, o discurso que não é palatável à direita é o dos direitos humanos.
O sociólogo defende que esta tomada de posição pela esquerda não é totalmente paradoxal quanto pode parecer à primeira vista, pois a diferença não representa, necessariamente, desigualdade. “Somos diferentes, mas iguais, a verdadeira igualdade repousa nas diferenças, defender a diferença não quer dizer defender a hierarquia ou a desigualdade”. Contudo, há uma dificuldade em traduzir estes conceitos à sociedade, pois eles são produzidos e compreendidos academicamente e com teor um tanto quanto complexo, que se torna de difícil absorção para a maioria da população. Como estas questões se desenvolvem e se afirmam no âmbito do cotidiano, elas devem, então, ser trabalhadas e refletidas neste contexto, e não devem ficar restritas somente ao âmbito acadêmico.
A questão crucial que se afirma e que mina a possibilidade da apreensão deste conceito, é que delinear as diferenças torna-se complicado sem que se haja auxílio ao desenvolvimento de práticas discriminatórias. Para o autor, defender as diferenças sobre uma base igualitária é algo dificílimo na prática, mas seria o ideal. Sendo assim, Pierucci acredita que o único meio de criar-se um discurso capaz de confrontar o conservadorismo é ancorando-se no ideal de igualdade, de modo que haja uma compreensão generalizada que vise à prática cotidiana. Contrariamente ao que pensa o autor, porém, a historiadora Joan Scott acredita que o discurso da diferença na igualdade é válido somente na medida em que se consegue superar esta visão binária entre diferença e igualdade. Contudo, o que se mostra contemporaneamente, é que os discursos como o de Scott correm o risco de fazer com que o “feitiço se volte contra o feiticeiro”.

Texto: PIERUCCI, Flávio Antonio. Ciladas da diferença. Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 2(2): 7-33, 2 sem. 1990. 

14 comentários:

  1. É interessante observar essa discussão em torno das diferenças nos dois polos políticos: esquerda e direita. Vemos assim que as [b] diferenças da igualdade[/b], - notando, obviamente a clara diferença entre o que se diz na teoria e a prática - defendida inicialmente pela direta, onde há a defesa da diversidade, que acaba, por fim, legitimando, por exemplo, o discurso do racismo. Isso porque a direita reconhece, aceita e até cultua a diferença, a dificuldade da direita conservadora, porém, é lidar com a igualdade, é apreende-la pois repudia o diferente.
    A ideia de diferenças para a esquerda, que embora não ser assim (na forma de um culto a diferença), acaba causando o movimento de "retorsão", ou seja, a esquerda acaba se apropriando da discussão da diferença e transforma isso em um direito
    Assim vemos, as apropriações das diferenças, ao longo dos tempos, onde as diferenças explicam a desigualdade de fato, embora, seja requerida a igualdade de direito.

    Fabiana de Oliveira Andrade 4HD

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  2. Em um momento em que os movimentos de direita se fortalecem na Europa por conta de diversos fatores (entre eles a Primavera Árabe e seus milhares de refugiados) e também aqui criam força por outros motivos vários, é interessante ler o texto de Pierucci para compreender um pouco sobre como discursos e argumentos podem ser armadilhas para seus próprios emissores.
    O autor, ao buscar as origens da valorização das diferenças e encontrar essas raízes no conservadorismo, não apenas nos mostra a grande importância da história em questões cotidianas, como também demonstra que perder a noção da historicidade de determinados conceitos pode nos levar a distorcê-los e às vezes cairmos em ciladas.
    A valorização das diferenças é o tônus do discurso da esquerda na atualidade, porém a percepção da mesma ao construir esse conceito levou-a a fortalecer argumentos da direita que buscavam não apenas separar os diferentes, mas também os excluir. Essa cilada em que a esquerda caiu tem um agravante gigantesco em seus desdobramentos e conseqüências, que é o fato dela mesma não ter percebido a que lugar suas atitudes estão lhe levando. Assim sendo, é necessário, para o autor, que a esquerda note este fato e mude seu discurso de forma a valorizar a igualdade ao invés das diferenças, pois só assim seria possível para ela sair da armadilha que constrói para si mesma.

    Fernanda Brussi Gonçalves

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  3. Ótimo comentário da Fer, por ter relacionado o texto com questões muito atuais, pois o assunto é realmente muito atual, não por acaso, gera debates caloros na nossa faculdade e gerou na sala também.
    Acredito que a intenção deste texto no final do curso, é fazer-nos refletir sobre a complexidade da discussão envolta da diferença entre grupos étnicos e culturais, e a não superação do racismo historicamente construído no nosso país, devido, principalmente, ao longo período da escravidão negra, pois como se comentou em sala, a democracia racial é e sempre foi uma ilusão, ou melhor, uma "mentira". Se no período colonial a justificativa de escravizar pessoas pela cor da pele e para rejeitá-las (ao passo que na antiguidade o fator era o extrangeiro, ou vencido de guerra) pautava-se em fatores "biológicos" e "cientifícos", hj, com tal argumento caído por terra, as justificativas para se alimentar a "rejeição fóbica da diferença", que culmina na desigualdade e nos preconceitos violentos, pauta-se na cultura, primeiro na obsessão com a "cultura diferente" (discurso da esquerda), depois na sua rejeição (retorsão pela direita), possíveis graças à nossa "cultura conservadora", tão difícil de ser superada.
    A volta ao discurso da igualdade feita pela esquerda, proposta do autor, e não somente por ela, mas sim por todos que desejem acabar com os atos preconceituosos e violentos, pode sim ser realmente eficaz, pois como disse o autor e eu concordo, o discurso da igualdade foi o que sempre assustou a direita (lebrar-se dos Direitos do Homem e do Cidadão via Revolução Francesa). No entanto, seria uma eficácia virtual, pois pode transformar-se em mais uma armadilha, já que aceitá-lo e difundi-lo dessa maneira simplista, ou seja, sem ressaltar que a verdadeira igualdade reside no respeito as diferenças, seria contar mais uma "mentira" ao povo (não voltariamos ao conto da democracia racial?). Já que a maioria associa diferença com desigualdade, afirmar a igualdade para superar a desigualdade seria também uma superação da diferença, e não é isso que a gente quer, pois elas existem e não devem ser tratadas como algo negativo. Não gostaríamos que as desigualdades estivessem aí, mas elas existem e a história nos explica o porque (o escravismo, o machismo, o discurso conservador da direita etc). Dessa forma, acredito que o único caminho eficaz só pode ser a "verdade", enfrentar o paradoxo do discurso da diferença e desconstruir o sistema binário diferençaXigualdade, esse é o papel da "vanguarda", insistir que o verdadeiro paradoxo a ser superado é desigualdadeXigualdade e que igualdade não significa homogeneidade, esse é o único caminho para uma igualdade efetiva.

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  4. O autor nos apresenta que a diferença e a desigualdade entre as pessoas é um dado historicamente defendido pela direita como algo natural e irreversível. A esquerda, por outro lado, com pensamento mais igualitário, afirma que os seres humanos são iguais e que suas diferenças são transitórias e socialmente construídas. No entanto, por volta da década de 60 a 70, assistiu-se à adesão dos movimentos sociais, como o movimento negro, feminista e gay, à "bandeira" da defesa das diferenças em
    detrimento da causa igualitária. Assim, vem surgindo na nova esquerda, divisas como "direito à diferença", "defesa das identidades coletivas", etc. Neste contexto de grande avanço da direita identitária na Europa, essas reivindicações diferencialistas no seio da esquerda alcançaram grande aceitação. Entretanto, esse intercâmbio de divisas entre a direita e a esquerda, não apenas aumenta a dificuldade na delimitação entre os dois pólos, mas ainda representa um perigo que reside justamente nesta ambiguidade: a defesa das diferenças por grupos de esquerda, tema alimentado por 200 anos no campo da direita e que constitui um dos núcleos base desta linha de pensamento (algo que já foi comentado aqui e em sala de aula).
    Assim, segundo o mesmo autor, no fundo, o reconhecimento da diferença no outro e a negação de nossa condição de igualdade, focalizando apenas aspectos superficiais e da aparência física como opção sexual, cor da pele, região, religião, etc., constitui a base da inferiorização e da discriminação do indivíduo supostamente "diferente". Pode-se considerar, portanto, que as políticas públicas
    reivindicadas pelos movimentos sociais, baseadas nestas supostas diferenças,
    como a política de cotas, por exemplo, contribuem para legitimar o discurso discriminatório da direita, além de não solucionar a fundo o problema, contribuindo para a manutenção da marginalização de muitos indivíduos.

    Bárbara Mariani Polez - 4º ano de História diurno

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  5. A diferença tem como definição: caráter que distingue um ser de outro ser, uma coisa de outra coisa; falta de igualdade ou de semelhança. A diferença é sentida por nós porque partimos de nossas próprias referências pessoais para analisar o outro. Historicamente falando sempre foi assim, os primeiros colonizadores identificavam o diferente como o que não era igual a eles e podiam assim caracterizar-se como melhores na diferença. A partir da pesquisa que fez o sociólogo Antônio Flávio Pierucci, utilizando-se de uma análise em um primeiro momento política, nota-se que foi a direita quem se apropriou do discurso da diferença, afirmando-a e depois rejeitando-a. Com os novos movimentos sociais, a esquerda se apropria do discurso da valorização da diferença, que acaba por se tornar um paradoxo, pois fazendo isso ela na realidade ajuda a fortalecer o discurso de direita, que se torna uma cilada. Para fazer com que isso não aconteça, o discurso que teria que ser ressaltado é o da igualdade, pois esse sim é um discurso alheio à direita, como o próprio autor ressalta no texto, os Direitos Humanos, “o discurso revolucionário da igualdade”. Para ressaltar o que seria isso no Brasil, ainda completa com o discurso abolicionista. Assim permanece a mentalidade da direita conservadora nas várias formações históricas, em que a base de seu argumento é negar o direito à igualdade. o autor ainda ressalta não se quer acabar com a diferença, mas sim com a desigualdade, pois diferentes todos somos, mas não necessariamente temos precisaria existir a desigualdade, seria uma social diferente porém com direito a ser igualitária. O autor também trabalha no texto com a questão de como levar essa discussão para o cotidiano das pessoas. No meio acadêmico a questão binária diferença/desigualdade já foi muito bem trabalhada e compreendeu-se que é necessário que seja feita uma desconstrução do conceito, mas para que isso possa ser entendido no cotidiano, o nível de intelectualização necessário para que isso aconteça não é adquirido pela maioria. O que acaba levando sempre a formação dessa dicotomia. Vemos assim que o meio mais preciso para a eliminação da desigualdade é sim a igualdade na diferença.

    Comentário por: Ana Paula Daniel 4ºHN.

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  6. Este artigo trouxe uma temática que envolve assuntos quotidianos e, portanto, perpassa avaliações de cunho pessoal ou dentro de um "senso comum". Embora pensamos nos problemas sociais inerentes a vida e uma forma de amenizá-los através de práticas precedidas pelo entendimento amplo das suas quentões, não devemos nos perder numa leitura simplista dos assuntos trabalhados. Primeiramente, ressalto (e também chamei a atenção para isso durante a aula) que não se deve confundir os elementos utilizados pelo autor durante a discussão no artigo. Os termos "diferença" não se opõem a "igualdade", "desigualdade" não contradiz "indiferente". A dicotomia diferença/igualdade pode coexistir, assim como afirma os discursos de "esquerda" trazidos pelo autor. Pensar a desigualdade social presente hoje (e não somente hoje, mas como uma herança histórica) como proveniente das "diferenças" se torna, dessa forma, assertivo que uma diferença biológica simples é determinante de uma condição sócio-cultural de inferioridade para uns e superioridade para outros. Os discursos feministas são tão sexistas como os discursos machistas e os racistas brancos são tão racistas quanto os que buscam garantir um discurso único para os negros, índios entre outros. Sendo assim, o autor estabelece uma "cilada" fundamentada nas respostas dadas às questões de diferenças e desigualdades, indiferença e igualdade, possibilitando através da confusão (citada acima sobre os termos) uma afirmação das diferenças para posteriormente sua negação.

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. O texto de Pierucci acerca da contradição gerada pelos discursos que valorizam as diferenças em detrimento da defesa e afirmação das igualdades é bastante útil, no sentido, de que deixa explicita a seguinte questão: muitas vezes (re)produzimos discursos, cujas as abordagens - estas implícitas no discurso - não estão devidamente esclarecidas para quem os profere. Este equívoco pode vir a contribuir ainda mais para acirrar e agravar o abismo que historicamente separa os homens em grupos que os confere distinções ainda que falsas na maior parte das vezes.
    Digo isto, pois, a minha interpretação recorrente acerca dos discursos em “defesa das minorias” sempre foi a da defesa dos direitos econômicos e socioculturais que foram vergonhosamente usurpados daqueles que sofrem o peso da segregação ocasionada pela discriminação por meio da cor da pele. Nesse caso refiro-me especialmente à discriminação dos negros, mas o tema abrange outras esferas, tais como a discriminação referente às mulheres, aos homossexuais, dentre outros. Porém, até então via nesse discurso algo genuinamente democrático, pois tentava assegurar a igualdade de direitos, no entanto, o autor demonstra de forma bem nítida que na verdade esse discurso leva-nos para uma direção contrária à que desejamos, pois o argumento contido nele já é por si só discriminatório e legitimador das diferenças.

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  9. Nessa desconstrução e busca da historicidade de conceitos utilizados nos discursos da esquerda e nos mostra um paralelo que uma interpretação precipitada dos discursos que defendem a igualdade e as diferenças podendo levar a uma espécie de armadilha no que se refere às diferença, pois quando essa esquerda que pensa nas defesas de minorias e no respeito as diferenças a direita usa um discurso parecido, mas que valoriza a segregação, a diferença e a submissão à hierarquia como partes dessa diferença que ela quer valorizar. Assim sendo enquanto a mentalidade dessa população conservadora não conseguir enxergar além de uma estrutura binária que só observa de igualdade e diferença como opostos o discurso da esquerda pode correr riscos ao se alinhar com a valorização das diferenças, pois a ideia que ela quer passar de igualdade em direitos para todos sem distinção e respeito as diferenças já que todos somos iguais as vezes não consegue ser bem clara para quem não tem clara noção da historicidade a que remetem conceitos pautados nos direitos humanos, e conceitos como respeito a diferença podem ser confundidos com exclusão social e subordinação a ordem vigente.

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  10. É importante ressaltar que, não só a origem do discurso vem da direita, mas que a esquerda ao defender as diferenças (ou torná-la foco de suas lutas), permite também a manutenção dos preconceitos dentro da sociedade, uma vez que o discurso de ambos os lados o “legitima”. Mas o cerne da questão para mim é que as finalidades e os pontos de partida são distintos. A direita (conservadora) reconhece a diferença para legitimar a dominação. A esquerda reconhece as diferenças como forma de emancipação. Entra meio que uma lógica da pedagogia freireana dos diferentes saberes: não há um fisiotipo, um estereótipo, fenótipo que defina uma escala humana de 0 a 100%. Todos são seres humanos, mesmo com todas as diferenças existentes. Reconhecer as diferenças é para mostrar que a luta pela igualdade é geral e deve afetar a todos.

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  11. É notável no artigo a pretensão política do autor que ao simplificar esquerda e a direita demonstra legitimar o seu discurso. O raciocínio do autor acredito ser pertinente, porém não o mais adequado. Ao pretender tirar da “propaganda” da esquerda o discurso das “diferenças” com o medo deste ser um discurso perigoso, “um tiro no pé”, o autor propõe negar, de certa forma, uma percepção que a própria esquerda acredita, porém de forma diferente da direita. Desta forma, para o autor, na prática um discurso simplista de igualdade surtiria mais efeito para com as pretensões da esquerda. No entanto, um discurso de igualdade que negasse as diversidades, tornar-se-ia o discurso da população em geral, um discurso do senso comum, tão injusto e incompleto carregado de ideologias como o discurso da direita.

    Rebeca Oliveira de Lima

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