sábado, 24 de novembro de 2012

Usos e abusos da mestiçagem e da raça no Brasil: o essencial é invisível ao discurso

Marcos Paulo Rocha Fernandes
Matheus Barbosa de Oliveira


            Brasil, finais do século XIX: o Império sucumbe, instituí-se a República. De lá, até o início do século XX, ganhariam força as teorias racialistas europeias, adaptadas e ressignificadas de acordo com a realidade e necessidade. Com o aval do discurso científico, acabar-se-ia por naturalizar a questão da desigualdade. Se com a abolição da escravidão, as ponderações legais não mais surtiam efeito, restava então apelar à diferença teórica. Nas faculdades de Medicina e Direito, fixadas no nordeste e sudeste do país, através do evolucionismo e darwinismo social, os homens de ciência pensariam os problemas e possibilidades sociais decorrentes da miscigenação: da problemática mistura das raças. A elite passaria, assim, a estudar as teorias racialistas e pensar o futuro do país. Quais perspectivas teriam uma gente escurecida, enegrecida? Como evoluir uma nação com tais características? Não agradava às “pensantes mentes” brasileiras o habitar neste imenso laboratório da mistura racial. Para eles, o atraso social e político revelava a fatal consequência daquele cenário, e o branqueamento seria talvez uma solução possível. Os perigos da miscigenação estavam demonstrados e, para alguns, a impossibilidade de uma cidadania universal parecia ser mais que evidente. Ocorre que, discutindo a raça, deixava-se de discutir o indivíduo. E assim renunciava-se à reflexão sobre a cidadania. Com a sobreposição da discussão racial e das teorias a ela ligadas, deixou-se de discutir a igualdade, abrindo-se espaço à reafirmação das diferenças.
            Apenas na década de 30 do século XX a miscigenação deixaria de ser a grande mácula da nação. Aspectos positivos seriam a ela atribuída quando então passaria a representar justamente a marca do brasileiro. O imaginário transformava-se lentamente, mas as marcas ressoariam profundamente em nossa maneira de pensar a cor. A naturalização da desigualdade não seria transplantada com facilidade. Uma estranha ideia de “democracia racial” foi entre nós estabelecida por mais que ainda hoje um homem seja beneficiado por conta da cor de sua pele.  O discurso de aceitação e harmonia ainda reverbera mesmo que no cotidiano diversos fatos demonstrem o inverso. O racista cordial não se expõe, mas, em ambientes não públicos, parece sempre pronto a aflorar suas concepções arraigadas. As piadas estão aí para nos demonstrar tal fato: deprecia-se a cor negra em tom jocoso, sarcástico. Recorramos à pesquisa dirigida por Lília Schwarcz: 99% dos entrevistados assumidamente não racistas – que representam o percentual de 98% do todo – disseram conhecer um racista.
            E se no início no período republicano tal problemática não fora discutida, ainda hoje parecemos preferir trilhar o mesmo caminho. No entanto, como justificaremos a desigualdade racial sem o antigo apoio da ciência? Se antropologia nos oferece material suficiente para descartarmos a existência de raças – já que constituímos a raça humana, una –, de que forma explicaremos o fato de um negro ainda constituir-se como um réu em potencial justamente por conta de sua cor? No que tange a marginalização, basta que visualizemos a quantidade de alunos negros inseridos no ensino superior, principalmente no público. Como brasileiros, parecemos conceber o importante legado de benfeitorias que a cultura de origem africana nos ofereceu como a culinária, a música, as danças, os rituais e expressões linguísticas. Contudo, precisamos de fato ir mais a fundo na discussão do mito em questão para que enxerguemos este racismo “jogado debaixo do tapete”; escondê-la ou mascará-la realmente não é a melhor e mais eficaz das opções. 

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Conceituações ideológicas de Igualdade e Diferença


Caio César Vioto de Andrade
Fabiano Segismundo
Marco Antônio Teodoro de Souza
Rafael dos Santos Andrade
Renan B. Ruiz
  
O artigo de Antônio Flávio Pierucci se caracteriza pela fala de um autor de esquerda dialogando com a esquerda. Procura desmistificar a ideia de diferença no Brasil contemporâneo; ao desvendar a ótica do diferente dentro da cultura brasileira, o autor mostra que o discurso de pluralidade acaba por se tornar uma armadilha quando esta se torna uma bandeira defendida pela Esquerda. Segundo Pierucci, sua proposta no artigo é debater “com todos aqueles que, sustentando posições de esquerda hoje no Brasil, procuram fazer da diferença uma boa causa pela qual lutar, uma boa idéia a ser defendida, difundida e ensinada”, trazendo reflexões à esquerda que englobou na sua militância a defesa de minorias ou grupos historicamente excluídos.
            Nesse texto, partindo de uma pesquisa em realizada entre 1986 e 1987, em bairros de classe média de São Paulo, além da pesquisa de Hans J. Eysenck na década de 1940, o autor identifica paradigmas do discurso conservador, mostrando as similaridades entre a sociedade brasileira da década de 1980 e a inglesa de quarenta anos anterior à data da publicação de seu artigo, mesmo com todas as diferenças entre as duas sociedades. Nessa perspectiva, Pierucci destaca que a diferença é uma bandeira do conservadorismo, que teria surgido com a Direita no fim do século XVIII, com a Revolução Francesa. A chamada Restauração, ao destacar as diferenças entre as pessoas, estava confrontando os ideais da Revolução representados pelos princípios da Igualdade, Liberdade e Fraternidade. Nesse contexto, a Direita manteve-se apregoando a defesa das antigas tradições hierarquizantes. De acordo com o autor, o discurso de diferença fundado pela ultra-direita na Revolução Francesa, com as mudanças históricas sofridas nas ultimas décadas, aparece hoje no discurso da Esquerda e confunde-se dentro de uma lógica de defesa dos direitos de movimentos sociais como o dos negros, índios, mulheres e homossexuais. No texto é enfatizado como a esquerda se apropriou do discurso da diferença, que é defendida historicamente pelo ultra-conservadorismo, que a considera natural entre os homens, seja com abordagem étnica (brancos superiores aos negros), de gênero (homens são melhores que as mulheres) ou mesmo econômica, visando uma idéia que uns são melhores e mais esforçados que outros.
            Pierucci destaca o trabalho de campo feito com pessoas direitistas “leigas”, não intelectualizadas, e mostra que o racismo como conceito de diferenciação, separação e definidor das condições sociais encontra força no senso comum, estruturalizado historicamente, mas delineado dentro de uma ideia meritocrática, como ele indica através de uma entrevista com uma aposentada. Tal discurso, longe de ser exceção, está enraizado mentalmente na cultura conservadora paulista – ou mesmo brasileira. A defesa do conceito de diferença, e aqui até mesmo do racismo, mostra a ótica paradigmática que conservadores possuem; são pragmáticos. Esse pragmatismo é simples, a diferença não é apenas natural, mas também responsável pelo delineamento e manutenção da ordem. É como se o negro, ou a mulher, por serem diferentes, ocupassem seu papel na ordem da diferença natural estabelecida. Não é por acaso que  Pierucci sinaliza com isso as construções de estereótipos, que são maneiras de realçar as diferenças defendidas pelo conservadorismo.
Nesse sentido, a defesa das diferenças pela Esquerda acaba por criar barreiras e distorções no seu próprio discurso. A esquerda, com o advento dos novos movimentos sociais, e também por sua própria reconfiguração, tenta reivindicar a defesa das diferenças e da pluralidade em seu bojo ideológico. Entretanto, o autor frisará as confusões conceituais que poderão gerar através dessa análise que acaba por se tornar instável teoricamente. O maior exemplo é o caso da SEARS, onde a Historiadora feminista Kessler-Harris acaba por entra em uma armadilha teórica ao ser testemunha contra a empresa em questão. A tentar usar o conceito de diferença e não de igualdade, acabou por deslegitimar sua defesa sobre a discriminação feminina, dando ganho de causa à SEARS – que diferenciava os cargos atribuídos aos homens e mulheres, apesar de ser a maior empregadora privada de mulheres nos EUA. Esse caso mostra como o discurso de diferença na direita é, além de consistente, coerente (o que não significa ser verdadeiro). Pierucci defende que, apesar de não ser correto negar totalmente a questão das diferenças, é assaz espinhoso tentar caminhar ou conciliar dois conceitos que historicamente tem origens ideológicas distintas. O caminho político mais simples para a esquerda será sempre a defesa da igualdade.
Outro perigo na tentativa de conciliar o binômio igualdade/diferença está na necessidade de uma análise profunda que leva a maior intelectualização, necessária para explicar como o respeito às diferenças não deve acarretar em aceitação das desigualdades, o que pode interferir na ação política militante, além da confusão conceitual que se possa causar. Exemplo dado é o caso de geneticistas não racistas; na busca por negar o “racismo biologizante acabam, volta e meia, prisioneiros do individualismo monádico e universalista”, isto é, acabam por se enveredar em uma armadilha conceitual engessada, fruto do binômio igualdade/diferença; por um conceito excluir o outro, consubstancia-se uma confusão.
A partir daí, a análise observa o ressurgimento do conservadorismo, representado por um discurso que defende o direito pleno das maiorias poderem impor sua hegemonia cultural contra a “miscigenação cultural”, em nome de se manter o “direito de diferenças”, sufocando o direito dos mais fracos.
Em suma, se para a direita a coerência das ideias conservadoras de diferenças são a conditio sine qua non das suas bandeiras reacionárias, da mesma forma a esquerda é herdeira dos ideais da Revolução Francesa como Liberté, Egalité, Fraternité, que no seu cerne, tem a igualdade como a raiz das outras duas bandeiras.

Bibliografia: PIERUCCI, Antônio Flávio. Ciladas da diferença. Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 2(2): 7-33, 2.sem. 1990.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Da Mestiçagem à Diversidade: a defesa da diferença em questão


Bruna Gomide de Oliveira
Francisco da Costa Gagliardi
João Vitor Cavassano Zampier
Juliane Aline dos Santos
Luiz Carlos da Silva


Os movimentos sociais de combate ao preconceitoseja contra os negros, mulheres ou homossexuais vem com o passar do tempo se multiplicando e ganhando cada vez mais adeptos. Temas como esses, mais especificamente o do preconceito racial, são extremamente delicados e necessitam de muito cuidado, principalmente por parte daqueles que tomam partido dessas causas. A fonte dos discursos de combate ao racismo precisa sempre ser bem conhecida para que não sejam cometidos equívocos que deslegitimem os movimentos.
Quando pensamos em movimentos sociais devemos nos ater ao direcionamento político desses grupos e como esse direcionamento implica em suas atitudes. Grupos de combate ao preconceito possuem uma posição de esquerda, em busca da igualdade e da diminuição das diferenças. No entanto, ao erguerem a bandeira da igualdade esses grupos acabam por enfatizar as diferenças, com a intenção de diagnosticar os problemas geradores do preconceito. O problema é que essa abordagem sobre o tema não faz parte da conduta dos militantes revolucionários da esquerda, e sim dos contrarrevolucionários de direita. Na origem da divisão política entre direita e esquerda, ocorrida no processo da Revolução Francesa nos fins do século XVIII, estavam bem claros os posicionamentos dos dois grupos: a esquerda revolucionaria lutava em prol da Igualdade, Fraternidade e Liberdade, enquantoa direita, contrarrevolucionaria, buscava enfatizar as diferenças se utilizando, por exemplo, de argumentos que remetiam as diferenças encontradas nanatureza, a inevitável disparidade na formação dos povos, nações, etnias e a inalcançável diferença que as vivencias desses distintos grupos gerava. Dessa forma, seria impossível igualar homens provindos de origens tão diferentes, inclusive quando se tratava dos direitos prescritos nas leis.
O enfoque das diferenças é então uma construção que faz parte da formação dos grupos de direita, conservadores e antiigualitarios. A partir do momento que a esquerda, aqui representa pelos movimentos de combate ao preconceito, se apropria dessa construção ela além de não combater o preconceito, já muito arraigado na população, ainda contribui para o aprofundamento do mesmo.
Ao expor as diferenças do racismo, os militantes de esquerda pretendemdiagnosticar os problemas que levam a ele. É uma conduta válida, porém perigosa. A exaltação da diferença de inicio não causa nenhum tipo de choque à direita conservadora, que já está acostumada a reconhecer tal afirmação. Também não causa efeito dentro de uma parcela menos intelectualizada da própria esquerda, pois não consegue explicar o objetivo de seu discurso. A esquerda então se apropria de uma argumentação colocando “diferença – versus- igualdade”, expondo assim as diferenças e buscando a igualdade. Outra abordagem é a utilização do conceito físico-químico do átomo, onde então todo indivíduo é diferente por que é único. Nesta composição, é necessário um nívelde entendimento um pouco maior por parte dos militantes para que estes compreendam a complexidade do que se busca, o que acaba exigindo a participação de indivíduos elitizados, fugindo novamente da proposta desses movimentos sociais.
Estes argumento então defendidos pela esquerda apresentam pontos falhos, uma vez que manobras como a desconstrução e retorção desses argumentos são utilizados pela direita contra a própria esquerda, esvaziando assim os objetivos do combate ao preconceito.
Tudo isso leva à uma situação onde tanto os argumentos de direita quanto de esquerda deixam de ser divisórios e passam a se misturar, se cruzar, onde a linha de pensamento que antes definia cada uma delas com diferenças nítidas passa agora a se confundir na própria argumentação, aumentando com isso as bases que mantêm vivo o racismo e o preconceito na sociedade, já que as bases de sua oposição não são claras e portanto não possuem força suficiente para combatê-lo.


Referência

PIERUCCI, Antônio Flávio. Ciladas da diferença. Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 2(2): 7-33, 2.sem. 1990.

Disponível no Link:

<http://www.fflch.usp.br/sociologia/temposocial/pdf/vol02n2/CILADAS.pdf> acesso em 19 novembro 2012.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

“O que o rei não viu”: música popular e nacionalidade no Rio de Janeiro da Primeira República


João Matheus Sampaio
Silas Rodrigues Machado

Em “O que o rei não viu: música popular e nacionalidade no Rio de Janeiro da Primeira República” Letícia Vidor de Souza Reis acompanha o processo de legitimação do samba durante as três primeiras décadas do século XX e sua construção enquanto identidade nacional. A autora busca compreender de que forma o samba, uma manifestação cultural popular e de origem negra, que foi equivocadamente entendida pela elite da época como um elemento externo, pode persistir e gradualmente se legitimar e se estabelecer como um símbolo nacional em meio a discursos Darwinistas sociais, progressistas e de urbanização.
Um dos pontos principais do Argumento de Souza é a crítica ao livro O mistério do samba de Hermano Viana que segundo a autora não se atenta ao debate cientifico racial da época onde a miscigenação era tradada como um sinal de degeneração. Souza busca na compreensão de Hobsbawm de que uma Tradição é inventada e leva um caráter político para se contrapor a tese de Viana de que o samba se estabelece e se legitima por meio de agentes que promoveram seu “intercambio” social.
Para exemplificar a cisão social provocada pela reforma Urbana sofrida pela cidade do Rio de Janeiro em princípios do século XX a autora recore ao relato de Olavo Bilac que ao presenciar um “carroção” na avenida principal rumo a festa da penha classificou o incidente como um “monstruoso anacronismo, a ressurreição da barbárie”.O relato nos mostra o ataque claro as tradições culturais negras. Apesar disto essas tradições estabelecem uma relação ambígua com as elites. Se no publico elas são combatidas, no privado são toleradas, apreciadas e seguidas.
Não são raros os casos de figuras políticas que se curaram de enfermidades em casas de “tias” baianas, de conjuntos de maxixe que tocavam em festas da alta sociedade e de cavalheiros de distinta posição social que frequentavam casas de samba.
Com isso a modernidade deixa escapar algumas brechas que possibilitam uma ascensão Social das classes populares. Souza procura entrever como através da musica alguns agentes dessas classes se utilizam dessas brechas e firmando alianças ampliam seu espaço social e político.
Um ponto importante que se deve esclarecer a fim de se evitar um equivoca na interpretação do artigo é o do significado da palavra samba que no texto se remete para além da concepção de gênero musical que fazemos hoje, abarcando em seu termo praticas religiosas, danças e diferentes ritmos musicais.
A autora também aponta a rivalidade entre os grupos de sambistas de um lado descendentes de nordestinos do outro os cariocas, em clássica disputa pela “verdadeira origem” do samba.
Um exemplo disso é a disputa autoral entre Donga e Sinhô da musica Pelo telefone, que serve também para nos mostrar uma lógica nova, a da autoria dos sambas, até então deixado de lado pelos sambistas com autorias desconhecidas ou até coletivas, lógica essa trazida pela recente formação de um mercado para uma cultura de massa, proporcionado principalmente pelo radio e pelas novas gravadoras que se surgiam.

Referência:

O samba e a formação de uma identidade mestiça no Brasil. Texto: REIS, Letícia Vitor de Sousa. “O que o rei não viu”: música popular e nacionalidade no Rio de Janeiro da Primeira República. Estudos Afro-Asiáticos; volume 25, número 2, 2003, p. 237-279.
Link:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-546X2003000200003

Samba


Rafael de Castro
Allan FilipeCarlos
Eduardo Pupin
Wender de Paula
Elisson Rossi

É consenso que o samba, nos dias atuais, é um dos maiores ícones da cultura nacional brasileira. No entanto, para tal reconhecimento foram necessários anos e um longo processo de incorporação e aceitação dos costumes e tradições negras à cultura brasileira. Não foi com o fim da escravidão que imediatamente tais valores foram inseridos à esfera pública do Brasil, mas sim com um duro e longo jogo de condenação e exaltação desses.
            Com a abolição da escravatura, as relações que se criaram dentro da esfera privada entre negros e brancos se manteve, mas não se expandiu à esfera pública. A incorporação do ex-escravo à esfera pública levou tempo, guiada por ideias de um Darwinismo social, que a aglutinação plena dos costumes africanos denegria a cultura nacional; mas, ao mesmo tempo em que havia essa condenação, alguns elementos tradicionais negros já se encontravam integrados a cultura popular negra. Um exemplo desta dificuldade na aceitação do negro na esfera pública é notada no processo de reurbanização do Rio de Janeiro.  Essa reforma acaba por criar duas cidades distintas: o Rio de Janeiro da nova norma urbanística (centro), e o Rio de Janeiro das malocas (periferias). Desse modo, muitas vezes esses dois Rio de Janeiro se confundiam; os negros andavam pelo centro da cidade, reurbanizado, já que existiam locais que eram componentes da cultura escrava, como por exemplo, as rodas de capoeira que aconteciam no centro da cidade. Tal presença negra nas regiões centrais causava desconforto em boa parte da população branca carioca.
            Sendo assim, duas visões conflitantes existiam sobre a cultura negra: uma que barbarizava e outra que exaltava. Para ilustrar essa dicotomia, a capoeira, ao mesmo tempo em que era proibida por lei, era exaltada como esporte nacional, fruto da mestiçagem brasileira. Dessa maneira, a transformação do samba de música negra a música da cultura nacional foi um processo de contato entre as esferas erudita e popular. O próprio samba era proibido oficialmente. O presidente Hermes da Fonseca, por exemplo, chegou a proibir qualquer banda marcial que tocasse melodias de samba; o mesmo, no entanto, ao mesmo tempo levava a sua casa sambistas e frequentava casas de samba. Algo que é importante ressaltar é que “samba” dizia muito mais respeito a um acontecimento do que a um gênero musical, sendo que no evento do “samba” eram executados maxixes, lunduns, entre outros ritmos. Outro exemplo é dos policiais, que tinham que vigiar o acontecimento de sambas, mas ao mesmo tempo eram de origem nas periferias, e cresceram no ambiente do samba.
            Há também os “oito batutas”, um grupo de sambistas que foram convidados a fazer uma turnê internacional na França, para demonstrar ao público europeu o maxixe brasileiro. Ao passo que para os estrangeiros aquela música representava uma característica interessante da cultura brasileira, para os nativos do Brasil era demonstração de involução do país, por serem oito negros tocando um ritmo de origem negra, e não representava com verossimilidade o real desenvolvimento da sociedade brasileira.
            Assim, o processo que tornou o samba símbolo nacional brasileiro não foi brando e rápido, mas sim conturbado, com várias contradições e conflitos. Foi resultado de um longo e tempestuoso jogo de concessões e críticas. 

Candomblé em Discussão


Munir Abboud Pompeo de Camargo
Lays Maria Lima Fernandes
Gustavo Garcia Toniato

Nesse post vamos tratar um pouco sobre o processo de formação do Candomblé e sua influência no processo de formação da cultura colonial, ou seja como o mesmo em seu processo de formação agregou elementos tanto a culturais aos senhores de escravo e aos próprios escravos.
A primeira coisa importante para a analisarmos a formação do Candomblé é conhecer algumas linhas teóricas que trabalham com a religião, Max Weber coloca que função da religião é dar um sentido à existência do sofrimento e algum meio para supera-lo ou transcende-lo enquanto Malinowski coloca que a religião é um meio para suportar pressões emocionais. Nota-se que as sociedades humanas são replicáveis, devido a isto é possível notar estruturas básicas que compartilhamos. Uma destas é a religião que explica o sofrimento humano, organizando a sociedade. A partir destas linhas de pensamento desenvolve-se em meados da década de 70 entre os estudiosos da África o “complexo fortuna-infortúnio” ou “ventura-desventura”, que analisa a religião como uma forma de prevenção do infortúnio e aumento da boa sorte.
Nota-se que os escravos trazidos para o Brasil vem de diversas partes da África Ocidental, e que cada um desses escravos trazia consigo uma religiosidade diferente, e é a partir da fusão dessas religiosidades que surgem os Candomblés e Calundu. Estas religiosidades tinham a característica de tentar trazer bons frutos para seus seguidores, isto ainda em vida. Em um primeiro momento nota-se a religião como uma forma de prevenção do infortúnio, esta religiosidade surge devido a uma necessidade de sobrevivência, algo para estes indivíduos se apegarem.
Quando os escravos das diversas regiões da África eram trazidos para o Brasil, os mesmos eram separados de acordo com o porto que saíram da África, e é nessa separação que surgem as nações do candomblé, sendo estas a primeira forma de se diferenciar os escravos das diversas origens, com cada nação tendo sua própria religiosidade e seus próprios rituais, sendo assim manter essas praticas uma forma de reafirmar sua própria identidade em um lugar totalmente desconhecido para os mesmos. Nota-se então que neste primeiro momento não havia uma instituição religiosa, tendo em vista que para se tornar uma instituição é necessário ter espaços sagrados, um corpo sacerdotal hierarquizado, coletividade de devotos, atividades de rituais periódicas, culto iniciático e oferendas,
 então, na realidade o que havia neste primeiro momento era uma religiosidade afro-brasileira, que carregava inclusive influências de religiões africanas periféricas, exemplos desta influência é a maior aceitação da mulher nos rituais, isto se dá por este reagrupamento de fragmentos religiosos.
É possível perceber que no início do processo de formação do candomblé, as Nações são totalmente ligadas a um componente étnico, e com o passar do tempo com a mistura dos escravos das diversas nações este passa a ter um sentido totalmente ligado ao Rito usado, e o membro da nação não seria mais por origem sanguínea e sim a partir da filiação do mesmo a determinada nação, e é nesse ponto quando as religiosidades africanas entram em um maior sincretismo que surge o Candomblé.
Em um segundo momento a religiosidade africana se institui, há uma consolidação da religião, devido principalmente à libertação dos escravos, possibilitando a estes o acesso a imóveis e a livre locomoção. Neste momento a religião se tornou uma forma de resistência cultural. Tendo em vista que havia mitos em torno dos lideres espirituais, como os que eram capazes de lançar maldições, feitiços e outros tipos de magia, era comum até a busca por estes lideres para realização de exorcismos de ditos demônios africanos.
 A religiosidade africana, tanto em seu primeiro quanto em seu segundo momento influenciou fortemente a religião católica, assim como a religião da colônia influenciou a religião afro-brasileira. Esta influencia torna-se bem clara nos oratórios afro-brasileiros do século XIX, onde havia uma forte presença de elementos católicos misturados com amuletos, patuás e outros objetos da religiosidade africana. Esta pratica era inclusive estimulada por alguns membros da igreja. Por outro lado ocorria também uma perseguição da religião africana por parte das autoridades, outras alas da igreja católica e setores da sociedade, fazendo com que os praticantes das religiões africanas criassem formas silenciosas de culto para que pudessem continuar manifestando sua cultura.

Parés, Luis Nicolau. 2007. A Formação do Candomblé. História e Ritual da Nação Jeje na Bahia. Campinas. Ed. Unicamp. 

O Candomblé no Brasil


Aline de Lourenço
Carolina Valli
Érica Pungi
Livia Cañas
Natália Finco

Dentre as religiões afro-brasileiras que estão presentes no Brasil, o Candomblé abrange um grande número de adeptos no país e sua origem se mostra muito mais complexa do que simplesmente uma religião “trazida” pelos escravos, pois o Candomblé é, acima de tudo, uma religião brasileira.
Sua formação passa pelo processo de adaptação dos escravos trazidos para o Brasil, no início da colonização, que inclui a busca por uma identidade em comum entre os escravizados, até a sua aparente adaptação ao catolicismo vigente no país.  
 No continente africano existia uma pluralidade muito grande no que se referia às fontes religiosas, devido a existência de tribos diferentes que possuíam credos diferenciados. De fato existia uma certa diretriz centralizadora, mas ainda assim cada tribo possuía particularidades religiosas. Por isso, ao serem trazidos para o Brasil, os africanos transportaram mais de uma religião para nosso país, que foi incorporada nesse processo de adaptação negra no Brasil. Se autodividindo em “nações” de caráter teológico, as religiões africanas foram transportadas para o nosso país de forma incompleta e desigual, fazendo com que, ao chegar desse lado do Atlântico, os escravos precisassem se reorganizar a fim de desenvolver um novo tipo de religião, baseado nos elementos que foram trazidos por eles, mas também incorporando novos aspectos que se apresentaram diante deles nessa nova realidade. O que se deve compreender é que esses inúmeros fatores religiosos e também políticos das religiões africanas foram modificando os aspectos da religiosidade dos negros escravizados e o contato iminente com a religião católica foi decisivo para a formação do candomblé como é conhecido atualmente.
Logo nos primeiros momentos que os africanos chegaram ao Brasil foram defrontados com os mandamentos do catolicismo, que no momento era a religião oficial brasileira, sendo oferecidos a eles na tentativa de humanizá-los, já que eram vistos como indivíduos inferiores. Diante dessa situação os africanos poderiam aderir ou não a essa religião, fazendo com que alguns se convertessem a ela e se tornassem tão devotos quanto os seus senhores brancos e outros incorporassem esses elementos católicos a essa religião afro-brasileira nascente. Essa incorporação poderia ocorrer, em alguns lugares, somente para camuflar o verdadeiro aspecto da religião africana - que desagradava seus senhores -,mas vivenciavam esse culto de forma completa, onde elementos católicos passaram a ser utilizados lado a lado com preceitos africanos devido a essa nova realidade que pedia uma utilização mais abrangente de novas instituições religiosas. Dessa forma é possível perceber que o catolicismo foi importante no que tange a aceitação da prática da religião afro-brasileira, quando as atividades e expressões dessa religiosidade se tornaram públicas.
Desse modo, o Candomblé é uma religião que se formou com o sincretismo de várias religiões africanas – resquícios de cultos diversos remanescentes dos vários povos africanos que eram trazidos para o Brasil -, e com as práticas católicas ao qual foram apresentados, culminando em uma religião que unia muitas culturas diferentes, com sua própria base espiritual e dando início as religiões afro-brasileiras.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

“Batuque Negro: repressão e permissão na Bahia oitocentista” (II).


 Jennifer Mariano
 Lucimar Ranuzzi
 Nathan Lima
 Priscila Marques
 Rafael H. Silva

O autor discute batuques de negros, baseando-se em relatos, jornais, do final do século XVII e meados do século XIX, onde busca perceber transformações e continuidades quanto ao perfil dos participantes e atitudes de senhores e autoridades políticas e policiais diante da festa negra na Bahia. A grande questão era: a quem serve a festa?
As festas seriam sempre uma forma de discussão sobre qual seria a sua representação e o seu papel na sociedade. Para muitos, essas festas eram um meio de expressão da resistência escrava e negra no Brasil e outros entendiam que essas festas eram a preparação para as revoltas, mas havia pessoas que entendia como meio de controle social dos escravos, mas também eram vistas como uma maneira de demonstração da forma de liberdade dos africanos.
REIS aborda três exemplos distintos para ilustrar o quadro. O primeiro é uma festa ocorrida no ano de 1808 em Santo Amaro, nas oitavas de Natal, onde é observado a perspectiva da divisão étnica, onde os negros se reuniam conforme a sua origem, embora essa divisão não fosse completa. Neste ponto, é destacado pelo autor que, toda a comida e bebida e até as vestimentas eram pagas pelos próprios negros, mostrando que era possível a composição de pequenas plantações de subsistência e outros trabalhos que permitiam a remuneração. Outra abordagem é que os próprios senhores liberavam os escravos para participarem dos batuques, sendo que alguns desses senhores até assistiam àquelas comemorações. É destacado também a preocupação de alguns senhores e autoridades em relação à festa acontecer até a noite, porque para eles, os negros, dessa maneira, ficariam cansados para o trabalho do outro dia, e além disso, à noite eram o momento onde os demônios estavam a passear e onde os negros revoltosos circulavam com maior liberdade, gerando sempre o medo.
Outro momento analisado por REIS, é após a independência, onde os governos locais empregam grandes esforços para controlar melhor a população escrava, e tomam medidas que refletiam temores com a rebeldia escrava e com a disseminação dos costumes africanos, até porque nesse momento, os negros representavam a maior parte da composição demográfica de Salvador.
Já em meados do século XIX, muda-se a percepção em relação às festas e aumenta o temos em torno dessas reuniões, principalmente após a revolução dos malês. O batuque chega a ser confundido como um atentado a escravidão, mas ainda existiam senhores que permitiam as festas. A imprensa local criticava fortemente essas batucadas reforçando o medo com a festa negra. Para muitos a festa africana representava uma ameaça ao projeto de uma Bahia civilizada. Mas só a partir de 1850, após o final do tráfico transatlântico que aumento a esperança de diminuir a chegada de negros na Bahia e assim acabar com os batuques. A partir dessa década, os batuques ocorreriam somente nas festas religiosas e a festa do Bonfim era a preferida da população e em especial pelos negros. Mas em 1855, os negros foram proibidos de participarem dessas festas e essa discussão a respeito da participação dos negros tomou maiores proporções chegando a ser discutida na Assembléia Provincial. Com isso, pode-se dividir as festas dos batuques em duas perspectivas, aqueles que viam nela uma forma de ensaio para as revoltas, a repulsa moral e religiosa, que depois se transformaria em medo após as revoltas dos malês e a concentração de um maior número de escravos de mesma origem, especialmente os nagôs, e passa a ser novamente a preocupação com a resistência cotidiana, em especial a fuga temporária e a vagabundagem, que poderia ser favorecida pelas festas, com esse processo sendo encabeçado por autoridades conservadoras e o Correio Mercantil.
O principal discurso gerado entre essas disputas, foi o medo. Porém as raízes africanas permaneceram até os dias de hoje.

REIS, João José. Batuque Negro: repressão e permissão na Bahia oitocentista. In: JANCSÓ, István & KANTOR, Iris. Festa: cultura e sociabilidade na América Portuguesa. São Paulo: Edusp, 2001, p. 339-358.

"Batuque Negro: Repressão e permissão na Bahia oitocentista"


Anája Souza Santos
Pedro Henrique
Juscimara Honorato
Vinícius Alencar
Vitor T. Hortelan.

Durante a primeira metade do século XIX os batuques preenchiam o recôncavo baiano com o som dos atabaques. Dentre todos os festejos dos quais os negros (escravos ou libertos) participavam, o batuque era a festa que reproduzia mais fielmente as experiências dos negros na África, talvez por isso  tenha se constituído num dos principais alicerces para a fundação de uma identidade negra e escrava na Bahia.
Sendo um elemento tão importante para a comunidade negra, que representava grande parte da população do recôncavo baiano, o batuque era preocupação constante dos governantes, que além de serem autoridades políticas eram também senhores de escravos, ou seja, o que estava em jogo para esses homens não era apenas a manutenção da ordem, mas também do escravo enquanto propriedade.
As autoridades baianas trataram o batuque a partir de duas perspectivas fundamentais. Uma delas encarava esse tipo de festejo como uma válvula de escape para os escravos. As festas representavam um momento em que os negros podiam esquecer da miserabilidade de suas vidas, além de ser um momento em que os escravos poderiam ter liberdade para expressarem suas diferenças, ou  seja, durante o batuque as diferentes nações africanas podiam ressaltar suas especificidades étnicas e culturais, o que não ocorria no dia a dia dos escravos. Outra perspectiva via nos festejos mencionados uma ameaça para a sociedade escravocrata, pois neles os escravos poderiam sociabilizar e tramar revoltas. Sendo assim, as festas deveriam ser reprimidas.
A revolta dos malês em 1835 só fez aumentar o pavor dos brancos em relação ao batuque. A partir de tal sublevação o pânico instalou-se no recôncavo e qualquer espécie de sociabilização de escravos ou negros libertos era vista como suposto gérmen de revolta. Talvez a imprensa da época tenha colaborado para a proliferação deste medo exacerbado, uma vez que muitas matérias jornalísticas tratavam de caracterizar os festejos em questão como bárbaros e ameaçadores, tanto para a ordem pública quanto para a moral e os bons costumes católicos.
Deste modo, podemos perceber que o temor das autoridades do recôncavo em relação aos batuques não se dava somente no que tange à ameaça da revolta abrupta e violenta, mas também em relação a incorporação de elementos da cultura negra pelos brancos, que passavam por sua vez, a frequentar os batuques. Num momento em que a cultura europeia era tida como um modelo a ser seguido, as autoridades temiam a “africanização” do recôncavo.
Uma coisa é certa: os batuques representavam ameaça para as autoridades brancas. Tanto aqueles que viam nele uma válvula de escape, quanto os que o percebiam como bárbara ameaça, buscavam minar qualquer forma de resistência por parte da comunidade negra. Todavia, as tentativas de reprimir os batuques, ou de torná-los meros brinquedos que corroborassem com a manutenção da sociedade escravocrata mostraram-se vãos, pois a proibição das festas provocava revolta, uma vez que os negros viam-na com direito constituído; e sua liberação também não era garantia de “paz na senzala”, pois como demonstrou a revolta dos malês, festa e revolta andavam de mãos dadas. Sendo assim, as festas mantiveram-se ao longo desse período como uma forma dos negros resistirem à escravidão, no sentido de manterem uma identidade própria, sem incorporar passivamente a cultura branca e católica. Os batuques foram responsáveis também, pela incorporação de elementos culturais de matriz africana por parte da sociedade baiana, que acabou “africanizando-se” mais do que foi “europeizada”. 

Qual é o papel social destas festas de Rei do Congo?


Pedro Contatto
Tarcísio de Carvalho Sousa
Victor Harabura

Festas no Brasil colonial: a quem serve a festa? Ela é um instrumento de dominação? Ou um instrumento de revolta? Ao analisarmos em sala de aula os dois textos: Quem é o rei do Congo? Um olhar sobre os reis africanos e afro-brasileiros no Brasil da professora Elizabeth W. Kiddy; e texto de João José dos Reis, Batuque Negro: representação e permissão na Bahia oitocentista. Percebemos que os estudiosos ao estudar e analisar os documentos e o contexto das festas, hora acreditam que os batuques e as coroações tem a conotação de preparação para a revolta (o rei do congo tem potencial político, festas servem para trocar informações e combinar revoltas) ou a festa é um mecanismo de controle social: escravo que se diverte é escravo que não se rebela. Festas – antessala da revolta ou controle social.
Discurso de interpretação das festas por meio da incitação do medo. Se eram ou não preparações para as revoltas, há o medo da iminência das mesmas, ainda mais medo que as revoltas propriamente ditas. Na medida em que as autoridades atacavam as festas, cada vez mais elas se tornavam espaços de encontro de diversas camadas sociais (não mais restritas a negros e escravos).
O apelo popular ultrapassava a vontade das autoridades de acabar com as festas do rei do congo, já havia se formado uma tradição entre as pessoas (exemplo Rio de Janeiro e Minas Gerais).
Há a percepção (texto da Elizabeth Kidd na análise do Rei do Congo) de que o Rei do Congo não é apenas uma figura teatral, mas tem também certo poder de influência política. Não eram festas que ocorriam de maneira clandestina, embora houvesse a interpretação que elas poderiam acontecer a fim de arquitetar uma revolta.
Havia a penalização do próprio Senhor, se caso fosse notado um princípio de agitação ou revolta. Ou seja, o Senhor era responsável pelo comportamento dos escravos e o andamento das festas, o que consiste em mais uma evidência de que as festas eram de fato, consideradas “legitimas”. Já que as autoridades não permitiriam que as festas acontecessem se elas apresentassem de fato algum tipo de perigo.
Segundo Elizabeth Kidd as festas do Rei do Congo não foram espaços de aculturação, pois elas eram a representação da conversão do rei do Congo, que ocorreu na África no século XV, simbolizando a vitória do cristianismo sobre o paganismo, que os negros aceitaram a cultura europeia. Para Kidd as festas eram espaços de manifestação da cultura centro-africana e os reis do Congo possuíam papel social. Porém, segundo João José Reis, a ideia de uma revolta foi sempre algo superestimado.
Nas duas interpretações da festa (proibi-las ou liberá-las) é inferido que a revolta poderia acontecer, com isso as festas sempre tinham a conotação de medo, por parte das autoridades, das revoltas, o que muda é a abordagem de como lidar com elas. Porém, o que é sabido, é que as festas contribuíram para a formação de uma cultura afro-brasileira.
Rainha Nzinga na festa da coroação do rei do Congo: representa mais uma autoridade africana cuja história sugere a resistência e a conversão forçada ao cristianismo. A presença da rainha é uma “metáfora” da resistência da incorporação da cultura branca (Elizabeth Kidd).
Festa do Rei do Congo: representação da realidade de escravidão na África. A celebração não remonta somente ao processo de cristianização, mas mostra também o histórico de escravidão na África e a tentativa de se retornar à cultura negra sem a influência cristã e branca.

Os Reis do Congo

Antônio Montenegro Fernandes
José Paulo Corrêa
Leonardo Stockler
Marina Pontin

    A simbologia da festa e do ritual estabelecem vínculos duradouros entre o cotidiano vivido pelos negros no Brasil e as estruturas políticas africanas. Esses signos articulam os indivíduos ao redor de uma cultura compartilhada garantindo a eles noções de comunidade e identidade. Essa “ontologia” depende, portanto, da linguagem na qual se expressam determinados signos, tais como os reis e rainhas (elementos de uma certa ordem social passada) representados em suas festas: congada, maracatu, quilombo etc. Trata-se de um ritual de memória e de construção da memória.
    A tese de Elizabeth W. Kiddy contrapõe-se à historiografia tradicional que procurara tratar das culturas afro-americanas como sendo mais ou menos puras. Ao passo que a cultura centro-africana no século XVII já se “combinara significativamente” com a européia, na América e no Brasil haverá uma mistura da mistura reafirmando a dinâmica dos traços culturais africanos importantes em uma tradição de adaptação. É a sua tradução cultural que a mantém viva.
    A cultura afro-brasileira, neste sentido, enraíza-se na cultura centro-africana ao longo da transformação da coroação dos reis negros nas festividades para a coroação dos reis do Congo, ajudando-os a “reconstruírem e recriarem uma cultura política e religiosa derivada da África”. A figura dos reis será comum nas colônias euro-americanas e sua função desempenhada será fundamental para a cultura e para a cosmovisão dos afro-americanos posicionando-se enquanto um poder político e econômico.
    O  catolicismo foi muito compatível com as intenções ritualísticas afro-brasileiras, garantindo, de certa forma, espaço para que florescessem. A coroação dos reis do Congo dependeria, assim como as festividades do candomblé, do espaço garantido pelas irmandades religiosas, tais como a Irmandade do Rosário, responsável pela agremiação de diferentes etnias negras, produzindo uma composição étnica bastante heterogênea.
    Com o aumento da população de negros as autoridades regionais começaram a se preocupar com as nomeações. Certos reis que haviam sido nomeados, de fato reivindicaram para si o posto de líderes comunitários e efetivaram ações contra o sistema de escravidão e contra a ordem estabelecida. Nos quilombos os reis também haviam sido nomeados. O medo de que tais nomeações causassem uma fratura na coesão social fez com que em alguns lugares elas fossem proibidas. Contudo, sua prática não cessou de fato e perdura até hoje.
    Com o tempo o termo “rei do Congo” tornou-se comum e passou a se referir a negros de diferentes etnias, que não provinham necessariamente do Congo. Durante toda a existência das festas, os rituais contaram com elementos brasileiros e africanos, cristãos e pagãos, exemplo da síntese cultural e sincretismo religioso. 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Nascimento das Culturas Afro-americanas


Abner Neemias Cruz
Diego de Freitas Úngari
Kátia Lima de Oliveira
Luis Gustavo Terra Telles
Michel Willians Araujo Yamamoto

Por muitas vezes, costumamos acreditar que grande parte de nossa cultura constituiu-se sob a influência do colonizador branco europeu. Tal percepção deve-se, pois, acreditarmos que os aspectos culturais fundamentais de nossa nação, como nossa língua, nossas tradições e nossos valores, constituídos predominantemente sobre a influência do catolicismo romano, não tiveram qualquer interpenetração relevante de aspectos culturais advindos dos indígenas e dos negros.
Com isso, acabamos por acreditar que alguns traços culturais, em muitos casos, associados ao campo do exótico e das curiosidades, vieram apenas das heranças deixadas por índios e, aqui merecendo maior destaque, pelos escravos, além de ficarem restritos aos substratos sociais mais baixos e tidos por "menos cultos". Na verdade isto não se efetivava, pois acabou havendo uma hibridização com a criação de uma cultura crioula desse modo, o samba, o funk e o próprio rock n’ roll, no caso da música; o candomblé e a umbanda, no campo religioso; o vatapá, o acarajé e outros tantos quitutes, acabaram por constituir uma cultura afro-americana no Novo Mundo.
Contudo, o colonizador europeu tenha conseguido criar nas suas colônias americanas sistemas legais, econômicos e instituições religiosas a seus moldes, estes não foram constituídos de forma integral, pois nenhum grupo é capaz de transferir de um lugar para o outro, de maneira intacta, seu estilo de vida, seus valores e suas crenças, pois as próprias características do lugar que recepciona essa cultura alienígena, restringe a intensidade pela qual esta é absorvida.
Soma-se, ainda, que com o povoamento, o crescimento e a consolidação das colônias americanas, onde a cada dia aportavam mais e mais escravos num fluxo ininterrupto por mais de três séculos, resultaram na criação de sociedades profundamente divididas tanto culturalmente como fisicamente. Apesar dos maus tratos e outros elementos coercitivos utilizados pelos senhores para submeter os cativos, estes não podiam ser utilizados a esmo, visto que os escravos possuíam consciência da dependência dos senhores em relação a eles. Castigos físicos e separação de familiares podiam engendrar inúmeras reações, que variavam desde a doença fingida à fuga, o que afetaria diretamente os lucros.
Seria um erro, então, supor que nunca houvera choques culturais entre o elemento branco e o negro e que estes formaram juntos uma cultura crioula nas Américas, embora estes contatos não estivessem nos planos dos senhores, pois tais contatos poderiam colocar em xeque a estabilidade do sistema escravagista.
Ao chegarem a América, negros, vindos de várias regiões da África, só tinham contatos com outros escravos, em mesma condição que ele nas senzalas dos senhores ou em espaços comuns frequentados por eles, muitas vezes, com línguas e culturas diferentes da sua. Outra interação possível ao cativo estava com seu próprio senhor. Com isso, os escravos tiveram que constituir novas comunidades de sentido, com normas e língua própria, que lhes proporcionassem se comunicar e se relacionar, dando origem a uma nova cultura híbrida.
Do contato com o homem branco, diverso elementos culturais surgiram, advindos tanto pela delegação de obrigações no trabalho nas fazendas de açúcar e café; quanto pelas relações domésticas com os escravos da casa-grande; do inevitável contato sexual entre libertos e cativos; e até mesmo pelas relações surgidas pelos contatos comerciais ou em ocasiões festivas.
É de se convir que nas sociedades americanas, composta por uma minoria de europeus que controlavam uma grande maioria de africanos, que as normas que regulavam o contato entre esses dois grupos tenham sido os primeiros a serem criados e normatizados.

Escravidão: uma perspectiva antropológica


                     João Paulo Bettini Bonadio
Sérgio Daidone Filho
Eduardo Lobo Lopes


   Pretendemos neste texto, de maneira simples, acessível e direta, falar da instalação inicial dos africanos em contraste com a dos europeus no Novo Mundo analisando o contato dessas culturas. Nossa intenção é valorizar a maneira dinâmica e abrangente como ocorreu tal encontro. Assim, evitamos a simplicidade da ideia de que as duas culturas estiveram sempre separadas como, comumente, nos é mostrado.
   Primeiramente notamos que o povoamento dos colonos europeus e africanos se deu de maneira distinta: enquanto os europeus compartilhavam uma cultura, por assim dizer e apesar das diferenças e dos regionalismos, os africanos foram retirados de variadas partes do continente, de numerosos grupos linguísticos e étnicos e diferentes sociedades. Admitindo que nenhuma cultura consegue transpor um espaço ou um tempo sem se modificar notamos que no Novo Mundo não chegou uma cultura africana homogênea, mas sim uma multidão de africanos que apenas compartilhavam alguma forma elementar de comportamento, um conjunto de valores, algum tipo de percepção de mundo e dialetos variados, mas com uma origem comum que lhes tornava entendíveis uns aos outros. O que eles compartilhavam, de fato, era sua escravidão e, a princípio, só surgiu uma comunidade africana na medida em que essa comunidade foi se criando e sendo criada nos processos de mudança cultural, desenvolvendo suas instituições dentro das condições limitantes que a escravidão lhe impunha.
  O monopólio policial e militar pertencia aos europeus, mas isso, apesar de dar alguma configuração ao desenvolvimento da cultura africana nas colônias, assim como outros fatores que serão comentados a seguir, não o impediu de ocorrer. A diferença cultural também se mostra, nesse caso, um reforço nas diferenças de poder, aumentando o abismo entre o escravo e o senhor (já que qualquer tipo de cruzamento de fronteiras podia desgastar os princípios coercitivos em que se baseava toda a empreitada colonial), mas isso também não evitava que a cultura europeia pudesse manter-se intacta. O senhor era um dependente e não podia, apesar de seu poder, agir deliberadamente, pois ele tinha necessidades de atingir certos resultados produtivos e ainda lidava com pessoas que reagiriam as suas ações, o ideal institucional, dos senhores europeus, de que dois grupos, num mesmo espaço, pudessem se desenvolver livres de contato e trocas culturais se mostra uma utopia. Os escravos eram legalmente definidos como bens, isso racionalizava o sistema, mesmo, sendo eles humanos mas na prática os senhores percebiam esse fato, embora não pudessem admiti-lo. Os escravos não eram somente a mão-de-obra pesada dos canaviais, mas os cozinheiros, artesãos, cocheiros, mecânicos, carpinteiros e até atuavam como educadores; a economia das fazendas era célebre por essa dependência e variedade de escravos, assim como pela indolência da classe senhorial; essas tarefas que exigiam um alto grau de contato e uma interação social frequente, além dos casos de contato sexual, principalmente de mulheres brancas com escravos gerando filhos mestiços, num exemplo bastante claro, mostravam o quão próximo as duas culturas estavam realmente e ofereciam situações constantes de um contato e de uma socialização não previstos na normas ideais da instituição escravocrata.
   Essa foi a contradição central da escravidão no Novo Mundo que se mostrava em cada encontro entre os escravizados e os livres que formavam essa nova cultura, que ia se modelando e construindo, a cultura americana.                 

terça-feira, 2 de outubro de 2012

As Transformações da Cultura Africana no Mundo Atlântico


Carolina Defensor
Monique Mendes
Silvia Rubini

As culturas, em geral, estão em constante processo de transformação. Isso se dá tanto na esfera interna, um movimento interno de realocação, por exemplo, diante de uma nova estrutura, quanto na esfera externa, principalmente no contato com outra cultura. Nesse sentido, a cultura africana, em contato com culturas exógenas, esteve exposta a uma série de transformações. Primeiramente, o comércio africano de escravos, situado na costa oeste africana, no Atlântico, gerou um encontro entre africanos de povos diversos com europeus cristãos. Essa disposição cultural admite uma interação, mesmo meramente comercial, entre as culturas envolvidas e uma tendência de elaborar sempre um meio de tornar claro ao outro, pensando em termos comerciais, seus interesses e objetivos. Como diversas etnias se sociabilizavam, era comum o desenvolvimento de uma língua franca, ou seja, de uma língua que atendesse a intenção de contato e relação comercial. Em geral, essa língua era originária dos povos europeus, porém, sofria adaptações gramaticais – utilização do verbo no infinitivo, por exemplo – que melhor fizessem sentido para a etnia africana contraposta. Os vocábulos eram instituídos, mas o modo de passar a informação era mais maleável. O que importava era a inteligibilidade da informação, era estabelecer com o outro uma comunicação mínima e simples.
E na América? Como se dá a interação cultural entre africanos e euro-americanos? Outras circunstâncias envolvem este encontro. Pensemos que não é necessário negociar, pois aqueles que são levados à América já estão condicionados à escravidão. Um elemento importante na transformação da cultura africana no atlântico americano é a estrutura político-social já estabelecida, que, consequentemente, gerou uma reorganização interna dos grupos escravos. Outro aspecto que precisamos considerar é o universo relacional muito amplo, ou seja, a interação cultural dada na América admite tanto etnias europeias, quanto etnias africanas. Muitas vezes o encontro entre diferentes culturas africanas não se dava de forma tão intensa na África quanto se deu no continente americano.
Apesar de pontuadas algumas características que configuram o encontro do africano com o outro americano, não podemos esquecer que as manifestações culturais africanas na América se davam em condições bem distintas daquelas disponíveis no continente africano. Os instrumentos musicais, por exemplo, tiveram que ser adaptados. Não se importavam escravos e objetos artísticos. A mão-de-obra escrava comercializada era selecionada com base nas capacidades excepcionais dos africanos escravizados. Assim, muitos artistas nem chegaram a sair do continente pátrio devido às suas habilidades. Portanto, as manifestações culturais, principalmente voltadas à música, adaptavam-se a novos materiais, a novas diferenças sonoras...
Isso se dá também com as manifestações plásticas. Cerâmicas, ornamentos, todos os aspectos que envolvem esteticamente uma etnia foram transformados pela adesão de novos métodos de manuseio e de novos materiais não disponíveis na África. Esse aspecto cultural, de manifestar musicalmente ritmos africanos em materiais americanos, atrai do outro um interesse apreciador. Porque, diferentemente da língua, que exige um acordo entre as partes para, assim, gerar um mecanismo fixo para agilizar e efetivar o entendimento, os elementos estéticos não exigiam um acordo para serem apreciados. Em outras palavras, era possível simplesmente apreciar a música africana, a dança africana...
Mas o que seria cultura afro-americana? Somadas as distinções das etnias africanas na América, aparentemente, podemos pensar num possível afastamento interativo entre elas. No entanto, a interação entre etnias distintas se deu arbitrariamente, limitadas pela escravidão. Daí nasce a necessidade de construção de uma cultura compartilhada. A cultura afro-americana nasce para resistir às normas sociais euro-americanas. A ela – à cultura afro-americana – coube um avanço compartilhado, tornando-a, portanto, muito mais homogênea na América do que nos embates étnicos na África.

Referência:

THORTON, John. “As transformações da cultura africana no mundo atlântico”. In: A África e os Africanos na formação do mundo Atlântico (1400-1800). Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

Sem Título II


João Jorge de Martini Moraes
Débora Garrido Lima
Marcos Stamillo C. Lopes

A análise a seguir trata-se do texto “As transformações da cultura africana no mundo atlântico”, do livro “A África e os Africanos na Formação do Mundo Atlântico – 1400 – 1800” de autoria de John Thornton. A principal idéia do texto é tratar a respeito das transformações das culturas africanas na transposição de escravos para as Américas. Primeiramente, o autor define o que é cultura em uma explicação sintética, onde esta seria um modo de viver de uma sociedade. Esse modo de vida seria composto de vários elementos desta sociedade, como: parentescos (estruturas familiares), arte, linguagem, religião, formações políticas. Ainda a respeito desses elementos, o autor propõe que não são estáticos, ou seja, são vítimas de determinadas transformações.
As mudanças as quais estão suscetíveis esses elementos se dão de duas formas: modificações internas (em razão de forças políticas, mudanças ambientais, crescimento populacional, modismos, questionamentos intelectuais, etc.), e modificações externas, ou interações com novas culturas (através do comércio, da política ou de alianças). Nesse sentido o autor aponta, tratando do caso específico da cultura africana no Novo Mundo, que essas mudanças tiveram três principais influências: em primeiro lugar, o ambiente na América que era tão diferente da vida social, ecológica e política na África, o que acabou alterando a cultura africana de certa maneira; segundo que os africanos na América tinham um contato com um maior número de indivíduos de outras tribos (ou nações) africanas; e por fim devido à interação com a cultura europeia.
Tratando da questão das mudanças nos traços que compõe a cultura, o autor releva que alguns sofrem menos transformações ou demoram mais tempo para se transformarem (o caso da linguagem, que seria o elemento mais estável de uma cultura); outros se transformam mais rapidamente (como as estruturas familiares ou de parentesco) e alguns são intermediários (como os elementos estéticos – arte, dança, culinária).
Segundo Thornton, a estabilidade da linguagem deve-se a sua função de transmitir pensamentos ou mensagens através de sons arbitrários. Assim, para que haja uma comunicação, é necessário certa rigidez na estrutura da língua, na medida em que se não houvesse restrições a mudanças, a linguagem deixaria de ser única e se fragmentaria impossibilitando a comunicação. Porém, no caso dos africanos, o contato com povos europeus dentro do continente africano, vai fazer com que a linguagem sofra variações, tento que se adaptar, para que houvesse entre eles, o mínimo de comunicação possível. Em um primeiro momento, essa ‘terceira língua’ formada (tanto entre os africanos de diferentes tribos, e estes com os europeus) é chamada de Pidgins – que trata-se de uma estrutura lingüística bastante simples pela não existência de verbos -, e em um segundo momento, essas línguas vão se adequando a um estrutura gramatical e passa a ser chamadas de Línguas Crioulas. Em outras palavras, embora a linguagem seja a mais estática dentre os elementos, a que sofre um processo mais lento, é também a mais frágil no processo de migração, ou seja, na transposição para o outro continente, portanto, quando as línguas não se assemelham, tanto em gramática, tanto em vocábulo, a consequência é a formação de uma terceira, as línguas Crioulas.
Vale destacar no texto, as formas de preservação das línguas africanas e ao mesmo tempo uma forma de resistência presentes nos cantos e nas canções, onde os escravos podiam cantar na sua língua africana materna, mesmo que não soubessem o significado da letra, o que não exigia aprendizado, assim seria a sua sobrevivência, onde até hoje é encontrada, tanto no Brasil, como no Caribe, por exemplo, por meio de músicas e temas religiosos.
O próximo tópico seria os laços de sangue, onde o autor fala que se prender apenas nisso é se limitar no tema, porque dentro da África existiam muitas formas de parentesco, que vai além da consangüinidade apenas. Ele cita as unidades corporativas, organizações de cunho político e religiosos. Assim, quando os negros chegam as Américas, essas organizações davam uma base as estruturas sociais, que mesmo de forma modificada, dava uma sustentabilidade fora do continente africano.
O terceiro ponto é a estética, que ao contrário da linguagem, não é um elemento tão estável, mas que, porém, foram os que mais resistiram na passagem pelo Atlântico (os exemplos maiores desses elementos são a música e a dança). O contato com outras culturas possibilitou misturas estéticas, onde estas não são tão rígidas como as línguas, podendo incorporar novas características, personalidades e elementos, havendo uma maior flexibilidade, ocorrendo um processo de troca entre os diferentes povos citados.
Em resumo do que se traz o texto, é de como houve a criação de uma nova cultura africana devido a flexibilidade e adaptação frente ao novo, e, embora a condição de escravos limitassem a expressão dessa cultura, houve uma certa resistência no sentido de criar uma nova identidade para os grupos de africanos e sobreviver a uma imposição da cultura europeia.