segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Nascimento das Culturas Afro-americanas


Abner Neemias Cruz
Diego de Freitas Úngari
Kátia Lima de Oliveira
Luis Gustavo Terra Telles
Michel Willians Araujo Yamamoto

Por muitas vezes, costumamos acreditar que grande parte de nossa cultura constituiu-se sob a influência do colonizador branco europeu. Tal percepção deve-se, pois, acreditarmos que os aspectos culturais fundamentais de nossa nação, como nossa língua, nossas tradições e nossos valores, constituídos predominantemente sobre a influência do catolicismo romano, não tiveram qualquer interpenetração relevante de aspectos culturais advindos dos indígenas e dos negros.
Com isso, acabamos por acreditar que alguns traços culturais, em muitos casos, associados ao campo do exótico e das curiosidades, vieram apenas das heranças deixadas por índios e, aqui merecendo maior destaque, pelos escravos, além de ficarem restritos aos substratos sociais mais baixos e tidos por "menos cultos". Na verdade isto não se efetivava, pois acabou havendo uma hibridização com a criação de uma cultura crioula desse modo, o samba, o funk e o próprio rock n’ roll, no caso da música; o candomblé e a umbanda, no campo religioso; o vatapá, o acarajé e outros tantos quitutes, acabaram por constituir uma cultura afro-americana no Novo Mundo.
Contudo, o colonizador europeu tenha conseguido criar nas suas colônias americanas sistemas legais, econômicos e instituições religiosas a seus moldes, estes não foram constituídos de forma integral, pois nenhum grupo é capaz de transferir de um lugar para o outro, de maneira intacta, seu estilo de vida, seus valores e suas crenças, pois as próprias características do lugar que recepciona essa cultura alienígena, restringe a intensidade pela qual esta é absorvida.
Soma-se, ainda, que com o povoamento, o crescimento e a consolidação das colônias americanas, onde a cada dia aportavam mais e mais escravos num fluxo ininterrupto por mais de três séculos, resultaram na criação de sociedades profundamente divididas tanto culturalmente como fisicamente. Apesar dos maus tratos e outros elementos coercitivos utilizados pelos senhores para submeter os cativos, estes não podiam ser utilizados a esmo, visto que os escravos possuíam consciência da dependência dos senhores em relação a eles. Castigos físicos e separação de familiares podiam engendrar inúmeras reações, que variavam desde a doença fingida à fuga, o que afetaria diretamente os lucros.
Seria um erro, então, supor que nunca houvera choques culturais entre o elemento branco e o negro e que estes formaram juntos uma cultura crioula nas Américas, embora estes contatos não estivessem nos planos dos senhores, pois tais contatos poderiam colocar em xeque a estabilidade do sistema escravagista.
Ao chegarem a América, negros, vindos de várias regiões da África, só tinham contatos com outros escravos, em mesma condição que ele nas senzalas dos senhores ou em espaços comuns frequentados por eles, muitas vezes, com línguas e culturas diferentes da sua. Outra interação possível ao cativo estava com seu próprio senhor. Com isso, os escravos tiveram que constituir novas comunidades de sentido, com normas e língua própria, que lhes proporcionassem se comunicar e se relacionar, dando origem a uma nova cultura híbrida.
Do contato com o homem branco, diverso elementos culturais surgiram, advindos tanto pela delegação de obrigações no trabalho nas fazendas de açúcar e café; quanto pelas relações domésticas com os escravos da casa-grande; do inevitável contato sexual entre libertos e cativos; e até mesmo pelas relações surgidas pelos contatos comerciais ou em ocasiões festivas.
É de se convir que nas sociedades americanas, composta por uma minoria de europeus que controlavam uma grande maioria de africanos, que as normas que regulavam o contato entre esses dois grupos tenham sido os primeiros a serem criados e normatizados.

18 comentários:

  1. Pensando a questão das instituições fundadas pelos europeus no continente americano, devemos lembrar que essas tinham a intenção de estabelecer um controle dos próprios europeus. Como o escravo não existe perante a sociedade senão por intermédio de seu senhor, o controle dos escravos estava nas mãos dos senhores. Os autores Mintz & Price, em seu livro "The Birth of African-American Culture: An Anthropological Approach" dão alguns exemplos das relações de poder entre senhores e escravos, mostrando que instituições não-formais, formadas por um jogo de "dar e receber", funcionaram como mediadoras dessas relações.

    Eduardo Lopes - Noturno

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  2. Acho interessante a abordagem cultural da historiografia que repensa o aspecto da dependência do senhor em relação ao escravo, pois a mesma rompe com velhos paradigmas construídos sobre a suposta subordinação dos cativos às condições de vida a eles impostas. Discordo em parte sobre a hipótese de que eles "possuíam consciência da dependência dos senhores em relação a eles", pois a meu ver essa ideia soa como uma tomada de consciência de classe, ideia essa rebatida na obra "Negociação e conflito : a resistência negra no Brasil" de João José Reis, que, em linhas gerais, acredita que embora escravos se insurgissem, tal comportamento visava melhores condições de vida para determinados grupos revoltosos, uma vez que entre os próprios cativos havia uma diferenciação entre os oriundos das diversas regiões da África, não havendo assim uma contestação ao sistema vigente.

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  3. O século XIX no Brasil esteve marcado pelos esforços de construção de símbolos para a consolidação de uma cultura nacional, tarefa assumida pelo Romantismo e oficialmente tomada pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Desses esforços, a identidade cultural brasileira passou a ser caracterizada pela intelectualidade como fruto de uma cultura branca europeia homogênea e traços africanos desarticulados. Mintz e Price, na defesa de que a cultura afro-americana (ou crioula) nasce de uma interação recíproca entre a cultura europeia e africana, lançam mão do argumento de que nenhuma cultura seria transposta de maneira intacta de um lugar para o outro; isto dito, a cultura europeia, assim como a africana, não teria se transposto de forma íntegra para o solo americano. John Thorton em "As transformações da cultura no mundo atlântico" presente em "A África e os africanos na formação do mundo atlântico" toma uma série de fatores modificadores de padrões culturais, como as estruturas sociais, a geografia, as condições estéticas, entre outros. Podemos concluir, desta maneira, que pensar as contribuições europeias como sendo maiores que as africanas na criação da nova cultura afro-americana seria um grande equívoco histórico.

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  4. Muito bom o texto. Gostei! (brincadeira, Sorrilha!)
    Acho interessante notar como, apesar da notável diferença entre a condição do escravo negro e a condição do branco livre, traços e elementos culturais africanos penetraram em estruturas culturais (linguísticas, religiosas, sociais) européias em um território americano, de modo que nenhum dos blocos culturais saiu incólume desse encontro. Todavia, na medida em que o negro escravo "desfruta" de uma posição de inferioridade na relação com o seu senhor, sofrerá com mais facilidade o processo de aculturação por motivos de sobrevivência (produzindo um novo arcabouço de signos) e contribuindo menos para a formação dessa cultura "americana" do que os seus senhores, mesmo porque em alguns casos sua cultura encontrará pouco espaço para se expressar. Daí a criação de guetos. É interessante notar, contudo, que o Brasil, segundo Sérgio Buarque em Raízes do Brasil, seria dono de uma "plasticidade social" distinta da de outros países da América, tais como o próprio Estados Unidos. A partir disso entendo que a nossa história produziu uma cultura mais híbrida do que a dos nossos vizinhos do norte.

    Leonardo Stockler - 4º diurno.

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  5. Partindo de Gilberto Freyre, também podemos discorrer acerca dessa hibridização cultural americana. A relação senhor-escravo, marcada pelas delegações de trabalhos a serem executados na cidade ou campo, é relevante, mas o contato diário, afetivo, ou puramente sexual deve ser elencado.
    Fosse de modo intencional ou não, as culturas americanas tornaram-se originais - e a evidência pode ser constatada nos detalhes da vestimenta, alimentação, festejos, vocabulário, e religião.
    O sincretismo religioso (com efeitos elevados ao último grau pelas mãos de lideranças puristas católicas) pode ser visto no clássico "O pagador de promessas", direção de Anselmo Duarte, único filme brasileiro que levou a Palma de Ouro (em 1962).

    Vinicius Fattori - diurno

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  6. Sinto que quando falamos da cultura religiosa africana existem deboches. É um tanto quanto preconceituoso zombar dos cultos africanos e de certa forma tratar com respeito à cultura religiosa cristã, como se essa fosse superior aquela. Não sei se estou equivocada ao dizer isso, mas, às vezes, quando se fala, de um ritual africano, como por exemplo, aos adeptos dos calundus, o sujeito preconceituoso não enxerga que há uma ordem no ritual. Como: há um calendário para organizar as cerimônias, embora não ocorressem essas em templos; dentro do ritual cada individuo ocupa uma hierarquia em que cada uma exerce um papel fundamental – como a ocorrência de três tipos de sacerdócios: “calanduziera, curandeira e adivinhadeia”.
    Através dessas especificações podemos afirmar que além da prática religiosa era também praticado a “medicina”. Conta-se que na cidade de Rio Real, no interior baiano, o Santo Ofício identificou um senhor empresário que pagou caro por duas escravas curandeiras afamadas, criando com elas uma forma de clínica e inclusive dividindo com elas o lucro, percebemos através deste relato a eficiência dos saberes africanos, que, no entanto, era questionado pelo monopólio das curas e milagres atribuídos à Igreja.
    Talvez a ocultação da cultura religiosa africana feita pela influência da Igreja tenha construído o preconceito em relação à religiosidade não cristã. Mas, vivemos noutros tempos, e cabe a nós não nos prendermos em concepções preconceituosas, pois, a verdadeira iniciação a vida intelectual, é aquela que torna o nosso espírito livre e não prisioneiro de um pensamento doente.Magda diurno

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  7. A cultura dos escravos africanos está bem enraizada entre a nossa sociedade contemporânea, isso porque quando esses cativos vieram da África para o continente americano trouxeram seus hábitos e costumes. Muita dessa cultura foi transmitida dos escravos para os povos que já habitavam a América – tanto colonos como indígenas –, de tal modo, que os costumes africanos influenciaram largamente a sociedade que se formava na América como, por exemplo, através de algumas práticas cotidianas. Desse modo, podemos entender que os negros africanos foram uma das peças fundamentais para a concretização da formação do imaginário da sociedade brasileira; influenciaram largamente a formação da identidade brasileira, contribuindo, para isso, em muitos aspectos. Em suma, observamos que não foram apenas os europeus que ajudaram na formação cultural da sociedade brasileira ou na América como um todo, pois os negros foram tão importantes quanto, isso se não foram bem mais.

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  8. Diferente de Mintz e Price, que defendem o surgimento de uma cultura africana híbrida nas Américas, João José Reis,afirma ter havido hibridização porém, para o autor,algumas manifestações culturais dos negros em solo brasileiro apresentavam maior densidade de elementos oriundos da África. Sendo o batuque um festejo "mais africano". Nesse sentido, esse festejo é tido por Reis como uma forma de resistência dos negros à aculturação imposta pelos brancos.
    Ao analisar o choque cultural entre negros e brancos na sociedade escravocrata brasileira, em especial quando tratamos do século XIX, é importante ter em mente que naquele momento histórico fazia-se necessário a criação de uma identidade nacional cujo modelo era a Europa. Nesse sentido, tem-se na Bahia por exemplo, a tentativa, por parte dos governantes, de reprimir manifestações culturais dos negros (cativos e libertos), tais como o batuque, que representava para as autoridades brancas uma ameça constante, tanto pelo perigo da revolta que poderia iniciar-ser de uma sociabilização de escravos, quanto pelo medo dessa manifestação cultural ser incorporada pelos brancos. Todavia, as tentativas de suprimir o batuque não surtiram efeito, pois como afirma João José Reis, a Bahia não foi europeizada mas sim africanizada.

    Anája Souza Santos 4HD

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  9. A cultura, muitas vezes, é tratada na forma de blocos, com purismos e falta de dinâmica, de mistura e de fluidez.
    É claro que existem aspectos que se mantém, se reforçam, e são até institucionalizados; em algumas sociedades estas tradições são reforçadas e mantidas a risca, como é o caso, por exemplo, da sociedade japonesa até a segunda guerra mundial.
    Porém no caso da relação branco europeu e africano, criou-se uma ideia de um bloco branco europeu, homogêneo, puro e coerente que teria chegado às colônias, esmagado a cultura local e a cultura do negro africano usado como mão de obra escrava e apenas incorporado alguns aspectos destas culturas "reprimidas".
    Esta visão acabando sendo ela mesma de alto cunho eurocentrista, deixando a cultura indígena e negra - no caso do Brasil - como algo heterogêneo, mesclado e impreciso; uma cultura pluralizada que, por isso, apenas teria sido incorporada.
    Deve-se questionar primeiro, até que ponto a cultura européia é homogênea. Dentro de uma mesma nação, como no caso da Espanha, convivem diferentes etnias, de diferentes orientações culturais. Além disso, num sentido mais amplo, dentro da Europa, por mais laços unificantes que existam - como o catolicismo, por exemplo - coexistem diversas linhas étnicas, que se desenrolaram de forma distinta e que, por condições externas e longos processos históricos, acabaram por desenvolver diferentes culturas.
    O segundo aspecto a ser questionada é até que ponto a cultura européia foi o receptáculo das demais culturas. O que aconteceu foi um intercâmbio mútuo cultural no cotidiano da colônia, onde ainda deve ser somado a esta análise as próprias condições externas (geográficas, climáticas, de agricultura, etc.) de cada localidade do Brasil, criando assim uma cultura nova e específica de cada região.

    Marina Maria Sores Pontin - Noturno

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  10. Com a transposição das gentes e instituições europeias ao Novo Mundo, toda uma gama de hábitos, valores e concepções de mundo do homem branco é trazida. No entanto, a ideia de sobreposição da mesma em relação às demais culturas impede a possibilidade de analisarmos e identificarmos as trocas e as adições, ou seja, a interpenetração cultural, que se evidencia nas danças, músicas, rituais, pratos e expressões linguísticas, por exemplo. O abismo social, devido às diferentes condições políticas (senhor e escravo), era diminuído no cotidiano justamente por conta do contato e da troca de elementos. A cultura europeia não estava fechada, estagnada, e a terminologia pureza a ela relacionada abre espaço a inúmeros questionamentos. Trata-se, portanto, da formação de uma cultura híbrida, que absorvera substâncias tanto da vida do homem branco quanto aquelas provindas dos universos africano e indígena. Em um novo espaço, diferentes arranjos políticos foram consolidados. De tal forma, percebe-se que o contato sociocultural abre espaço ao jogo: negocia-se cotidianamente. Observemos o caso brasileiro: nossa música absorvera tanto as particularidades harmônicas e melódicas – herança europeia – quanto as rítmicas – herança africana não muito valorizada pelas composições provindas da Europa.

    Matheus Barbosa de Oliveira - Noturno

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  11. Acho que a cultura européia que veio para cá não chegou exatamente igual, assim como diz no texto, pois os próprios europeus receberam a cultura africana e vice e versa. E por mais que índios e negros estivessem em uma camada social "abaixo", na minha percepção é claro os elementos que ambos deixaram na sociedade da América Contemporânea. Hoje, no Brasil, é muito perceptível a mescla que teve os povos (principalmente negros e brancos) e que a nossa estrutura social foi feita por realidade de ambos. Por mais que os europeus que chegaram aqui fizeram uma "sociedade ao seu molde", com as religiões, a economia e o Estado, os africanos contribuíram em outros aspectos, como na comida, e na música. E dessa mescla nasce a sociedade americana.

    Natália Villa Finco 3ºRIN - 4º História - Matutino

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  12. Os autores, os antropólogos norte-americanos Sidney W. Mintz e Richard Price, acrescentam uma voz comedida ao debate sobre as raízes da cultura afro-americana. Estes autores apresentam uma reflexão sobre as diferentes nuances da presença dos africanos e seus descendentes nas Américas, demonstrando aspectos sociais e culturais que se manifestam a partir destes diferentes tipos de encontro.
    Os africanos não tinham uma cultura única e homogênea para ser transportada; mas muitas das línguas por eles faladas, das vestimentas utilizadas, das crenças e dos valores culturais foram constantemente construídos e transmitidos em terras americanas. Construção tal que se deu de forma complexa, pois ocorreu conjuntamente com a consolidação da população branca e livre.
    Temos, portanto, que as constrições da escravidão devem ser levadas em conta em qualquer investigação sobre a formação da cultura afro-americana.

    Larissa Forner - 4ºAno História (diurno)

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  13. Pode-se dizer que os europeus não tentaram facilitar a assimilação dos escravos a um status civil semelhante ao dos europeus, mas sim buscaram atender a própria necessidade dos colonos. Para estes colonos, o ideal era de que os escravos se “aculturassem” numa completa aceitação do status de escravo e, para tanto, acreditavam que poderiam alcançar esse aculturamento através da disciplina inflexível e rígida, métodos adequados e, logicamente , tempo de adaptação.

    Renan Falcheti Peixoto - 4° ano (noturno).

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  14. Os contatos culturais não admitem resultados previstos. Os componentes diversificados são inseridos ora como imposição ora como resistência às alteridades ativistas, sejam elas no âmbito religioso, musical, familiar etc.; e orientam a formação inevitável de um novo tipo de convívio social, assim como, de uma cultura aglutinada. Nesse sentido, não há o destaque de uma em detrimento de outra cultura (europeia ou africana), mesmo porque tais culturas admitem, a princípio, uma variedade de subculturas (europeias e africanas) que, muitas vezes, já experimentaram contatos com os grupos distintos, principalmente através das redes de comercialização na costa oeste africana.

    Silvia F. Rubini, 4º HD.

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  15. O ponto central, que faz parte de uma abordagem teórico-metodológica que vem sendo cada vez mais desenvolvida pela historiografia brasileira, é em relação ao papel de agente que o negro desempenhou. Mais uma vez, é necessário compreender as bases e os elementos centrais do processo de escravidão no Brasil, dada sua complexidade que, muitas vezes, é simplificada com análises que abordam o escravo como totalmente submisso e receptor da cultura europeia. Este e outros textos, demonstram diversos meios pelos quais os escravos resistiam à condição estabelecida da escravidão e influenciavam a formação social e cultural dos brancos, especialmente no Brasil, onde a escravidão marcou fundamentalmente o desenvolvimento da sociedade.

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  16. Complementando a tese de que a cultura branca sobrepõem-se à cultura negra quanto à contribuição na construção de uma cultura brasileira é um equívoco histórico, é interessante apontar para a obra de Gilberto Freyre (assim como já foi destacado acima) "Casa Grande e Senzala". Em uma parte específica, o autor destaca como os filhos dos senhores nos primeiros anos ficavam sobre os cuidados dos escravos, sendo esses responsáveis pela transmissão das primeiras noções culturais (língua, estética, religião, etc.). Assim, Freyre coloca uma importante questão, salientando que a própria cultura branca era transmitida às novas gerações sob uma interpretação negra (um dos motivos da diferença entre o português falado em Porugal e sua variante brasileira, como aponta o próprio autor).

    João Jorge De Martini Moraes - 4º Ano - História/Noturno

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  17. É interessante notar como a relação sexual entre branco e negro constituia a contradição central da escravidão. Para o bom funcionamento do sistema escravocrata o escravo não somente deveria ser tratado como objeto como considerado como tal. Aí justamente residia a dificuldade. Ao se estabelecerem tantas relações próximas, trocas culturais, sociais e até sentimentais, era impossível não notar a humanidade do objeto chamado de escravo. A relação sexual entre senhores e escravos era a relação que deixava nitidamente exposta a proposição de que o escravo não era um objeto, afinal, como um objeto poderia ter tal nível de intimidade com uma pessoa? E, no caso mais grave, quando uma mulher branca engravidava de um homem negro, o que seria aquela criança? Como ela se adequaria à legislação escravocrata? A escravidão ruia em suas próprias contradições.

    João Paulo Bettini Bonadio 4HN

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  18. Dentre as relações estabelecidas entre a cultura africana e as demais culturas existentes no Novo Mundo, existiram elementos entre elas que foram melhores articulados e dinamizados na cultura americana. Melhor exemplo das trocas culturais aqui estabelecidas foi à fluidez do nascimento de novos idiomas que mesclavam várias linguagens ao mesmo tempo, sendo este um aspecto característico das culturas americanas segundo Thorton, pois a linguagem, em outros contextos, seria considerada uma das características culturais de um povo mais resistente às mudanças. Porém, o que considero mais relevante apontar sobre as análises acima diz respeito às normas que foram necessárias para o estabelecimento das relações destes povos tão distintos. Sem dúvida, as regras e acordos sociais criados ao longo da formação da cultura americana escravocrata, evidentemente levando em conta as posições sociais de cada indivíduo, foi o início para o que consideramos como trocas culturais na América.
    Carolina Defensor Ribeiro 4ºH-diurno

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