terça-feira, 2 de outubro de 2012

Sem Título II


João Jorge de Martini Moraes
Débora Garrido Lima
Marcos Stamillo C. Lopes

A análise a seguir trata-se do texto “As transformações da cultura africana no mundo atlântico”, do livro “A África e os Africanos na Formação do Mundo Atlântico – 1400 – 1800” de autoria de John Thornton. A principal idéia do texto é tratar a respeito das transformações das culturas africanas na transposição de escravos para as Américas. Primeiramente, o autor define o que é cultura em uma explicação sintética, onde esta seria um modo de viver de uma sociedade. Esse modo de vida seria composto de vários elementos desta sociedade, como: parentescos (estruturas familiares), arte, linguagem, religião, formações políticas. Ainda a respeito desses elementos, o autor propõe que não são estáticos, ou seja, são vítimas de determinadas transformações.
As mudanças as quais estão suscetíveis esses elementos se dão de duas formas: modificações internas (em razão de forças políticas, mudanças ambientais, crescimento populacional, modismos, questionamentos intelectuais, etc.), e modificações externas, ou interações com novas culturas (através do comércio, da política ou de alianças). Nesse sentido o autor aponta, tratando do caso específico da cultura africana no Novo Mundo, que essas mudanças tiveram três principais influências: em primeiro lugar, o ambiente na América que era tão diferente da vida social, ecológica e política na África, o que acabou alterando a cultura africana de certa maneira; segundo que os africanos na América tinham um contato com um maior número de indivíduos de outras tribos (ou nações) africanas; e por fim devido à interação com a cultura europeia.
Tratando da questão das mudanças nos traços que compõe a cultura, o autor releva que alguns sofrem menos transformações ou demoram mais tempo para se transformarem (o caso da linguagem, que seria o elemento mais estável de uma cultura); outros se transformam mais rapidamente (como as estruturas familiares ou de parentesco) e alguns são intermediários (como os elementos estéticos – arte, dança, culinária).
Segundo Thornton, a estabilidade da linguagem deve-se a sua função de transmitir pensamentos ou mensagens através de sons arbitrários. Assim, para que haja uma comunicação, é necessário certa rigidez na estrutura da língua, na medida em que se não houvesse restrições a mudanças, a linguagem deixaria de ser única e se fragmentaria impossibilitando a comunicação. Porém, no caso dos africanos, o contato com povos europeus dentro do continente africano, vai fazer com que a linguagem sofra variações, tento que se adaptar, para que houvesse entre eles, o mínimo de comunicação possível. Em um primeiro momento, essa ‘terceira língua’ formada (tanto entre os africanos de diferentes tribos, e estes com os europeus) é chamada de Pidgins – que trata-se de uma estrutura lingüística bastante simples pela não existência de verbos -, e em um segundo momento, essas línguas vão se adequando a um estrutura gramatical e passa a ser chamadas de Línguas Crioulas. Em outras palavras, embora a linguagem seja a mais estática dentre os elementos, a que sofre um processo mais lento, é também a mais frágil no processo de migração, ou seja, na transposição para o outro continente, portanto, quando as línguas não se assemelham, tanto em gramática, tanto em vocábulo, a consequência é a formação de uma terceira, as línguas Crioulas.
Vale destacar no texto, as formas de preservação das línguas africanas e ao mesmo tempo uma forma de resistência presentes nos cantos e nas canções, onde os escravos podiam cantar na sua língua africana materna, mesmo que não soubessem o significado da letra, o que não exigia aprendizado, assim seria a sua sobrevivência, onde até hoje é encontrada, tanto no Brasil, como no Caribe, por exemplo, por meio de músicas e temas religiosos.
O próximo tópico seria os laços de sangue, onde o autor fala que se prender apenas nisso é se limitar no tema, porque dentro da África existiam muitas formas de parentesco, que vai além da consangüinidade apenas. Ele cita as unidades corporativas, organizações de cunho político e religiosos. Assim, quando os negros chegam as Américas, essas organizações davam uma base as estruturas sociais, que mesmo de forma modificada, dava uma sustentabilidade fora do continente africano.
O terceiro ponto é a estética, que ao contrário da linguagem, não é um elemento tão estável, mas que, porém, foram os que mais resistiram na passagem pelo Atlântico (os exemplos maiores desses elementos são a música e a dança). O contato com outras culturas possibilitou misturas estéticas, onde estas não são tão rígidas como as línguas, podendo incorporar novas características, personalidades e elementos, havendo uma maior flexibilidade, ocorrendo um processo de troca entre os diferentes povos citados.
Em resumo do que se traz o texto, é de como houve a criação de uma nova cultura africana devido a flexibilidade e adaptação frente ao novo, e, embora a condição de escravos limitassem a expressão dessa cultura, houve uma certa resistência no sentido de criar uma nova identidade para os grupos de africanos e sobreviver a uma imposição da cultura europeia.

6 comentários:

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  2. Ao tratar da questão das transformações da cultura africana no mundo atlântico devemos ter cuidado para não cair nas teses de defesa da total anulação ou total perpetuação da cultura africana. Revisando os supostos fenômenos de "aculturação" e de permanência de certos "laços culturais" como defesa da existência de um "passado negro", que por tempos ocuparam lugar de destaque na pesquisa historiográfica, nota-se que o que houve no Novo mundo foi a formação de uma nova cultura afro-americana a partir do encontro cultural entre africanos de diversas etnias com os euro-americanos. Esta nova cultura de caráter homogêneo, devido ao menor dinamismo e maior delimitação impostos pela escravidão, tornaria-se uma cultura de avanço compartilhado, necessário para a manutenção social nas atuais condições estabelecidas.

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  3. Tal como observa o texto, a chegada dos africanos no continente americano proporcionou uma mudança significativa nas "culturas"; considerando-se as novas condições espaciais, a interação entre tribos e a relação com os europeus, é possível dizer que houve a criação de uma nova "cultura", mesmo em meio à permanecia um certo modo de viver africano. A resistência de algumas tribos à influência dos europeus não pode ser relacionada a um nacionalismo africano - pelo menos no início desse processo -, pois este se desenvolveria mais tarde, em fins do século XVIII. Como já foi mencionado, essa "resistência" envolvia a tentativa de adaptação e de sobrevivência desses povos no novo continente; nesse aspecto, a impossibilidade de utilização de instrumentos musicais africanos, por exemplo, não impediu que os escravos mantivessem o seus costumes, já que eles encontraram no canto a possibilidade de manter suas músicas - o que não significa que eles se recusavam a utilizar instrumentos europeus. Dessa forma, observa-se que, apesar de uma flexibilidade cultural, houve "resistência" ou permanência de muitos costumes africanos nessa época.

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  4. Carolina Defensor Ribeiro26 de novembro de 2012 às 05:11

    Como todas as sociedades, as africanas não estão isentas das constantes transformações culturais, sendo possível evidenciar a maior flexibilidade de algumas estruturas específicas na história deste continente- como as transformações das bases políticas, bases familiares e de parentesco na história do Congo. Tais transformações culturais adquiriram maior dinâmica na vida africana no mundo atlântico, tendo em vista as circunstâncias da escravidão deste povo fora do continente de origem. Porém, as transformações culturais no Novo Mundo, por serem mais dinâmicas e mais flexíveis, não podem ser compreendidas como apenas “traços” culturais que aqui foram deixados. Parte daí as críticas de Thornton a algumas análises reducionistas da cultura africana no mundo atlântico, que transformaram toda uma herança cultural africana a meros vestígios simbólicos deste povo.
    Carolina Defensor Ribeiro 4º H-diurno

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  5. A chamada cultura negra, ainda que tenha sido fruto da mescla e interação de povos e nações, acabou por ganhar espaço em estereótipos. Os estigmas estéticos, a maneira de se vestir, de cantar, de dançar, de falar ganharam o adjetivo negro no fim, por vezes usado pejorativamente. A influencia musical negra do blues ao rock, este que foi condenado exaustivamente, o rebolado de Elvis, demoníaco e errado por dançar como um negro, a aceitação e aclamação do rockabilly, já tocado por Little Richard, apenas com Jerry Lee Lewis e Elvis por serem brancos. A "cultura" que foi criada da sincretização, tida como forma de resistência ainda assim era se encontrava flexível. No entanto ao passo da resistência, crescia o preconceito, e o hábito da ignorância o mesmo que por muitas vezes não nos permite enxergar mais além do adjetivo negro em sua cultura.

    Lays Maria - 4HN

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  6. É óbvio que as discussões que perpassam a confluência cultural no período escravocrata colonial americano não pode se dar de maneira simplista. A exigência social de adaptação dos escravos na América pode ser entendida como um movimento necessário de convívio entre grupos africanos muito distintos, ocasionado, principalmente, de maneira arbitrária, pelas condições da escravidão. Não é uma homogeneização absoluta, mas uma experiência social e cultural não existente na África. A "nova cultura" é mais que um quesito de resistência ou de manifestação gratuita. Ela representa, antes de tudo, uma atividade humana exclusiva e condicionada e, ao mesmo tempo, fora do controle hegemônico e político dos povos institucionalmente já estabelecidos.

    Silvia F. Rubini, 4º HD.

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