domingo, 16 de setembro de 2012

Modernidade: Escravidão?


 Amanda Peruchi
Felipe Barbosa Pagliuca
Magda Willian Semprini
Natália Bonfim

O termo “raça”, atualmente, está preso a uma extensa discussão do seu significado e da sua representatividade nas manifestações sociais. Uma discussão que gira em torno de seu caráter biológico e filosófico, sendo que há, ao mesmo tempo, situações de aproximação e distanciamento de suas características. Para a Ciência Biológica “raça” representa uma distinção entre o próprio homem a partir de traços genéticos e, ainda, foi utilizada para justificar e atender a determinadas atitudes contra o Homem. A partir da teoria da seleção natural observamos que houve a sua readaptação para justificar a seleção social que teria estabelecido a sobreposição de um grupo sobre outro e “permitido” a distinção das “raças” humanas. Considerando esta questão, devemos entender o termo de acordo com o seu contexto histórico e as diversas relações sociais estabelecidas, que atribuem, a cada momento, uma nova significação para o mesmo termo.
Temos que considerar a definição de “raça” para o Homem a partir das relações que expressam um modus vivendi e tentar expandir o seu significado para uma questão filosófica que, utopicamente, estabeleça uma desestruturação da diferença a partir de uma definição puramente biológica para, então, compreendermos nas Ciências Humanas a apropriação deste para a justificação de uma sociedade.
Aprofundando esta questão, tomamos como ponto de partida a análise do historiador Blackburn a respeito da escravidão na modernidade e das relações que estes dois conceitos exprimiram na Era dos Impérios. Com base em sua teoria, a escravidão não foi algo atípico dentro da modernidade, visto que, desde o Mundo Antigo já era uma constante, sendo, na América instituída de uma maneira diferente.  Com a modernidade a escravidão parece ser um problema moral, no entanto, neste momento, a própria modernidade justificava a escravidão, caracterizando-se como uma questão dialética – uma dependente da outra.
Representando a própria modernidade a escravidão era a “corner-stone das liberdades civis”, segundo Gunnar Myrdal em  American Dilemma “a escravidão e somente a escravidão, produzia a mais perfeita igualdade e a mais substancial liberdade para os cidadãos livres na sociedade”. Sendo necessária para o desenvolvimento econômico, a escravidão apresentou-se como a mola propulsora desta sociedade, contudo, é ambígua se pensada no contexto moderno de liberdade. Daí a tarefa difícil de Blackburn em analisar este panorama contraditório, buscando argumentos que tangenciam questões sociais e econômicas neste perfil de sociedade conflituoso.
Para os escravistas, como o norte-americano Jefferson Davis, o trabalho escravo constituía a existência social do branco livre e proprietário; sua mão de obra era aceitável, pois, fazia parte o negro de outra espécie da humanidade, outras explicações, era excluí-lo do gênero humano. Havia uma espécie de sanção religiosa que justificava tal condição, como, sendo o negro filho de Cam, personagem bíblico que cometeu o pecado de ver o seu pai nu, foi amaldiçoada sua descendência, por Deus, a servidão. Abarcando a questão econômica, observamos que, os escravos foram imprescindíveis no desenvolvimento das Américas. Isso porque, os negros tinham uma participação efetiva no cultivo de produtos para consumo e, além disso, eles também contribuíram, de certa forma, na formação da sociedade que se instalava na América, pois traziam através do tráfico uma gama cultural que permeava e diversificava a sociedade.
Dessa maneira, compreendemos que os negros tiveram uma grande participação na formação social das Américas e na economia que se estruturou e encontrou o seu apogeu na própria modernidade, não sendo, portanto, contraditório, mas sim linear aos  fatos históricos. 

9 comentários:

  1. Concordo com as constatações do autor. Não podemos pensar no termo "raça" sob o prisma de nossas novas relações e consequente mudança na utilização do termo "liberdade" na nossa atual sociedade.
    É impossível se pensar nos dias de hoje que a escravidão, tal como foi realizada pelos portugueses no Brasil, - com o uso de violência e coerção - tenha sido algo positivo, mas na época em que aconteceu era capaz de garantir a igualdade e a máxima liberdade para os cidadãos livres da sociedade.
    Não devemos pensar na escravidão como um erro, pois ela tangencia os acontecimentos históricos de sua época, além de não podermos nos deixar cair na armadilha de analisar os acontecimentos históricos passados sob nossa perspectiva atual.
    Disso podemos inferir que a escravidão não foi algo completamente negativo. O escravo foi elemento imprescindível ao desenvolvimento das Américas e o modo escravista apenas atendeu as necessidades de sua época, sempre permeado pela força da Igreja e da coroa de determinar os "certos" e os "errados", bem como de segregar os povos entre raças.

    Érica Lippi 3º RIN (4º História - Matutino)

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  2. Luis Gustavo Terra Teles27 de setembro de 2012 às 18:15

    O escravismo moderno foi extremamente inovador e esteve ligado a vários processos relacionados à modernidade, tornando-se um dos maiores sistemas de escravidão da história da humanidade. De acordo com as nascentes relações de mercado e trabalho, construiu-se em torno do escravismo moderno um gigantesco mercado cujo o produto era o homem. Os escravos eram transportados como qualquer outra mercadoria e por isto, a viagem causava uma grande quantidade de mortes. Essa nova forma de escravidão apresentava a lógica, a impessoalidade e a frieza característica da organização empresarial moderna. Apesar de ser produto de um mundo pré-modernos, ele criou e partilhou os valores da modernidade.

    Luis Gustavo Terra Teles - 4º ano história diurno.

    Luis Gustavo Terra Teles

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  3. É interessante pensarmos que outras sociedades apesar de possuírem escravos não foram enquadrdas por boa parte dos historiadores modernos como "sociedades escravistas", denominação comum, por exemplo,as "civilizações" do período clássico. O problema de adotarmos o termo "raça" é o mesmo de adotarmos "escravo" como se esta categoria tivesse sido a mesma desde o período Antigo passando pela Idade Média e Moderna - que apesar de muitos de nós não se darem conta continuava a existir. A escravidão não desapareceu da Europa durante a chamada Idade Média e continuou vigente até o século XIX nas colônias européias do Novo Mundo. Porquê será que nos esquecemos dos escravos quando estudamos ou ensinamos a Idade Média? Foi uma pergunta que me ocorreu depois de tomar contato com autores que dissertam sobre a escravidão. Fica de fato ilógico o desaparecimento escravo da História e seu pronto aparecimento em meados do XVI.

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  4. O Estado, segundo Blackburn, principalmente na América portuguesa, pouco interferiu na escravidão, ficando esta sobre encargo da iniciativa privada dos comerciantes e dos senhores. Dessa forma, era a sociedade civil que regulamentava e normatizava a escravidão moderna, sendo então a responsável pelo autoritarismo, e não o Estado como muitos imaginam equivocadamente, cabendo a este apenas dar respaldo e manter a ordem. Pode-se citar a frase de Michel de Certeau: “O cotidiano é aquilo que te oprime”, a fim de evidenciar que, tanto no período da escravidão quanto atualmente, as regras estabelecidas pela sociedade civil são mais opressoras que as leis do Estado.

    Carla Alexandra Passalha 4° ano história- noturno

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  5. Robin Blackburn toma o escravismo moderno como desdobramento da própria modernidade. Os engendramentos do capitalismo teriam sido o grande motor do escravismo moderno que, devido a falta de controle efetivo do Estado e o consequente incentivo à iniciativas privadas, teria criado seus próprios mecanismos de controle. Contrariando teorias que tomam a escravidão como fenômeno intrinsecamente ligado ao Absolutismo (ao monopólio estatal, ao patrimonialismo e ao mercantilismo), Blackburn concebe o escravismo moderno como um escravismo civil, normatizado e significado pelos senhores e comerciantes, dentro do cotidiano das grandes propriedades.

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  6. Concordo com o autor que os negros tiveram uma contribuição na formação social das Américas sim. É impossível, hoje, pensar como o mundo seria se não houvesse nenhum tipo de escravidão, sendo que essa prática é utilizada há centenas de anos. Era algo que diferenciava e caracterizava o homem livre e branco. Para ele ser assim, teria que ter o outro lado da moeda, o negro e escravo. Era algo social, a segregação fazia parte da realidade daquela época, apoiado pelo Estado sim e pela Igreja.

    Natália Villa Finco 3ºRIN - 4º História - Matutino

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  7. O historiador inglês Robin Blackburn lança em sua obra “A construção do escravismo no Novo Mundo: do Barroco ao Moderno (1492-1800)” uma perspectiva um tanto quanto inovadora no que tange a escravidão na Era Moderna. Nesta obra, o autor propõe uma relação direta entre as instâncias da escravidão e da modernidade, instâncias estas que a princípio se configuram como divergentes, se não, contraditórias. Como o mesmo esclarece logo no início de sua obra, o “livro apresenta um relato da constituição dos sistemas europeus de escravidão colonial nas Américas, e procura esclarecer seu papel no advento da modernidade.” (BLACKBURN, 2003, p. 15). Com base nessa proposta, Blackburn analisa de forma aprofundada o sistema escravista implantado na América a fim de demonstrar o caráter inovador dessa prática no Novo Mundo, que se configurou por sua vez, como uma verdadeira empresa que teve como fomentadora principal a iniciativa privada por intermédio dos mercadores e senhores de escravos que empreendiam tal comércio. Para Blackburn, o Estado, nesse período, exercia a função de respaldo burocrático e legitimador desse processo, na sua essência privado e não tanto estatal, como somos levados a crer. Sendo assim, por essa perspectiva, a escravidão está inserida no contexto da modernidade, já que possui alguns elementos desta, assim como ajudou a construir tais elementos. Desta forma, a escravidão acabou por financiar a modernidade e a construção do mundo burguês. Nesse sentido, a escravidão, antes vista como um atraso e obstáculo ao progresso, passa, aos olhos do autor, a se configurar dentro do contexto da modernidade, sendo mais que um elemento desta, se configurando como um dos seus grandes pilares.

    Rosangela Silva Rezende - 4º História - NOTURNO

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  8. O texto de Robin Blackburn, desmistifica a associação da escravidão como um modelo de organização de sociedades atrasadas e um fenômeno ligado ao Estado. Para o autor a escravidão tem mais laços com a Modernidade do que se imagina, pois não os considera antagônicos e, sim até complementares no processo de desenvolvimento e consolidação de ambos no mundo moderno. As principais características que unem esses dois termos - escravidão e modernidade - são que elas desenvolveram o conceito de sociedade civil, pois sem ele o próprio desenrolar de ambas não seria possível e o desenvolvimento do capitalismo não é antagônico em nenhum dos casos e, sim concomitante ao processo da modernidade.

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  9. O texto demonstra que a escravidão foi essencial para o desenvolvimento da América. Além disso, mostra como o juízo de valor vária ao longo dos anos. Na modernidade, a escravidão foi completamente justificável e apoiada, além da separação entre raças para dividir a sociedade e encaminha-la para o que se pretendia alcançar como desenvolvimento na época: negros como mão-de-obra e brancos "organizando a sociedade" amparados pela cultura, religião e economia em busca dessa modernidade através do regime escravista.

    Lívia de Andrade Cañas - 4ºano História (diurno)

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