segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A África Escravocrata


Carlos Henrique Genova
Carlos Manoel Vaz Jr.
Felipe Faulin Valentin
Lucas Ribeiro
Marcos Felipe Godoy


O texto trabalha com a ideia de que a entrada dos portugueses na região do Congo, mais especificamente em Ngola, dependeu de jogos políticos entre os chefes da região, em detrimento da violência com a qual imagina-se que os europeus adentraram o território africano. Desta maneira, tendo como exemplo o caso princesa Njinga, que, inclusive, chegou a formar alianças tanto com os lusitanos quanto com os holandeses, os ibéricos também trabalhavam no sentido de catequizar a população nativa, empreendendo, portanto, a política da “cruz e da coroa”, ou seja, a colonização auxiliada com a religião.
Outra questão que Mello e Souza aborda é a da já tácita ignorância com relação à existência de escravidão no continente negro. Na África, ao contrário do que se acredita, também havia sociedades escravocratas. A não-existência da noção de propriedade privada entre os africanos contribuía para que determinado clã fosse respeitado a partir da quantidade de escravos que ele possuía. O sistema de linhagens, que podia incorporar um desses trabalhadores à família que dele era proprietária, ajudou na complexidade do sistema, com a escravidão sendo importante elemento para determinado clã, que adquiria força dependendo do número de escravos que somava.
Novamente, assim como a noção que temos de que a violência foi a marca mais impressa pelos portugueses para a entrada na África, noção esta que ignora os acordos políticos, a empreitada escravista assistia à presença européia quase que toda restrita ao litoral, local de onde, depois de receberem homens capturados quase que exclusivamente pelos próprios africanos no interior, mercado este auxiliado pelo surgimento de sociedades especializadas na captura, partiam os cativos, mais notadamente ao Brasil, onde a agricultura começava a se expandir e era em boa parte dependente da mão-de-obra negra para se desenvolver cada vez mais.
Concluindo, a contribuição do texto passado é a de desmistificar algumas afirmações que partem do senso-comum. Assim, as noções de violência levada pelos europeus à Africa, o que dá a entender que o continente antes vivia sem guerras, e de escravidão pré-existente, desconhecida por boa parte dos brasileiros, já eram questões corriqueiras no continente negro. Afinal, segundo a autora, as estruturas políticas já existentes somente se adaptaram às novas, dos europeus.

10 comentários:

  1. Apenas em respeito ao leitor atento, o texto ao qual este post faz referência em seu início é "Povos em Contato: comércio, poder e identidade" de Marina Mello e Souza, disponível no livro da mesma autora intitulado "Reis Negros no Brasil Escravista: história da festa de coroação de Rei do Congo" de 2002. Outra correção que se faz necessária é relativa ao nome da região onde interagiram portugueses e africanos. No lugar de Ngola leia-se Ndongo.

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  2. A escravidão existia na África antes da chegada dos europeus, é certo, mas há que se problematizar um pouco a questão. A "escravidão" não deve ser tomada como um conceito supra-histórico, pois são as especificidades da época e lugar que determinam, em parte, as noções que cada sociedade tinha sobre ela.
    O que ocorria em regiões da África era diferente dos "mercados racionalizados de almas" comandados pelos europeus da era moderna. Tal percepção, contudo, terminou por se expandir entre os próprios líderes africanos, que, cada vez mais, enxergavam na apreensão de outros homens um lucrativo comércio a lhes favorecer.
    Vinicius Fattori (diurno)

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  3. É valido também ressaltar a importância que a aproximação e comercialização de escravos com os portugueses adquiria para os povos africanos que realizavam estes processos. Como a própria autora salienta, as lideranças locais passavam a possuir símbolos de poder advindos de tais relações, uma vez que o fato de ser aliado à cristandade , que assimilou as populações nativas, e ao passar a utilizar parte de seus "rituais" (tais como utensílios e vestimentas), conferia maior capacidade de expansão a estes povos.

    Paulo Augusto Scurato Silva - noturno

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  4. A autora é precisa ao explicitar a densidade dos jogos políticos que foram levados a cabo para que os europeus conseguissem adentrar o território africano. A religião cristã, outrora um importante elemento para manter a coesão daquilo que até então se entendia por Ocidente (representado também através da cristandade, sobretudo na Idade Média), mostrou-se como uma ferramenta fulcral para as trocas econômicas (que estão inevitavelmente articuladas às trocas culturais) feitas entre os europeus e os africanos (Portugal e Angola). A conversão do rei de Angola ao cristianismo pavimenta uma via de acesso facilitadora para os europeus. É válido notar como as relações entre tais povos, mediada por seus líderes, torna-se mais sólida na medida em que ambos os povos compartilham signos culturais semelhantes (é necessário salientar que são semelhantes, e não iguais, porque os povos africanos iram produzir a sua própria interpretação sobre os signos culturais que os europeus trazem de seu continente). A escravidão a partir desse esquema, já uma constante no território africano, não será entendida como um problema, portanto. O texto é valioso por desconstruir certas noções que o senso comum sedimentou em nosso aprendizado de História, tais como a violência que o europeu deflagrou sobre o continente africano e a escravização que ele mesmo levou para a África (ambas as ideias são errôneas). Seria interessante se as contribuições da autora fossem evidenciadas no tratamento que os livros didáticos dão hoje em dia ao assunto da escravidão e da presença dos europeus na África.

    Leonardo Stockler - 4º diurno.

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  5. Como foi escrito no texto, é realmente muito importante que saibamos entender o senso comum bem como, depois de entendê-lo, tentar sair dele. Partindo dessas desmitificações uma que nos chama bastante atenção é a de entender que na áfrica, antes mesmo da chegada dos portugueses, já existia escravidão. Em seguida podemos pensar se a escravidão africana era mais ou menos desumana do que a da América, contudo, creio que é uma pergunta difícil de se responder, pois sabemos que tanto nos dois continentes as relações entre senhores de engenhos e escravos eram as mais violentas possíveis. Ainda, podemos analisar que a escravidão no continente africano era resultado de dois motivos: primeiro, que as pessoas na África eram escravizadas em função das guerras; em seguida analisar que a segunda maneira de se tornar escravos era por dívidas, pois quem não honrasse seus credores seria automaticamente considerado seu escravo. Destarte, a escravidão na África só se tornou lucrativa após a chegada dos portugueses que passaram a utilizar os negros africanos como peças de trabalho que objetivassem lucros maiores. Enfim, refletir sobre a escravidão no continente africano e suas respectivas peculiaridades é um trabalho bem difícil, principalmente, porque visa sair do senso comum.

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  6. O texto apresenta uma importante abordagem sobre a escravidão no continente africano, que procura desconstruir a ideia de que a escravidão foi uma "criação" dos portugueses - ideia que ainda permanece no disseminada no "senso-comum" brasileiro. Como mencionado na discussão deste texto, o tráfico Atlântico estabelecido pelos portugueses foi apenas mais uma rota entre tantas outras existentes no continente naquele período. Pode-se dizer que as características do comércio escravo sofreram modificações relevantes devido à influência da "logística" portuguesa, assim como as rotas africanas foram aproveitadas pelos lusitanos, contribuindo para as suas estratégias comerciais. É interessante observar também que anteriormente à intervenção europeia nas rotas e mesmo depois dela, a principal motivação dos portugueses - pelo menos até o início do século XVII - era o ouro, o qual era comprado com escravos, ou seja, nessa época, o escravo era muito mais um objeto de troca do que uma mercadoria em si.

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  7. É possível perceber que a escravidão por parte dos europeus se estabeleceu na África graças a diversos pólos de disputa proporcionados pelos líderes regionais deste continente. É possível perceber, como exemplo, a princesa Njinga, que, tencionando atingir seus objetivos, se aliou tanto a portugueses como a holandeses, jogando ao lado que, em determinado momento, lhe parecesse mais favorável. Ao final de toda essa mudança dessa líder africana, ela, inclusive, apesar de uma resistência inicial a se converter ao cristianismo, foi batizada pela religião lusitana e passou a se chamar Ana de Souza. Assim, desse modo, podemos concluir que a escravidão no continente negro também obedeceu a interesses de chefes locais, que, flertando com o que lhes ofereciam os europeus, jogavam com o “melhor negócio”, uma prova de que os nativos não eram tão inertes no sistema escravocrata, e que também defendiam interesses se beneficiando dele.

    Vinicius Carlos da Silva
    4º ano História Noturno

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  8. Arthur Jorge Dias de Morais Coelho - Quarto Ano de História - Noturno28 de novembro de 2012 às 17:20

    Interessante notar que o tema "Escravidão na África" ainda carrega consigo um considerável número de mitos, e textos como esse e o de Paulo Lovejoy são revisionismos que podemos utilizar para desmontar algumas dessas mitificações. A idéia de que os portugueses eram essencialmente violentos advém do fato de que por muito tempo um encontro entre duas culturais foi sempre encarado como uma guerra, podemos ver isso em Todorov por exemplo. A verdade é que o encontro entre duas culturais é um processo intercultural pelo qual ambas as sociedade envolvidas passam e esse processo abarca muitas coisas além da guerra. Portanto a política de aliança dos portugueses cdemonstra que a violência exercida por portugueses não era a única coisa envolvida no tráfico mercantil de escravos.
    Outro ponto interessante é que esse texto coloca o africano como personagem "ativo" do processo de tráfico de escravos, na maior parte dos texto é comum ver o africano como apenas um agente inerte que "dança" conforme tocam portugueses ou mulçumanos, esse texto jó nos mostra os africanos utilizando a escravidão para fazer jogos de interesses e alimentar políticas de alianças, em outras palavras ele nos fala um pouco mais sobre a conjuntura interna das tribos e nações africanas, que como lembra Lovejoy, eram mais importantes para o desenvolvimento da escravidão do que suas influências internas, ainda que conjunturas internas e influências externas sejam complementares no processo de escravidão.

    Arthur Jorge Dias de Morais Coelho - Quarto Ano de História Noturno

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  9. Além dos questionamentos sobre ideias cristalizadas e reproduzidas, de maneira equivocada, a respeito da escravidão, já citadas acima, a autora chama atenção para o fato de que as alianças entre europeus -especialmente portugueses que, de certo modo, dominaram o comércio e o padrão do tráfico da costa entre os europeus até o final do século XIX - e africanos, não eram totalmente estáveis. Os povos africanos, segundo a autora, buscavam acordos conforme seus próprios interesses e quando não eram convergentes com os de seus aliados, firmavam alianças com outros povos. Dentro desta perspectiva, pode-se observar certa autonomia por parte dos povos africanos em relação às negociações de tráfico de escravos. Característica que reafirma um dos pontos centrais do texto: a existência da escravidão antes mesmo da chegada dos europeus ao continente e o papel ativo desempenhado pelos africanos, neste processo.

    Olinda Scalabrin - 4º História - Noturno.

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  10. Este texto de Marina de Mello e Souza é de significativa importância para o estudo da escravidão na África e do tráfico de escravos uma vez que, como dito anteriormente, 'quebra' com algumas noções do senso comum, como, por exemplo, a ideia de que não havia escravidão na África antes do contato com os europeus. Suas análises acerca da existência da escravidão entre diferentes tribos são de significativa importância para nós historiadores.
    Entretanto mesmo baseando seus estudos em importantes nomes da historiografia do assunto, tais como Glasgow e Thornton, sinto a falta da documentação, da utilização das fontes no estudo historiográfico. Sem dúvidas, tanto o que ampara suas análises, quanto as conclusões a que chega são de significativa importância, contudo a não utilização de fontes é algo a ser levado em conta.
    Contudo isto não tira o mérito de que este é um texto muito bem escrito e simples, que busca se ater principalmente aos acontecimentos, suas causas e consequências.

    Tatiana Milanello - 4º História Noturno

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