sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O escravismo sob outra ótica


Bruna Fernandes
Leonardo Bachiega
Marcelo Fidelis

A tese central do livro de Robin Blackburn é estabelecer uma relação entre a escravidão colonial nas Américas com o advento da modernidade. No pensamento do autor, este novo sistema escravista era de caráter radicalmente novo se comparado com a escravidão antiga.
O primeiro ponto indicado para tal diferenciação é o caráter comercial deste novo modelo de escravidão. Segundo o autor, a escravidão do Novo Mundo torna-se intensamente comercial, sob o advento de uma sociedade civil; já a do Velho Mundo voltava-se principalmente para as necessidades do estado imperial. “Pode-se dizer que muitos escravos romanos foram vendidos por terem sido capturados, enquanto muitos escravos africanos que alimentaram o tráfico atlântico foram capturados para serem vendidos” (BLACKBURN, p. 23).
Um dos principais pontos analisado neste comercial da ‘nova escravidão’ é que o excedente de produção dos escravos era enviado a Europa para ser então consumido. Desse modo, todo esse processo, não só de envio, mas de conservação, de transporte e mesmo de próprio comércio, movimentava dinheiro. Ou seja, o escravismo gerava muitos empregos assalariados; salários estes que eram, por sua vez, gastos com as mercadorias produzidas pelos escravos, gerando, assim, um capital de giro de um recente mercado consumidor. Desse modo, o escravismo fora o baluarte dos Estados Modernos, já que a economia destes dependia da produção de suas colônias. E Portugal, na segunda metade do século XV, já possuía na sua economia um suporte no colonialismo; empregando elevadíssima quantia de escravos.
A Espanha, do mesmo modo, a partir da primeira década do século XVI realizara a extração da prata do Potosí, majoritariamente através de escravos negros e indígenas. Pode-se afirmar que, até o terceiro quarto do século XVIII, a demanda por negros escravos fora dominante, representando aumento e rentabilidade significativos.
O Estado, desse modo, arrecadava com o trato de escravos ao tributar as transações financeiras realizadas nos portos de suas colônias, e com o exclusivo colonial que impunha que toda a produção fosse levada ao porto de sua respectiva metrópole.
Outro ponto registrado por Blackburn, para a diferenciação entre os dois modelos de escravidão está ligado a sua composição étnica. Segundo o autor, a escravidão no Velho Mundo foi muito mais diversificada que a escravidão colonial nas Américas. Considerados como membros de uma espécie inferior e vistos como “bestas” irremediáveis, os negros passaram a ser identificados como vítimas adequadas para o trabalho nas plantations das colônias, reconhecidos pelo fato de serem negros, já que este era o argumento que então melhor se justificava.
Em linhas gerais, o autor procura fazer uma desconstrução da idéia que permeia boa parte da historiografia – a de identificar a escravidão com o tradicionalismo e atraso – apresentando-a como uma instituição flexível que, se associada com a descoberta e colonização da América, desempenhou um papel importante na transição e desenvolvimento da modernidade. Porém, apesar de sua importância nesta desvinculação, seu estudo permite alguns questionamentos.
O conceito de liberdade – maior advento da modernidade – não permeava a mentalidade dos escravos. Estes, por sua vez, reconheciam a instituição como legítima. As negociações e conflitos com os senhores baseavam-se mais nas condições precárias de trabalho que na ideia de liberdade.
Além do problema de conceituação, outro ponto pode ser questionado é a periodização. Na medida em que o próprio autor define a escravidão como uma instituição flexível, não podemos analisá-la como um sistema fechado. Ela não teria a mesma forma de organização durante os três séculos que esteve fincada no Novo Mundo.
O autor também peca ao concluir a introdução de seu livro dando a ideia de que analisará o que poderia ter acontecido, quais seriam as opções além da escravidão e o que deveria ter sido feito. Entretanto, tal análise soa mais filosófica, que de caráter propriamente historiográfico; já que, se formos pensar por um lado histórico, aquilo que já aconteceu não é passível de mudanças; não sendo possível, portanto, ‘fazer’ história com o que poderia, ou deveria ter sido.
Apesar das criticas, o autor alimenta de modo brilhante seu posicionamento, tomando para si a responsabilidade de abordar dois temas – escravidão e modernidade – aparentemente tão distintos, e sustentá-los numa relação sob uma ótica nada comum.

BLACKBURN, Robin. Introdução: escravidão e modernidade. In: ____. A construção do escravismo no novo mundo. Rio de Janeiro: Record, 2003, p. 13-44.

19 comentários:

  1. A análise de Blackburn torna-se interessante do ponto de vista do trabalho do historiador, afinal, o autor procura desconstruir visões equivocadas e tipologias sobre a escravidão, a fim de demonstrar que essa instituição sofreu alterações com o passar do tempo e que deve-se estudá-la em contextos específicos, enxergando a mudança como necessária para o entendimento do que é escravidão em seus momentos específicos (a exemplo da diferença entre a escravidão antiga e a moderna). Logo, o tempo é organizado e trabalhado numa perspectiva de mudança.
    Outra colocação de Blackburn que é interessante é mostrar que os escravos também são produtores de cultura, através da contraposição entre cultura barroca e cultura criola, mostrando que essa "classe" produz sua cultura e incorpora uma nova a partir do momento em que se encontra em solo americano e tem contato com outras culturas, tal qual a cultura portuguesa, gerando uma nova cultura, sendo este também um trabalho que se insere na categoria temporal, afinal, só entende essas mudanças a partir do uso do tempo.

    Ricardo Sinigaglia Arruda - diurno

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    1. Blackburn nos dá uma dimensão nova ao mostrar que a escravidão não pode ser vista de uma única forma, como atrasada e bárbara, mas sim como uma empresa com características modernas que encontrava respaldo mais na sociedade civil que no próprio estado, contrariando boa parte da ciência social clássica. O patrimonialismo e o tradicionalismo caem por terra na analise feita por Blackburn que nos mostra também as contribuições para a cultura, diferenciando cultura barroca e cultura crioula.

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  2. Gostaria de exaltar no texto o ponto em que a liberdade, como maior advento da modernidade, é colocado. Ainda que o conceito de Liberdade não permeasse por completo a mentalidade escrava, creio que é de relevância levar em consideração o fato de o próprio sistema escravista não ser absolutamente rígido.
    O Ricardo em seu comentário citou a produção de cultura pelos escravos, o que nos leva a refletir que se os escravos não exercessem nenhum tipo de liberdade, eles não poderiam produzir cultura. O sincretismo religioso que até hoje se faz presente nos é exemplo da tolerância que a religião exercia em relação ao culto africano e as festas, dias santos e feriados comemorados segundo os costumes de cada “nação” também nos servem de exemplo de tolerância. Ainda que reuniões e cultos fossem condenados por padres, também eram freqüentados por brancos, e a existência de irmandades negras que realizavam seus rituais devotos a Nossa Senhora, ornados por ervas e fitas coloridas ainda que segregados das missas “brancas”, são exemplos de que ainda que as negociações fossem feitas baseadas nas precariedades de trabalho em que viviam, eram realizadas. Ou seja, havia complacência com os costumes africanos. Em se tratado ainda mais especificamente do Brasil, existia também o desleixo de padres com relação ao ministério sacerdotal, permitindo que a fé do povo (com negros e mestiços em maioria) seguisse seu curso mais livremente, como diz Dilermando Ramos Vieira no livro O Processo de Reforma e Reorganização da Igreja no Brasil.

    Ariane Fernandes Machado- diurno.

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  4. O comentário da Ane sobre sincretismo religioso pode ser ligado a questão do Barroco Colonial . Na época em que surge o barroco, a Europa enfrentava o Império Otomano, e descobria a cultura material da Ásia, África e América. Como colocamos em nosso texto, surge na tentativa de enfrentar a disseminação do puritanismo, sendo inicialmente patrocinado por Jesuítas, Contra-Reforma e Monarcas católicos.
    Robin Blackburn afirma que o barroco representou uma “modernidade alternativa” à ética puritana, e jubilava-se por meio de ostentações renegadas pelos puritanos. O barroco cresceu mais nos países católicos que nos protestantes e favoreceu uma visão controlada e santificada da sociedade civil.
    No Novo Mundo o barroco colonial adquiriu um caráter mais sincrético, - como lembra a Ane, e o Bocão num caráter mais cultutral - mas trabalhando mais o aspecto socioeconômico, no Brasil e na América espanhola foram incorporados a objetos de devoção religiosa, temas indígenas e africanos, e foram usados largamente o ouro e prata evidenciando a superioridade do valor simbólico sobre o da troca. Tais elementos provocavam restrições na dinâmica comercial da escravidão do plantation, e foram aos poucos subjugados pela competição econômica e militar entre sistemas escravistas rivais, pessoalmente acho tal dinâmica de competitividade privilegiando o mercado em relação à religiosidade dentro das colônias explicita um importante aspecto da modernidade. Com seu aspecto sincrético, o barroco colonial antecipou alguns elementos do crioulo.

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  5. Penso que a grande contribuição do texto de Blackburn é fazer-nos pensar a escravidão para além do senso comum. Quando pensamos em escravidão, logo nos vem a imagem dos negros nos engenhos de açúcar do nordeste brasileiro. Esta imagem plasmada em nossas memórias, faz com que transportemos tais arquétipos para qualquer lugar do tempo ou do globo, como se escravidão fosse isso sempre. Neste ponto, Blackburn é feliz ao demonstrar as diferenças entre a escravidão moderna e antiga e, nesse sentido, creio que o texto de vocês deixou isso claro. Além disso, acho que a polêmica visão do autor que defende uma dissociação da escravidão das estratégias bem elaboradas pelo Estado Absolutista e o enaltecimento dos empreendimentos privados no processo de escravização e comércio é algo que precisa ser levado em conta. De certa forma, nas páginas do livro a lógica maniqueísta dos Estados Europeus em busca de acumulação primitiva de capitais dá espaço para um comércio feito por homens comuns, africanos e europeus, em busca de defender seus interesses próprios, muito mais do que defender as bandeiras de suas nações ou do sistema capitalista mundial que, convenhamos, estavam longe de ser isso que conhecemos hoje.

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  6. Penso que a discussão, ainda em torno da comparação entre a escravidão moderna e a antiga, abre ainda um questionamento para o ponto que trata da idéia de nação. A visão em relação ao outro é fundamental na busca de tentar compreender a frieza do europeu no que diz respeito ao tratamento dos escravos na modernidade. Embora o termo “nação” seja uma construção moderna, a raiz do comportamento nacionalista se encontra nas antigas sociedades clássicas, visivelmente onde o outro, o diferente, era visto e tratado como inferior. Além disso, acreditava-se que estes “bárbaros” estrangeiros já possuíam uma propensão natural à escravidão, e é a partir destas noções que se explica o tratamento atribuído aos escravos na antiguidade. O curioso é como isto se aproxima do comportamento nas sociedades modernas, pois a mesma crença no imaginário da superioridade cultural é o que explica a escravização, tanto de indígenas a princípio como de africanos posteriormente, pelos europeus na América. A única coisa que visivelmente se difere é a finalidade de caráter lucrativo, ausente nas sociedades antigas.

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  8. Como a Fernanda disse, o europeu da época vivia em um estado em que a busca pela "nação" era presente em quase todas as empreitas que se levavam adiante. As viagens de cunho colonizador, comercial e catequisador não eram diferentes. Podemos ver também como essa noção de escravidão variava de acordo com o povo, ou melhor ainda, com os costumes e tradições do povo e o meio em que viviam. Para os europeus o branco era a etnia (logicamente se falava em raça) superior, colocando-se o homem branco acima dos demais países. O escravo era visto não só como um objeto comercial, mas também como algo inferior a uma pessoa, não passava de um simples patrimônio. Não quero dizer que nos demais povos a escravidão não existia, muito pelo contrário, havia o conceito escravista mas com outro propósito, que era o escravo de guerra. Este reconhecia-se a si próprio como alguém cuja liberdade fora subjugada e tomada, sendo então patrimônio de sue dominador. Outro ponto importante, creio eu, seja que mesmo para os africanos a escavidão chegava a possuir cunho comercial. Os mesmos líderes negros travavam batalhas com as demais agrupações africanas a fim de conseguir mais escravos para vender aos colonizadores portugueses no Congo e conseguir seu apoio, ganhando assim maior poder e influência sobre as demais tribos, se é que assim podemos dizer.
    Jean Bruno.

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  9. Em primeiro lugar, quanto à questão sobre a liberdade levantada nos comentários acima, creio que o sistema escravista não fosse tão rígido quanto muitos muitas vezes dizem. Observa-se em alguns trabalhos que o escravo enquanto individuo dotava de certos espaços onde exercia sua liberdade e que os costumes africanos eram, em boa parte, tolerados. Contudo, creio que a conceitualização de liberdade neste período seja um tanto quanto complicada em virtude, principalmente, de ser tal conceito aplicável de diferentes maneiras em grupos sociais distintos, ou melhor, do modo como os grupos sociais negros africanos viam a liberdade. Em sua palestra, o Prof. Dr. Manolo Florentino levantou uma questão importante quanto a este assunto. Mesmo pertencentes à condição de escravos, muitos negros islamitas no Brasil, nascidos aqui ou na África, e condicionados pelos preceitos do islã, não fugiam, como faziam os escravos cristãos. Pelo contrário, segundo os levantamentos do citado professor, é possível observar um número significativo de cartas de alforria compradas pelos negros islamitas.
    Isto pode significar que a noção de “ser liberto” para os escravos islamitas e cristãos era diferente. Ao mesmo tempo em que os negros cristãos preferiam fugir para conseguir se libertar de seus senhores, muitos islamitas, pelo fato de tal religião não permitir a transgressão quanto à condição do individuo frente às instituições (acredito estar presente esta proibição no islã, ou pelo menos algo parecido) buscavam, por meios legais dentro do sistema em que estivessem inseridos, conseguir vantagens. Nesse sentido, creio que essa conceitualização de liberdade e de ser liberto dentro deste sistema é muito relativa e particularizada em relação a grupos restritos.

    Fernando Marques de Mello Júnior - Noturno

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  10. Fernando, eu gostaria de perguntar, lançar um debate ou até mesmo discordar. Mas, lembrando dos textos de Brasil 3 da Professora Marisa, eram só os muçulmanos que compravam a alforria, através de meios legais? Não existiam católicos que também trabalhavam no dia de folga para comprar a alforria? Eu concordo que existem inúmeros modos de um escravo protestar, até como uma forma de tática. Gostaria de chamar a atenção também para o fato de que os grupos não são homogêneos, por isso a pergunta.

    Ricardo Sinigaglia Arruda - diurno

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  11. Ricardo, eu lembro dos textos da professora Marisa, porém não me recordo se os textos falavam sobre a religião dos cativos. Mesmo supondo que sim, que eles citam escravos cristãos comprando alforria, creio que não era uma prática comum aos escravos cristãos, pelo menos com base na conferência dada pelo Prof. Manolo Florentino, que é um dos historiadores mais competentes quando o assunto é o estudo do escravismo no Brasil. Concordo que os grupos não são homogênos, de fato. Porém, o que eu gostaria de dizer é que a noção de ser livre e de liberdade, muito provavelmente, era diferente para negros católicos e negros islamicos. O que eu estou querendo colocar é a necessidade de reflexão sobre o conceito de ser livre dentro da sociedade escravista colonial. Nesse sentido, creio que a noção de liberdade é diferente entre os grupos escravos.


    Fernando Marques de Mello Júnior

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  12. Fernando, achei bem interessante esse debate. Vou, inclusive atrás de pesquisas para saber mais sobre o assunto...inclusive buscando bibliografia do Professor Manolo Florentino. As terminologias são bem importantes para a compreensão de um momento, por isso que eu gosto muito do Thompson que diz que seu método não deu conta de tudo o que poderia estudar, pois, ele não conseguiu dar conta de dizer sobre a classe média. Assim penso também qualquer método, pois a análise de grupos permite traçar a noção de liberdade, no caso do estudo de escravismo, mostrando que liberdade não é um conceito homogêneo, até mesmo dentro de um grupo específico. Gostei muito da iniciativa do blog também, porque deixa margem para trocas de informações, que não ocorrem em sala de aula.

    Ricardo Sinigaglia Arruda - diurno

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  13. Exatamente, Ricardo. Nesse sentido, andei pensando em uma questão que pode ser interessante para pensar essa noção de liberdade dos negros escravos.
    Os escravos islamitas, ao evitarem as fugas, e, nesse sentido, preferindo comprar a liberdade, parecem dar indicios de que a noção de liberdade desse grupo parece estar circunscrita dentro do sistema escravista. Ou seja, ao comprarem sua liberdade, estes se constituem como sujeitos dentro de uma sociedade escravista, sendo assim, sujeitos institucionalizados socialmente e juridicamente. Ao contrário, os negros cristãos, ao buscarem a fuga como meio de liberdade, estão se excluindo da sociedade, o que parece indicar, talvez, que a liberdade para estes extrapola as esferas do sistema escravista constituido na sociedade de então. Para os escravos cristãos, a liberdade é obtida fora do sistema escravista, enquanto que, para os negros islamitas - se considerarmos a hipotese de que estes evitavam a fuga - a liberdade pode ser obtida dentro do sistema colonial escravista. Aliás, salvo engano, há casos de negros islamitas que depois de comprarem sua liberdade, começam a comprar escravos.
    Espero ter dado a minha contribuição ao debate, mesmo com um número limitado de leituras sobre o tema.

    Fernando Marques de Mello Júnior - Noturno

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  14. Meus caros, é preciso que se leve em conta ainda que existiam acordos entre senhores e escravos. Embora esse fenômeno não seja uma regra, pareceu-me que ao longo de toda a discussão, a rebeldia, a fuga, o enfrentamento e o trabalho nas horas vagas eram as únicas armas das quais os escravos dispunham para lutar pela liberdade. No entanto, como menciona Celso Furtado na obra "Formação Econômica do Brasil" era comum que escravos acordassem com seus senhores manter o bom comportamento em troca da liberdade depois de uma determinada quantidade de anos de serviços prestados ou até mesmo ao atingir uma certa idade. O próprio direito de ter horas livres para prestar serviços extras com algum tipo de remuneração, muitas vezes era fruto desses acordos.
    É difícil imaginar que uma sociedade, onde grande parte da população era escrava, se manteria escravista por séculos somente embasada em torturas e castigos.

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  15. É realmente curioso pensar a escravidão na antiguidade em comparação à presente na modernidade, especialmente no ponto enfatizado pelo João Guilherme. Torna-se, assim, interessante pensar que este tipo de relação citada não existia entre os antigos, especialmente no caso dos gregos, onde os bárbaros eram vistos como escravos por tendência ou até mesmo por natureza. É fato que em ambos os casos o tratamento de objeto atribuído aos escravos é praticamente o mesmo, mas enquanto o africano tinha a chance de lutar por sua liberdade, trabalhando em busca do lucro por sua alforria, não existem registros deste tipo de luta por parte dos escravos antigos, que jamais seriam considerados essencialmente livres como se consideravam os gregos, por exemplo, por conta de sua organização social democrática e por sua auto afirmação como civilização, não existente entre os "bárbaros", como aqueles acreditavam.

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  16. Concordo com as considerações de Fernando Marques em relação ao conceito de liberdade. Não acredito num sistema tão opressor para os escravos e creio que a produção cultural é pura prova disso. Uma vez que sem liberdade ou isolado completamente o negro não teria condições de realizar suas práticas, estas religiosas que nós tão bem conhecemos. Além disso, ainda que os seus batuques fossem proibidos, também não podemos deixar de crer na tolerância católica, que ainda que condenada pode ser vista, também expressa na produção cultural afro-brasileira. É claro que o negro não exercia livremente suas práticas enquanto escravo, mas havia as festas e havia o sincretismo, havia as trocas e a flexibilidade religiosa que permitia uma assimilação por parte da população, tão carente de algo para se apoiar.

    Heitor Benetti-diurno.

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  17. (POstado por Francisco de Assis Sabadini - Diurno)

    Segundo a abordagem de Blackburn fica claro que a escravidão moderna se reveste de um caráter comercial. Podemos sustentar essa visão com base no texto de Marina Mello e Souza sobre os esforços portugueses para estabelecer mercado e posições favoráveis. O comercio de escravos na modernidade foi algo tão lucrativo que derramava seus benefícios a todos os envolvidos secundariamente no sistema, como transportadores, negociadores, trabalhadores para a brigo para a realização das “vendas”, etc. Esses fatores fizeram com que verdadeiras “caças” fossem organizadas cada vez mais, e com maior planejamento, a fim de escravizar indivíduos para atender à demanda. Grande parte do capital que movimentava essas transações acabava sendo novamente empregado para a compra de mercadorias feitas com a mão de obra escrava, assim podemos perceber um sistema que se retroalimentava; o capital gera mais escravos que geram mais capital. Essa é a grande novidade que estava presente no escravismo moderno e que fez com que esse sistema se sustentasse por tanto tempo.

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