sábado, 17 de setembro de 2011

Um olhar sem “o complexo da diferença” sobre as relações de comércio, poder e identidade dos portugueses para com a África Ocidental

Ana Paula Svirbul de Oliveira
Carlos Alexandre Silva Rodrigues
       Fernando Marques de Mello Júnior     

A Historiadora Marina de Mello e Souza, especialista em História da África, contribuiu para a historiografia brasileira através do seu livro “Reis Negros no Brasil Escravista – História da Festa de Coroação de Rei Congo”, pois ocupou um espaço permeado por poucos estudos, já que os historiadores têm mostrado pouco interesse em produzir uma historiografia sobre a África, ou seja, pouco se estuda ou é quase inexistente nos cursos de graduação em História, um estudo que busque compreender e entender as tradições africanas, as quais fazem parte da história de formação da sociedade brasileira que não se constituiu apenas dos costumes europeus.
Em linhas gerais, podemos dizer que o livro “Reis Negros no Brasil Escravista – História da Festa de Coroação de Rei Congo” se destacou por seu mérito em situar a história africana pontuando o funcionamento da organização social dos diferentes povos que povoaram a parte Centro – Ocidental da África, a conflitante relação entre linhagem e escravidão e o papel do tráfico transatlântico na história dos reinos do Congo, do Ndongo e de Matamba.
Analisando especialmente o capítulo III, intitulado como “Povos em Contato – Comércio, Poder e Identidade”, presente dentro do livro citado acima, vemos que Marina de Mello e Souza traz á tona uma reflexão interessante que têm como objetivo expor o domínio exercido pelo europeu frente aos povos africanos assim como mostrar uma África desconhecida, a qual foi habitada por povos falantes de línguas bantos e acabaram por entrelaçar sua história com a dos  portugueses, europeus e brasileiros.A argumentação trazida por esse capítulo se divide em dois momentos importantes, os quais vão ser trabalhados ao longo desse post.
 É preciso refletir como os portugueses puderam estabelecer relações do Congo a Angola, relações essas que se vertebraram na expansão do tráfico, assim como produziram resistências e alianças por parte de diferentes povos africanos.
Sabe-se que o continente africano se dividia em vários reinos com etnias diferentes entre si e por isso enfrentava um estado de batalha freqüente. E os portugueses tinham conhecimento deste estado permanente de guerra no continente africano e se faziam valer deste artifício para firmar e desfazer alianças com quem lhe fosse mais vantajoso e no momento em que lhe parecesse a melhor alternativa.
Justificando suas incursões pelo território africano em busca de metais preciosos estava a cruz da santa igreja católica que visava a conversão do maior número possível de almas. Ao mesmo tempo, o comércio vital para a sobrevivência de Portugal – já que as colônias, e especialmente o Brasil, se apoiavam sobre as costas dos negros africanos e que, a metrópole, da mesma maneira, se apoiava na produção da colônia – era assegurado pelos comerciantes que organizavam entrepostos comerciais na África - principalmente a região do Congo e de Angola - para a aquisição e venda de mão-de-obra africana para a colônia e, em alguns casos, para regiões da própria África.
Nesse sentido, escreve Marina de Mello e Souza que “a sanha portuguesa por escravos e a sua obstinação em abrir caminho para o interior, em direção às supostas minas de metais preciosos, respaldadas pelo discurso religioso que justificava o uso da força para a conversão de nativos resistentes ao cristianismo (...) provocou violenta reação armada por parte dos povos que viam sua autonomia ameaçada”. (P.107-108) Malgrado o posicionamento de revolta de alguns povos, outros, porém, interessados em alianças que fortaleceriam seus exércitos com as preciosas armas de fogo portuguesas, aliaram-se aos mesmos e aceitaram as condições que lhes eram impostas, a saber, o pagamento de tributos em forma de escravos e a concessão de privilégios comerciais.
Contudo, o aspecto mais interessante no trabalho da historiadora Marina de Mello e Souza está no sentido de que em meio às batalhas, alianças, ao sangue derramado e a efetivação dos compromissos, criaram-se imagens de líderes que, tiveram sua figura divulgada na própria África, como também do outro lado do Atlântico.
Nesse sentido, muito ilustrativo é o caso da líder Njinga Mbandi, - mais interessante, a nosso ver, do que o caso de D. Afonso I, o rei do Congo – que conduziu os povos ambundos-jagas, que habitavam as regiões do Ndongo e Matamba, entre os anos de 1623 e 1663. Njinga ascende ao trono após seis anos de batalha com seu irmão ngola,já que  desde a morte do pai de ambos, se  estabelece uma série de alianças e, ao que parece, muitas vezes confrontam os portugueses para obter vantagens para seu povo. E nesse aspecto a historiadora Marina de Mello e Souza é clara: “é nesse quadro de expansão do tráfico, implicando o avanço português para o interior do continente, intensificação das guerras entre diferentes povos bantos e o estabelecimento de alianças políticas e econômicas, que se insere o reinado da rainha Njinga, em suas diferentes fases, numa gama que vai da hostilidade total a aproximações com a administração portuguesa e os comerciantes europeus”. (P.108-109)
A relação da rainha Njinga para com os portugueses nos é apresentada de maneira bastante elucidativa pela Marina de Mello e Souza, já que esse relacionamento foi permeado por questões de poder, interesse e identidade e exemplifica também o modo como os portugueses puderam conquistar territórios e comercializar escravos e  até mesmo colocar o processo cristianização para diversas populações da parte central da África .
A imagem da rainha guerreira atravessou o atlântico e, aqui no Brasil esteve – e ainda continua – ligada à resistência bravia e à autonomia dos angolanos, e, ainda hoje, a rainha que chegou a espantar os portugueses, quando liderou a embaixada que deu ao irmão ngola do Ndongo, enviou ao governador de Luanda, por sua habilidade para tratar questões políticas e capacidade de liderança, tem em Angola lugar na galeria de ilustres como um símbolo nacional de resistência à ocupação européia.
A rainha Njinga,chefe de Matamba (região da atual Angola) nos foi apresentada como uma das personagens mais conhecidas da história centro-africana,mas sua consagração como importante sujeito na história de relações ente africanos e portugueses, nos remete a uma questão mais profunda que foi o fato de ter tido uma conturbada e complexa relação com os dominadores portugueses,mas atualmente é lembrada nacional desse país africano.
Assim, pode-se supor a partir do exemplo da rainha Njinga que, conforme analisou com enorme destreza a historiadora Marina de Mello e Souza, “eventos históricos podem ser congelados, mitificados, ritualizados e evocados na constituição de identidades.” (P.114)
Após nos debruçarmos sobre um caso especifico dentro dos relacionamentos dos portugueses para com os povos da África central, é importante destacar alguns pontos-chaves sobre o tráfico e as estruturas de poder. Vale colocar a fala de Marina sobre a escravidão em termos gerais “a escravidão é uma forma de exploração do trabalho efetuada por diversas sociedades, em diferentes momentos da história da humanidade e com características especificas de cada época e lugar.” (P.114)
É interessante notar que os portugueses ao realizar o tráfico de africanos, se apropriaram de uma lógica já existente dentro das próprias sociedades africanas e que ocorria muito antes da chegada dos portugueses á costa da Guiné. Partindo desse principio, podemos citar assim como o fez Marina de Mello e Souza, os estudos de Manolo Florentino questiona o fato de ao se pensar “o tráfico como um fluxo continuo e barato”, não se perguntou “o porquê de o continente negro ter oferecido escravos durante uma longuíssima duração a custos tão baixos” e assim conclui que há uma forte ligação entre o tráfico interno da África e o tráfico atlântico. (P.116)
Como conclusão á respeito desse texto, pensamos que a historiadora Marina de Mello e Souza merece nosso reconhecimento ao apresentar a história da África, de uma forma diferente da qual estamos acostumados, que é o continente africano sem voz ou uma história própria a ser contado, afinal o trabalho do historiador é resgatar as lembranças ou memórias esquecidas e dessa formar dar voz aos sujeitos da história. Marina de Mello e Souza nos revela as sociedades africanas complexas, com as quais os portugueses e os europeus em geral tiveram contato e desse modo buscaram modos para se adaptar as características e hábitos enraizados de povos que tinham o interesse de se relacionar.

SOUZA, Marina de Mello. Povos em Contato: comércio, poder e identidade. In: _______. Reis Negros no Brasil Escravista: história da festa de coroação de Rei do Congo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002, p. 97-135.

15 comentários:

  1. A historiadora Marina de Mello e Souza trouxe uma idéia importante sobre a África, salientando uma das idéias do texto de Lovejoy, que a escravidão estava presente nas entranhas do continente africano. Não jogando a responsabilidade apenas aos europeus – estes que perante a memória, são culpados por “criarem” o sistema escravista neste continente. Com isso, o texto acima mostra o importante papel da Njinga em defender e tratar questões políticas de forma elucidativa em prol do seu povo, mas também, por alguns momentos estando apta a relativas alianças com os portugueses. Sendo assim, esse jogo político, que a Njinga estabeleceu, não apagou a sua memória de “defensora” do seu povo, com relação aos angolanos.

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  2. Podemos observar nesse texto a questão de gênero que foi levantada pela autora no caso de Njinga. O fato de ser uma mulher governante causava preconceitos por parte de seu povo e inclusive ela se sentia incomodada com seu próprio sexo, a ponto de vestir seus concubinos com roupas de mulher. No entanto, Njinga obteve sucesso em sua liderança, não apenas por ter resistido ao máximo contra o domínio de Portugal, mas também por seu talento político, tanto que as próximas governantes femininas foram aceitas facilmente pela população.

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  3. Comparando o texto da Marina de Mello Souza e o texto de lovejoy ( A escravidão na África ), como Claudio também notou, os dois trabalham a questão da participação europeia no mercado de escravos africanos. Segundo Lovejoy e Marina de Mello Souza, “ A escravidão já era fundamental para a ordem social, política e econômica… “, sendo essa atividade já predominante internamente e praticada por muitos estados africanos. Marina de Mello Souza deixa claro a mudança que ocorre no sistema escravista africano ao entrar em contato com um novo sistema social, econômico e político, que seria o mercado externo dos europeus. Lovejoy em seu texto apresenta algo muito semelhante em relação as mudanças com a intervenção dos portugueses, e mostra em números o crescimento no volume de escravos comercializados, cerca de 2300-2500 por ano nas duas primeiras decadas do século XVI, subindo para 5400 por ano em 1516-21. Marina de mello assim como Lovejoy também trabalham a questão do Islã e sua influência na África…
    Dario Polacchini Neto

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  4. É importante avaliar também como se deu a suposta "colonização" dos territórios africanos pelos portugueses. O sistema de feitorias italianas aplicada ao longo da costa luso-africana nos demonstra pouca inserção no continente, uma vez que se restringia a poucos metros da costa, ou alguns quilômetros quando coincidia com algum rio navegável. Configuravam-se em fortificações portuárias responsáveis pelo embarque e desembarque de pessoas e mercadorias, além de hospedagem e preparo do seria comercializado, assim, funcionava como armazéns, no caso de mercadorias, e hospedagem (celas), no caso de pessoas. Este é mais um indício do sistema social dos africano doravante ampliado pelos portugueses para suprir uma necessidade populacional e que também fez parte do complexo comércio atlântico.

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  5. O ponto mais importante apontado pelo grupo é a questão levantada por Manolo Florentino, a despeito de pensar “o porquê de o continente negro ter oferecido escravos durante uma longuíssima duração”. O comércio de gentes que se desenrola no Atlântico Sul, se esclarece por meio de uma troca de efeitos recíprocos. Os interesses do colonato na América portuguesa se afirmam, também, do outro lado mar. Nesse sentido, conforme defende Marina de Melo e Souza, entre outros historiadores – Thorton, Florentino, Boxer, Alencastro – os africanos, dispostos a vender os seus semelhantes, foram participantes ativos na construção do movimentado comércio de gentes no mundo Atlântico. Dierick Ruyters, viajante holandês que esteve no Brasil entre 1617 e 1619, aponta que os escravos “[...] são negros de Angola. Na sua maior parte, foram capturados em guerra contra outros negros, pelo Rei do Congo, o qual, em seguida, os vende aos portugueses de Luanda. Este rei não vende somente os prisioneiros que faz ao inimigo, mas também sua própria gente, sob o menor pretexto. [...] De grande vulto é o comércio praticado em Angola pelos portugueses na compra e venda de negros, sendo o mesmo a única mercadoria que compram em troca de pão, trigo, azeite, vinho, tecidos, etc.” (A tocha da navegação. Revista do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, v. 269, p. 27, out. dez, 1965)

    Marcelo Fidelis Kockel

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  6. O texto da Marina de Mello Souza traz grandes contribuições ao estudo da história da África, principalmente apresentando esta temática de um modo enriquecido e complexo.

    Alguns pontos valem ser ressaltados, ela se aproxima da analise de Lovejoy ao mostrar que a escravidão já era uma instituição bem consolidada antes mesmo do contato com os portugueses:

    “Africanos eram vendidos como escravos pelos mercados envolvidos no comércio transaariano séculos antes dos portugueses chegarem à costa da Guiné, e várias sociedades africanas tinham entre suas instituições diversas modalidades de escravidão” (p.114)

    A autora também apresenta uma série de fatos que desmascaram a predominante interpretação dualista e homogênea do referido período, ao apresentar suas complexidades: as rivalidades e contradições internas às sociedades africanas, o processo de fragmentações aos reinos africanos , as lutas sucessórias internas, as resistências às penetrações exteriores, a mescla dos mais diversos elementos culturais, os diversos acordos, os ambíguos interesses, as variadas formas de escravidão, o remanejamento de poderes e áreas de influencias, a complexidade da intensidade do trafico, o aperfeiçoamento de instituições ligadas aos tráficos, as negociações escravistas longas e complicadas, a multiplicidade de unidades autônomas, etc.


    Ricardo Abib

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  7. No texto podemos observar o fato como o choque de culturas se dá no continente africano de maneira agressiva e lenta ao mesmo tempo. Temos como exemplo a rainha Njinga, soberana de das tribos ambundo-jagas, que alcançara o poder após suceder ao irmão, que teve morte de caráter suspeito. Pode-se notar a força da mulher nesse caso. Importante ressaltar que a rainha despertou grande espanto sobre os portugueses pelo fato de ser uma mulher na posição de rainha, ser fluente no idioma português e ainda ser uma diplomata habilidosa. Apesar de Njinga ter representado um símbolo de resistência ao domínio luso na África ela foi, aos poucos, sendo europeizada. Usava de trajes e adornos europeus para ostentar o poder e adotou o cristianismo após telo negado. Mesmo com a resistência geral na África, que não era uma resistência una, os europeus lograram a dominação mesmo que não tanto pela força. A Igreja esteve presente na conquista africana e moderava a luta pela conquista e adquiriu um papel de suma importância para a consolidação do domínio europeu no continente, sendo que com o decorrer do tempo mudou seu posicionamento a favor de uma conquista europeia pelo uso da força. Mesmo com essa inversão de valores aparente de Njinga, ela é lembrada atpe os dias de hoje como símbolo de resistência africano, inclusive no Brasil.
    Jean Branco

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  8. O capítulo selecionado no livro “História da festa de coroação de Rei Congo”, da historiadora Marina, para debate em sala de aula, permite a seu leitor compreender melhor a África habitada por povos falantes de línguas bantos, a qual teve sua história, por vários séculos, entrelaçada a dos portugueses, europeus e brasileiros,durante os quais cerca de três milhões e meio de africanos foram trazidos a povoar o Brasil.
    O ponto que mais me chamou atenção no excerto estudado do trabalho desenvolvimento por Marina foi o processo de cristianização do reino do Congo, já que representa uma parte importante da pesquisa sobre a festa da coroação de reis negros no Brasil, para se entender a organização social dos povos bantos na região central da África Ocidental, assim como perceber as relações ambíguas entre linhagem e escravidão, o papel do tráfico transatlântico na história dos reinos do Congo, do Ndongo, de Matamba.
    E por fim, podemos dizer que o livro é uma importante contribuição à historiografia brasileira,pois se apresenta como uma rica pesquisa que vem somar aos estudos sobre a África na historiografia de língua portuguesa produzida no Brasil

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  9. A escravidão já existia na África e através disso, quando os portugueses iniciaram seu tráfico de escravos através do Atlântico, a escravização criou mais força.
    O fato da escravidão já existir na áfrica antes dos europeus, porém, não pode ser um argumento para justificar este sistema, como muitos insistem em dizer até mesmo em sala de aula.
    Importante ressaltar que as “escravidões” eram diferentes na África e no continente americano. Na África o escravo era incluído à idéia de família estendida africana e não era explorado à exaustão, também não era tratado necessariamente como um objeto, relações essas que mostram faces totalmente distintas da escravidão nestes dois continentes.
    A escravidão inserida no mundo muçulmano também é um fator de grande importância para analisarmos. Escravizava-se, primeiramente, prisioneiros de guerra e pessoas que não respeitavam as regras das sociedades em que viviam, porém quando o tráfico de escravos com os europeus atingiu grandes proporções e começou-se em África a obter escravos simplesmente para servir ao tráfico, situações adversas começam a surgir, sendo uma delas a escravização de muçulmanos, os quais apesar de serem adeptos da escravidão acreditavam que essa deveria somente se aplicar aos descrentes. Isso explica, por exemplo, a Revolta dos Malês, posto que aqueles escravos eram muçulmanos e não viam qualquer motivo para sua escravização.
    De extrema importância é notar que a escravidão aqui se fazia numa distinção senhor e escravo que passou a basear-se na cor de pele. Creio que isso é crucial notar, pois desta forma criou-se e desenvolveu-se o racismo que ainda é tão arraigado em nossa sociedade.

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  10. (Postado por Francisco de Assis Sabadini - Diurno)

    É interessante perceber no texto de Marina de Mello e Souza como o tipo de sistema escravista em funcionamento na África antes mesmo da chegada dos portugueses fornece as possibilidades para que uma nova forma de compra e venda de escravos seja estruturado após a chegada dos europeus. A análise da autora penetra em toda a rede que conecta as relações entre portugueses africanos e o comércio de escravos, fazendo com que a escravidão entre os séculos XVI e XIX seja contextualizada junto com questões ligadas ao comércio, tradição cultural, identidade, poder e jogo político. Sem uma noção básica de como se comportava esse grande sistema que abrangia Europa, África e Brasil, a ideia que se faz da África é a de um todo integrado e homogêneo, sendo que o contrário é de suma importância para a compreensão do assunto, pois a fragmentação política, cultural e geográfica no interior do continente africano foi o ponto chave para que os portugueses tivesse êxito em obter escravos a fim de abastecer a demanda por mão-de-obra em suas colônias.
    Com as rotas portuguesas estabelecidas a escravidão adquire uma nova roupagem e proporção, a maior demanda pelo escravo acaba por intensificar as disputas tribais e as relações de poder. A forma que isto toma é a de um grande complexo escravista.

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  11. O texto de Marina de Melo Souza destaca a figura da rainha dos ambundos-jagas Njinga como poderosa governante, que em dados momentos possuía aliança com Portugal, se convertendo ao cristianismo, e em outros repudiando Portugal e suas políticas, o que nos ilustra que havia resistência por parte de governantes africanos.
    O texto também trata da diferença entre a visão africana e portuguesa quanto à escravidão, visto que na África a exploração do trabalho escravo não consistia numa máxima, bem como existia para o escravo a possibilidade de mobilidade social. Souza também trata sobre a influência portuguesa na mudança no modo de aquisição de escravos na África.

    Gabriela Bassan Piedade - Noturno

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  12. É importante destacar as transformações políticas ocorridas na região após o contato com os portugueses. Além do interesse no comércio, os portugueses estavam também interessados na conversão dos africanos. Assim sendo, quando se aceitava o cristianismo, se aceitava as influências europeias. A existência de uma missão evangelizadora, facilitava o estabelecimento de vínculos diplomáticos com os portugueses, o que poderia acarretar em uma aliança. Contudo, nem sempre se aceitavam os termos oferecidos pelos portugueses, o que poderia acarretar em tensões políticas entre as linhagens africas. Souza apresenta tais tensões resultando na chamada "Congo Síndrome". A Congo Síndrome explica as constantes e bruscas transformações no cenário político da africa centro-oriental. assim sendo, reinos surgem e se desfazem em um curto período de tempo. Além do cristianismo, percebe-se outras influências nos povos que mantiveram forte contato. Por exemplo, A aristocracia congolesa adotou títulos de nobreza portuguesas para seus chefes. A rainha Njinga, vestia, provavelmente a seu modo, com roupas e tecidos vindos da Europa. Por fim, como já foi amplamente mencionado, alterou-se as formas como eram utilizados e capturados os escravos.

    Heitor Benetti

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  13. O texto de Mariana Mello Souza trouxe, entre outros pontos, a discussão do que “parecia ser, mas não era”.
    Pra mim, como futura educadora, são textos como estes que precisam ser mais trabalhados com os discentes e posteriormente com nossos educandos, afinal, qual foi à idéia que sempre tivemos e que aprendemos na nossa educação básica sobre o tráfico negreiro e a relação entre portugueses e africanos?
    As questões são mais complexas e abrangentes do que sempre nos foi ensinado. As guerras entre etnias alimentaram o tráfico em que negros vendiam negros, para brancos que negociam com negros a moeda de troca: armas, pão, tecidos, bebidas...
    Mostra a conotação política e cultural que a escravidão tinha na África, assim como Lovejoy, ressaltando as relações de poder entre estados que utilizavam dessa pratica no controle social. Ou seja, os portugueses não escravizaram os africanos, como ainda é ensinado em muitas escolas.
    Lembremos também da idéia de “africanos”, “cultura africana”, “língua africana” como se um continente inteiro fosse uno, sem levar em consideração as diferentes etnias, crenças, formas de organização social, linguagem e interesses (não só do povo, mas dos lideres e governantes desses povos)...
    Muito foi trabalhado no texto a respeito da “diplomata Rainha Njinga”. Poderia uma mulher liderar a resistência de um povo, saber quando negociar e quando atacar, abrir concessões aos portugueses, “se europeizar” (como disse o Jack) e ainda assim ser aclamada pelos angolanos até os dias atuais?
    Souza enfatiza bastante a questão da “aculturação” trazida pelos portugueses, pois ela trabalha com a tese de que os portugueses “modificaram” e “trouxeram” para a África não só uma nova forma de degradação do ser humano por vias comerciais escravistas (o que tinha a escravidão de conotação política e social passa a ter depois da chegada dos portugas uma força muito mais comercial e econômica: Maquina mercantilista), mas também a forma com que representações da cultura européia foram sendo assimilada pelos africanos.
    Questões que envolvem o processo de colonização da África e o trafico de gentes são extremamente ambíguas e complexas, não foi só pela força que os portugueses dominaram territórios, pois o Homem é um ser político e política se faz por relações de interesses.
    Por isso acho que textos como este, de abordagem mais aprofundada sobre a relação entre África, Europa e América, deveriam ser freqüentemente trabalhados na graduação. Como é que você explica as heranças africanas na cultura brasileira para o seu aluno de sétima série, se tem gente que ainda acha que Portugal descobriu o Brasil?

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  14. Destaca-se a forma como o comércio entre portugueses e africanos era realizado. Num primeiro momento, tem se a iniciativa de grupo privados, depois, a corôa passa a intervir diretamente no mesmo. Na África, os comerciantes locais enriquecem cada vez mais com o tráfico, o qual a medida que as colônias na América prosperam, se intensificam mais as compras de escravos trazidos da África. As economias se alimentam, portanto.
    Hernane Pereira Junior

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  15. Vale colocar que o que está em jogo são relações de poder. A centralização , o monopólio e o controle de uma grande área geográfica mostram a habilidade política da rainha Njinga. Isso quebra a idéia de que os portugueses se relacionavam com povos atrasados, vindo a impor suas vontades. O próprio início do comércio de escravos, como foi citado, mostra que as trocas respeitavam as vontades dos comerciantes e os costumes locais (já que o comércio de escravos já era uma prática existente internamente na região da África estudada). Também diminui o papel da Coroa e o seu controle dos processos que aconteciam nessas relações comerciais.

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