sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Reis do Congo no Brasil

André Luiz Furtado
Cassiano Mendes
Lennon Cordeiro Silveira
Priscila Perroni
Renato Furtak
Stefani Silveira
Thiago Pedrosa

O estudo historiográfico de Elizabeth Kiddy em Quem é o rei do Congo? tenta explicar o surgimento, o desenvolvimento e a função dos reis do Congo no Brasil.
Os africanos escravos de modo geral desenvolveram uma prática de eleição de reis e rainhas, no caso do Brasil, os reis do Congo tinham um significado simbólico de conexão entre afro-brasileiros e as estruturas políticas africanas e aos seus antepassados africanos. Esta conexão fez criar uma identidade compartilhada entre as partes da comunidade negra, aprofundando os laços entre si, e seus passados. A prática da eleição de reis e rainhas fazia parte da criação de um ritual de memória, unicamente brasileiro, compartilhado entre as comunidades afro-brasileiras.
As funções dos reis africanos e afro-brasileiros, antepassados do rei do Congo, eram muito variadas. Resumindo, estes reis aparecem como líderes comunitários que supervisionavam o trabalho das associações de artesões negros, como chefes de revoluções, como líderes eleitos nas irmandades religiosas e como cabeças de rebeliões nos mocambos e quilombos.
Kiddy nos apresenta o problema da mistura de reis do Congo com reis negros, este segundo, que segundo a autora, é um termo mais geral para reis de quaisquer nações. Há estudiosos que denominam reis negros de reis do Congo, mesmo em situações em que não havia registro na documentação da existência do rei do Congo. Esse processo de simplificação que identificava todos os reis negros de reis do Congo julgar que este personagem foi uma forma de domínio social imposto de cima para baixo, e que esses reis não possuíam força alguma. Entretanto, a autora descreve a figura dos reis como parte de um processo de continuação da cultura centro-africana entre os afro-brasileiros. Reinados negros e reis do Congo gradativamente se afastam de distinções étnicas e vagarosamente vai se constituindo uma cultura afro-brasileira.
Voltando para os séculos XV e XVI, estudamos o papel desempenhado pelos reis na África e estes nos fazem entender a função dos reis nas colônias americanas. Os reis africanos tinham posições rituais importantes que mediavam vários níveis de relações sociais, religiosas e políticas; eles uniam as pessoas entre si e a tudo que existia. Nesta época o rei do Congo se tornou para os europeus, a alegoria máxima de convertimento africano ao cristianismo, entretanto, o rei do Congo entendia a religião cristã como extensão do seu próprio rito de poder. Essas divergências de entendimento causaram um mal entendido religioso, mas apesar disso a maior partes do centro-africanos se tornaram cristãos e participou das irmandades negras leigas.
As irmandades funcionavam como centros sociais e de ajuda recíproca, e eram os lugares ideais para recriar a comunidade africana no Brasil. As nomeações de reis com posição ritualística, política e militar serviam para reafirmar a identidade, o poder e a comunidade africanas. Os jesuítas auxiliaram a criação de irmandades do Rosário em todo o sertão brasileiro do século XVII, e já em meados do século XVIII, os reis já eram representantes oficiais nas irmandades religiosas leigas e nos quilombos. Mas o crescimento da população negra escrava, com a descoberta do ouro, fez nascer o sentimento de ameaça e medo de insurreições entre as autoridades, a partir daí cresce o número de tentativas de banimento das coroações das irmandades. Mas mesmo com as proibições, as irmandades continuaram a eleger reis e rainhas para conduzirem as organizações religiosas. Com isso podemos entender que a eleição de reis e rainhas já havia se tornado um “costume estabelecido” em todo o Brasil, como entende Kiddy.
No final do século XVIII os reis negros passam a ser chamados de Reis do Congo, denominação que começa a ser usada no sentido além do étnico, que é o de líder de uma comunidade de escravizados e pessoas libertas. Este rei possuía competências tanto políticas como habilidades rituais religiosas de seus ancestrais africanos. O rei do Congo é designado líder da descendência africana e recebe a lealdade dos várias nações africanas, ele era tido como o representante e governante destes povos.
O rei do Congo aparece primeiramente em 1760, nos registros de um casamento de uma princesa do Brasil, com seu tio Dom Pedro. A autora afirma que a população nesta época havia criado uma afeição pelos festejos africanos de coroação do rei do Congo, e que não se sentiam ameaçados pela festa. O título de rei do Congo aparece freqüentemente nos registros coloniais das irmandades do Rosário, e estes registros apontam diferenças entre os reis do Congo dos reis e rainhas negros eleitos todos os anos, pois o rei do Congo normalmente aparecia às escondidas das vistas das autoridades.
O rei do Congo, através de seu simbolismo, evidencia a procura por uma identidade coletiva afro-brasileira. Ele representava uma tática de preservação da ligação cultural entre o Brasil e a África Central, além de auxiliar na criação de uma nova cultura e identidade, a afro-brasileira.

KIDDY, Elizabeth W. Quem é o Rei do Congo? Um novo olhar sobre os reis africanos no Brasil. In: HEYWOOD, Linda M. Diáspora Negra no Brasil. São Paulo: Ed. Contexto, 2009, p. 165-192.

15 comentários:

  1. Ao falarmos de escravismo no Brasil não podemos deixar de falar sobre a importância que os reis negros e os reis do Congo tiveram para a formação cultural afro-brasileira. Este texto da autora Elizabeth Kiddy retrata essas questões ressaltando a mescla entre elementos religiosos cristãos e as religiões africanas. O que é interessante notar é que esses reis negros passam a exercer um papel importantíssimo na comunidade no qual eles possuem pertencimento. Responsáveis por aspectos econômicos, religiosos e políticos esses reis negros representavam uma forma de ligação entre a África e o Brasil, uma maneira de manter vivos os laços com o continente.
    A denominação Reis do Congo advém, principalmente, do fato de que, nos primeiros contatos entre portugueses e os centro-africanos, datados desde o século XV, ser o rei do Congo o principal mediador entre eles; ele representava além de sua própria etnia, outras etnias centro-africanas. Vem daí, de acordo com Kiddy, o nome de Reis do Congo para os reis negros brasileiros, coroados principalmente, ao longo do século XIX. Mesmo que esses reis do Congo não pertencessem a essa etnia, já que era comum ver um rei líder, de determinada etnia, “comandar” africanos de etnias diferentes e até mesmo rivais nos seus locais de origem, era uma maneira encontrada para solidificar o papel que esses reis exerciam em suas comunidades, que possuíam características distintas ao longo do território brasileiro. Com isso,na idéia de Kiddy, esses reis contribuíram enormemente para a formação das chamada “identidade afro-brasileira”.

    Paula Fernandes Henrique - noturno

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  2. É importante, ao pensarmos na construção de uma cultura afro-brasileira, no papel desempenhado pelos reis negros e reis do Congo no Brasil. Os reis africanos desempenharam no Brasil diversas funções, desde chefes de revoluções violentas até chefes de festejos religiosos. É fato que a importância da existência de reis para os africanos remonta a seu passado na África, caracterizando para a autora a adaptação da cultura africana a partir do processo de misturar sua cultura com a européia, dando origem a uma cultura nova e distinta, qual seja, a cultura afro-brasileira. É importante pensarmos que o papel desempenhado pelos reis é de essencial importância para a compreensão do mundo dos africanos, uma vez que estes líderes possuíam posições rituais importantes e mediavam vários níveis de relações sociais, religiosas e políticas. Ainda, acerca dos reis africanos, é importante pensarmos que a autora Elizabeth Kiddy, demonstra, ao longo do texto, que os reis negros foram com o passar do tempo adotando a denominação reis do Congo, ou seja, os reis negros tornaram-se reis do Congo, sendo que a partir de meados do século XVIII e começo do século XIX, os reis do Congo passaram a representar centro-africanos de diversas etnias, principalmente, como foi discutido em sala durante o seminário pelo professor Marcos Sorrilha e alunos, pelo papel importante desempenhado pelo rei do Congo no século XV, sendo este responsável pelo contato entre sua tribo, exercendo influencia sobre comunidades distintas e ainda mais, servindo como “meio de comunicação” de africanos e europeus no momento da chegada destes, devido a sua forte influência.

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  3. Achei interessante o ponto em que a autora tratou do sincretismo religioso que acontecia na África entre as demais religiões africanas e o catolicismo. Os africanos se apropriavam da religião europeia de forma singular ao acreditarem que o símbolos do catolicismo também poderiam afastar o mal e passaram a fazer parte de seus rituais. Caso semelhante é narrado no texto de Parés, quando o autor narra um caso ocorrido no reino do Daomé, onde os líderes adotaram alguns cultos alheios não apenas para obter poder, mas para evitar a cólera de outras divindades.
    Isso prova que conversão ao catolicismo nem sempre se deu de forma forçada ou por estratégias econômicas, mas sim por uma própria característica das religiões africanas.

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  4. O texto postado apresenta a figura do Rei do Congo (e/ou negro) como duplamente importante: líder religioso e responsável por ritos oriundos do continente africano, unindo também o catolicismo à cultura africana, e também apresenta-se como líder político, responsável pela ligação dos africanos com os brasileiros.

    O que chama bastante a atenção também é onde é citado que as autoridades temiam essas celebrações de coroação do Rei do Congo, identificando-o como um líder para um levante ou rebeldia escrava. O medo pairava sobre as autoridades em qualquer tipo de manifestação negra pelo que parece, seja ela positiva ou negativa, não importa o quanto inocente poderia ser (não digo aqui que uma eleição e coroação de um Rei do Congo seja inocente, no entanto).

    Apesar do medo gerado, penso que a coroação dos Reis do Congo (ou negros) foi de muito benefício para uma formação de uma possível identidade afro-brasileira, visto que é citado que, como figura pivô de ligação entre as manifestações culturais brasileiras com as centro-africanas, é evidente que isso só poderia resultar em uma mistura de culturas, formando, então, uma cultura afro-brasileira.

    João Paulo Bonome Neto - Matutino

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  5. Acho muito interessante o ponto em que a autora afirmou que a prática da eleição de reis e rainhas fazia parte da criação de um ritual de memória, que era unicamente brasileiro, e compartilhado entre as comunidades afro-brasileiras, já que tal fato gerou um laço maior entre afro-brasileiros aos seus antepassados africanos. Ela coloca a figura dos reis como uma espécie de processo de continuação da cultura centro-africana entre os afro-brasileiros, o que, por fim, cria uma cultura afro-brasileira.
    Também é bastante relevante o medo que as autoridades passaram a ter em relação à coroação de reis e rainhas, isso porque a população negra aumentou gradativamente, o que fez crescer o medo e o sentimento de ameaça diante de uma possível insurreição. Por isso a tentativa de banimento dessas coroações. Mas, mesmo com essa tentativa, elas permaneceram elegendo seus reis e rainhas Com isso podemos entender que a eleição de reis e rainhas. É surpreendente a força com que a cultura afro-brasileira foi se estabelecendo, mesmo diante das tentativas de proibições e banimento. E, assim como diz a própria autora, isso evidencia nada mais que uma constante procura por uma identidade coletiva afro-brasileira, na intenção de preservar a ligação cultural que existia entre o Brasil e a África Central, e essa tentativa de preservação acabou por auxiliar a criação da identidade afro-brasileira.


    Marina C. Bianchi - Matutino

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  6. É válido ressaltar, quanto às relações de poder no mundo Atlântico escravista, o modelo teórico do teatro e contrateatro, desenvolvido por E.P. Thompson – e referido pelo Prof. Sorrilha na última aula. O modelo de Thompson, que remete originalmente às relações entre patrícios e plebeus na Inglaterra do séc XVIII, cabe ao mundo atlântico uma vez que, também aqui, as relações entre senhores e escravos se revestiam de elementos artificiais de caráter simbólico/ritualístico. Assim, como ressalta o autor, a hegemonia é mantida através deste papel teatral, isto é, antes por “gestos e posturas que responsabilidades reais. O teatro dos poderosos não dependia do cuidado constante e diário dessas responsabilidades, [...] mas de intervenções dramáticas ocasionais” e era correspondido pelo contrateatro, uma vez que “os plebeus afirmavam a sua presença por um teatro de ameça e sedição.”*
    Acredito que a relação entre este modelo e a estrutura social dos dois períodos seja bastante clara, mas, ainda assim, cabe a referência a temas desenvolvidos em diversos textos, como as estratégias de resistência desenvolvidas pelos escravos e as concessões correspondidas pelos senhores, como os dias de descanso ou as festas. Apesar de ser este um comentário um pouco solto quanto aos textos, penso que se refere a uma das discussões que perpassam a disciplina.

    * Citações retiradas de THOMPSON, E.P. Patrícios e Plebeus In: Costumes em Comum. São Paulo: Cia das Letras, 1998. p. 48.e 65, respectivamente.
    - Isadora Remundini - Matutino

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  7. Este texto sobre os reis do Congo é importante, como já citado acima, para compreendermos o surgimento de uma cultura afro-brasileira que dava identidade aos africanos vindos para o Brasil e posteriormente, também seus descendentes. Essa cultura surgiu, segundo Elizabeth Kiddy, após a combinação de elementos da cultura africana com elementos da cultura européia. O principal ponto de união das culturas foi o cristianismo, que para a autora ao ser incorporado à cultura africana passou por alterações e gerou algo diferente do cristianismo europeu uma vez que características africanas foram empregadas a este. É importante pensar no papel dos reis africanos para a "manutenção" da cultura africana. Sendo os reis muito importantes na África estes, passaram no Brasil, a desenpenhar papéis semelhantes, seja como chefes de revoluções, de festejos ou celebrações. Estes são consiferados importantes para os africanos pois representam a mediação, por meio de rituais, entre a sociedade e o ambiente natural, e entre os vivos e os mortos.

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  8. A prática do festejo da congada, bem como o ritual de coroação do rei do congo exibem de forma contundente uma característica peculiar da sociedade escravista: a relação de dependência que a ordem escravista tem da ordem dos escravizados. Pois, mais do que uma folia inocente, tem suas funções sociais verificáveis no que diz respeito ao andamento da vida quotidiana na sociedade em que esses reis estão inseridos. Não apenas se torna o rei como elemento de convergência dos escravizados daquela sociedade, revelando as características da "nação negra" que se forma nas terras do Brasil, mas no seu interagir com a sociedade como um todo demonstra a necessidade da manutenção da ordem para o bom andamento da sociedade, quer dizer, o abrandamento das ações que os senhores tem com os escravizados, e também a elevação da própria imagem do negro na sociedade.

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  9. Diferentemente de Kiddy, Marina de Mello aponta, em estudos sobre os congados, que a coroação de reis negros não acontece somente no Brasil, mas também em outros locais que receberam escravos da África Centro-Ocidental. José Ramos Tinhorão também aponta a existência dos congados em Portugal.
    Kiddy compreende a coroação de reis negros (seja por motivos festivos, ou não) como uma sobrevivência da cultura africana no Brasil, ou ainda, como uma continuação desta. Entretanto, devemos compreender esses rituais como estratégias de sociabilidade forjados no ambente escravista, que possuem, obviamente contribuições africanas, mas que contam um pouco da história do Atlântico, ou seja, da Europa, da África e da América em ligação, sem esquecer o quão violento se configurou o escravismo moderno.
    Além disso, no ponto em que a autora fala sobre a conversão do Congo ao Cristianismo como um "mal entendido", existem autores que discordam dessa colocação, como Alberto da Costa e Silva, insinuando que a conversão poderia fazer parte do intuito das elites conguesas de "modernizar" (com todas as aspas possíveis) o país, trazendo novas técnicas, alterando processos produtivos e etc. A conversão teria acontecido por haver a percepção de que as duas partes poderiam ser favorecidas.

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  10. Há uma passagem no livro "Os bestializados - O Rio de Janeiro e a República que não foi" do José Murilo de Carvalho, em que, no primeiro semestre do ano de 1889, na comemoração do retorno do imperador, que fizera uma viagem de férias, ao Brasil, um rei congo devidamente trajado para uma ocasião especial estava junto da multidão para saldar o imperador (lembrando a questão da abolição, que ocorrera por "intermédio" de sua filha), cujo acontecimento foi relatado por Carvalho como sendo o rei das ruas, o rei negro, saldando o imperador de olhos azuis, porém aquele fora detido pela polícia, por acreditarem que fosse motivo de chacota ao poder oficial...

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  11. A partir do texto é interessante pensar a consciência afro-brasileira no país. A autora aborda a continuação da cultura centro africana entre os afro-brasileiros e ressalta a formação de uma identidade coletiva, na qual a coroação do rei passa a ser um costume no páis. Nesse sentido, ao pensar a identidade coletiva " os reis negros, tornan-se reis do Congo"; os reis etnicos- representantes de cada nação- passam a ser reis do Congo, devido ao reconhecimento e "fama" do Rei do Congo, na África.

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  12. Perfazendo um debate historiográfico, a autora comenta a falta de clareza em alguns trabalhos onde o termo “reinos negros” é concebido como sinônimo de reis do Congo. A partir do final do século XVIII, os reis negros começaram a se denominar como Reis do Congo. Perdeu-se o sentido étnico e o termo passou a ser utilizado por todo e qualquer líder de uma comunidade onde estivessem presentes escravos e libertos. Segundo a autora, a própria compreensão do papel exercido pelo rei do Congo precisa ser repensada. A generalização do termo explica-se pela compreensão distorcida do significado da coroação do Rei do Congo. Esta deve ser compreendida como “uma continuação da cultura centro-africana entre os afro-brasileiros”. Um bom exemplo é o de Minas Gerais no século XVIII, quando a documentação referente aos quilombos incluía a presença de reis e rainhas como “líderes” da comunidade. Do mesmo modo, irmandades mineiras, apesar de uma proibição datada de 1720, elegiam reis e rainhas entre os negros para conduzirem suas organizações. Os reis das irmandades possuíam poder local e temporal. Exerciam a função de líderes entre os demais membros da população. Para Kiddy, a continuação de um processo que data dos primeiros dias da escravidão no Brasil representou a tradição de reis e rainhas entre os afro-brasileiros.

    Daniel Mazinini Rosa - Matutino

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  13. Os reis do Congo representavam uma importante ligação entre a população africana no Brasil e seus descendentes com a cultura africana e seus antepassados, conhecidos como “pretos velhos”. Sendo importante observar o papel que os reis do Congo possuíam na criação de uma identidade comum e do resgate de um passado comum. Eram eles os que poderiam estabelecer e fortalecer um vínculo com a ancestralidade de seu povo. Criaram uma memória ligada as suas raízes africanas, mas, ao mesmo tempo, um passado distinto e unicamente brasileiro.
    A tentativa de pensar uma cultura puramente africana, no sentido de autenticidade, ou mesmo de resgatar algumas “sobrevivências” africanas, constitui-se um problema, pois segundo Heywood, no século VXII na cultura centro-africana já era possível perceber uma considerável presença de elementos da cultura europeia. Com a chegada dos africanos no Brasil as misturas culturais continuaram, demonstrando um processo de adaptação a novo cenário. Porém, adaptar-se não deve ser interpretado como destruição da cultura africana, mas uma forma de sobreviver e até prosperar, sendo uma cultura dinâmica, que na adaptação permanece.
    Igualmente como já demonstrado por Thornton, em seu capítulo “As transformações da cultura africana no mundo atlântico”, as culturas estão em constante mutação, havendo sempre processos de trocas e apropriações de culturas diferentes. Raramente as pessoas de posicionam como militantes, impedindo que sua cultura permaneça impermeável e intacta. Partindo desta análise, mesmo que os Reis do Congo fossem simbolicamente um elo entre afro-brasileiros e a cultura africana, eles estavam em outro ambiente e em outras situações (econômicas, políticas e sociais) que impossibilitariam que a cultura africana permanece-se sem profundas transformações. Assim, mesmo havendo a preservação de uma memória dos ancestrais africanos a cultura era outra, havendo grande flexibilidade e adaptação.

    Andréa Manfredi da Costa - Diurno

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