sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Reis negros e reis do Congo no Brasil: estratégia contínua de preservar a ligação com a África

Angélica Alves
Mariana Pereira Garcia
Paula Fernandes Henrique

 Ao se estudar a história referente aos negros vindos da África para o Brasil, a partir do período colonial, dentre os pontos que nos chama a atenção, se tem à existência de comunidades afro-brasileiras, nas quais é perceptível nas manifestações culturais, elementos da tradição africana e europeia. Com isso, é possível ver a formação de uma cultura afro-brasileira que possui uma mescla de elementos e que vão servir como forma de identificação e também de resistência entre os africanos e seus descendentes aqui do Brasil.
               Nesse sentido, ao abordar a temática dos reis negros no Brasil, faz-se necessário retomar a existência dos mesmos na África e compreender o seu papel na sociedade, uma vez que no Brasil, os reis negros assumiram, geralmente, funções de liderança nas irmandades nas quais eles pertenciam. Na África, entretanto, eles ocupavam tanto funções políticas quanto econômicas.
Quando os portugueses chegaram ao continente africano, no decorrer do século XV, encontraram no Congo um reino já consolidado. No entanto, aconteceu um fenômeno interessante neste momento: nas regiões controladas por portugueses, principalmente no Congo, ocorreu a conversão africana ao Catolicismo europeu. Sobre este aspecto Elizabeth ressalta que havia um “mutuo mal- entendido”, já que o catolicismo cultuado na África era apenas uma reinterpretação do mesmo por parte dos adeptos africanos, sendo geralmente associado a uma nova proteção contra a feitiçaria, comum na região centro-africana. A autora ressalta que uns dos elementos que ligavam esses dois catolicismos era a dualidade entre o sagrado e o profano. Assim, ao longo do tempo, os africanos adotavam práticas cristãs para expressar suas crenças tradicionais, o que será possível ver com as Irmandades religiosas negras que passam a surgir no Brasil.
             Essas Irmandades leigas foram importantes espaços onde era possível ver inúmeras festas católicas, além de realizarem a caridade e trabalhar na sociabilidade dos africanos e afrosdescendentes em um país diferente daquele de origem, fazendo com que elementos da cultura africana se fizessem presente em terras americanas. Eram nessas Irmandades leigas, como por exemplo, a de Nossa Senhora do Rosário, uma das primeiras a ser fundada em terras brasileiras, mais precisamente no nordeste do país, que era possível ver a nomeação de reis e rainhas negras, dotados de poder ritualístico, militar e político. A coroação de reis e rainhas, na Irmandade do Rosário, por exemplo, contava com a celebração de uma missa no dia das coroações, além de também serem presentes, nestes rituais, muitas danças e cantos. Isso mostra bem a ligação entre elementos católicos e elementos da cultura africana.
  É importante lembrar que, no século XVIII, o número de Irmandades, no Brasil, cresceu junto com o número de escravos que aqui chegavam. Os principais destinos eram as capitanias de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e também no Rio de Janeiro. Esse crescimento do número de escravos, de Irmandades e, conseqüentemente, de fugas e formação de quilombos, levaram as autoridades a ver nessas Irmandades negras uma ameaça constante. Assim, tentaram banir a coroação, em alguns lugares, como por exemplo, em Salvador.  Como punição para os escravos que participassem dessas coroações estavam desde castigos corporais até isolamento total em relação aos outros negros.
                No entanto, mesmo com a proibição e as restrições feitas por Portugal no século XVIII, já que com o governo de Pombal a centralização do poder nas capitanias se faz presente, a coroação de reis e rainhas entre os negros apresentou-se como um costume recorrente em todo o Brasil. Os reis negros, termo usado para se referir a reis de nações, estavam presentes em festejos dinásticos, festas religiosas e comemorações de honra. Ainda é preciso ressaltar que no século XIX, os reis negros passaram a ser chamados reis do Congo, uma forma de referência ao papel que esses reis negros possuíam no Brasil.
Importante lembrar que essa denominação, no Brasil, advém da importância e fama que o rei do Congo possuía. Assim, quando se muda o nome de títulos étnicos para “Reis do Congo”, nota-se a emergência de uma identidade coletiva e da própria cultura afro-brasileira. Essa identidade compartilhada é a continuação da cultura centro- africana entre os afro-brasileiros, pois os reis do congo ligam os afro-brasileiros a estruturas políticas que remetem a África.
Assim, essas Irmandades que tinham como líderes reis e rainhas do Congo, serviram como uma forma de manter os laços com a África e a cultura advinda de lá. Elas tinham o papel de perpetuar alguns elementos da cultura africana que poderiam se perder ao longo do tempo. Percebe-se que esses reis e rainhas, continuam a ter sentido para a população que representam e se destacam pela formação de novas identidades.

KIDDY, Elizabeth W. Quem é o Rei do Congo? Um novo olhar sobre os reis africanos no Brasil. In: HEYWOOD, Linda M. Diáspora Negra no Brasil. São Paulo: Ed. Contexto, 2009, p. 165-192.

19 comentários:

  1. É surpreendente pensar que numa sociedade escravista, como a brasileira, se tinha a existência de reinados negros. Contudo, essa existência é comprovada por eleições de escravo para reis e rainhas que tinham funções extremamente importantes para seu povo, como: aproximar o vínculo entre essa cultura escrava brasileira, com a cultura originária da África, deles mesmos, ou de seus antecedentes. Essa força dos reis do Congo não parava apenas no social, mas principalmente no religioso, traduzindo um processo por meio do qual alguns africanos e afrodescendentes elaboraram uma identidade negra católica, uma formação de um "catolicismo africano".

    ResponderExcluir
  2. Acho interessante a formação dessas irmandades, que perpetuavam aspectos da cultura africana, que poderiam ser esquecidos ao longo do tempo, fazendo assim uma mescla entre a cultura afro brasileira com a cultura propriamente africana. Foi importante para os escravos manter esse laço com a raiz de sua cultura através da permanência dessa tradição de coroação de reis e rainhas; isso mostra a força que sua cultura possuía, mesmo quando inseridos em uma sociedade altamente escravista, que os proibiam e os castigavam por manterem certas tradições.

    Marina C. Bianchi - diurno

    ResponderExcluir
  3. Achei esse texto muito válido para quebrar com a visão de uma sociedade em que o escravo não possuía nenhum tipo de liberdade e autonomia. Mesmo sendo escravos, tendo que obedecer a seus senhores e possuindo um tipo de liberdade parcial, a liberdade e autonomia existiam. De acordo com o texto, podemos ver reuniões e interações entre escravos, e até mesmo viagens (mesmo supervisionadas) de escravos para outras vilas para assistirem a coroação dos reis e rainhas.
    O papel desses reis foi o de ser uma das figuras que auxiliaram a manter certas tradições e atividades culturais trazidas da África Central, e além disso fazer com que a cultura centro africana fosse mesclada com a portuguesa, chegando assim numa cultura particular afro- brasileira.

    Stéfani da Silveira Barea/ Diurno

    ResponderExcluir
  4. É importante, ao pensarmos na construção de uma cultura afro-brasileira, no papel desempenhado pelos reis negros e reis do Congo no Brasil. Os reis africanos desempenharam no Brasil diversas funções, desde chefes de revoluções violentas até chefes de festejos religiosos. É fato que a importância da existência de reis para os africanos remonta a seu passado na África, caracterizando para a autora a adaptação da cultura africana a partir do processo de misturar sua cultura com a européia, dando origem a uma cultura nova e distinta, qual seja, a cultura afro-brasileira. É importante pensarmos que o papel desempenhado pelos reis é de essencial importância para a compreensão do mundo dos africanos, uma vez que estes líderes possuíam posições rituais importantes e mediavam vários níveis de relações sociais, religiosas e políticas. Ainda, acerca dos reis africanos, é importante pensarmos que a autora Elizabeth Kiddy, demonstra, ao longo do texto, que os reis negros foram com o passar do tempo adotando a denominação reis do Congo, ou seja, os reis negros tornaram-se reis do Congo, sendo que a partir de meados do século XVIII e começo do século XIX, os reis do Congo passaram a representar centro-africanos de diversas etnias, principalmente, como foi discutido em sala durante o seminário pelo professor Marcos Sorrilha e alunos, pelo papel importante desempenhado pelo rei do Congo no século XV, sendo este responsável pelo contato entre sua tribo, exercendo influencia sobre comunidades distintas e ainda mais, servindo como “meio de comunicação” de africanos e europeus no momento da chegada destes, devido a sua forte influência.

    ResponderExcluir
  5. Realmente, lendo os comentários aqui postados concordo com a Stéfani e com o Víctor ao perceberem neste texto a demonstração de uma visão mais "ativa" no escravo em nosso país. Pensamos por muito tempo no escravo como um ser socialmente excluído, principalmente por ter a sua liberdade tolida por seu senhor. Todavia, a partir dos textos estudados por nós neste curso, Escravismo Moderno e Identidades Afro-Brasileiras, notamos o escravo não como uma vítima, que sofre silenciosamente nas mãos de seu senhor, mas, como um ser que age em função de suas idéias e busca, de alguma forma, encontrar o seu lugar e propagar sua voz, seja por meio de revoltas, resistências, assim como também a busca por meios de manutenção de sua cultura de origem, adapatada à cultura presente, representando a "mistura" de representações africanas com européias, gerando aqui, uma cultura nova, afri-brasileira, como é o caso dos reis africanos no Brasil. É realmente surpreendente, como afirma o Victor verem descritas essas coroações no Brasil, todavia, não podemos esquecer da força destas, uma vez que mesmo com diversas proibições a prática se mantinha como um "costume estabelecido".

    Mariana Pereira Garcia/ Diurno

    ResponderExcluir
  6. Concordo com o que escreveu a Stéfani. O texto abre a oportunidade de se discutir até que ponto os escravos possuiam liberdades dentro do sistema escravocrata vigente. Nesse sentido, acredito ser a religião um dos maiores exemplos dessa liberdade. As coroações dos reis do Congo são manifestações onde se percebe de forma bastante clara algumas destas liberdades. Além disso, cabe aqui observar que os rituais dos reis africanos em terras brasileiras gerou um tipo de cultura realmente nova, a cultura afro-brasileira.

    ResponderExcluir
  7. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  8. Concordo com vocês, a presença desses reis negros e os diversos papéis sociais que eles assumiam demonstram formas de organização e resistência à condição de escravo. O que foge daquela visão simplista que demonstra só o papel passivo que o escravo podia ter sendo somente uma propriedade de seu senhor.
    Este texto apresenta uma leitura do cotidiano dos escravos que remonta a resistência de práticas centro-africanas e a adaptação dessas práticas à cultura luso-europeia e brasileira. Dessa forma a conversão dos centro-africanos ao cristianismo nos mostra como os centro-africanos se apropriaram e agregaram as estruturas e instituições religiosas europeias a seus ritos e costumes. 
    Assim a coroação de reis negros que era vista de formas contraditórias em diversas regiões da colônia, ela pode ser vista como uma forma de manifestação de práticas que buscavam amenizar os impactos da escravidão no cotidiano dos indivíduos escravizados em situações mais comuns, mas em determinados momentos poderia servir para guiar a estrutura social e organizar os negros em situações de conflito, como ocorreu com Palmares na coroação de Ganga Zumba onde o mesmo chega até a tentar negociar a paz entre palmares e o governador de pernambuco, o que demonstra que esses reis não tinham somente o papel alegórico das festividades religiosas e seu papel social ia muito além, pois o universo religioso passa a ser somente uma das atribuições dos domínios desses reis, pois esses domínios podiam ir desde a esfera religiosa, amparando-se nas diversas formas de religiosidades centro-africanas e europeias até a hierarquização da organização social como no caso de Palmares.

    Renato Furtak – Diurno?

    ResponderExcluir
  9. Apesar de não concordar com os métodos utilizados pela ELizabeth, achei o tema muito interessante, porque hoje, séculos depois da chegada de negros no Brasil, vemos viva a cultura que eles acrescentaram a nossa. Independente que ela é: brasileira, africana ou afro-brasileira. Ela faz parte dos nosso passado e sobrevive, dentro do possível, com suas características próprias e as adquiridas em nosso continente.

    ResponderExcluir
  10. Concordando com André sobre os métodos empregados pela Elizabeth, onde ela tende a usar de fatos para confirmação de suas idéias sem questionamentos mais profundos, ao mesmo tempo em que usa de outros para ilustrar o que ela não concorda. Mesmo assim, através do texto podemos conseguir uma visão mais real de como os negros estavam inseridos na própria estrutura social, e entender o quão mais ativo o escravo estava dentro deste panorama institucional em que a visão que predomina ainda é a do papel passivo sem nenhuma participação ou autonomia por partes destes escravos. O fato dos próprios governantes se preocuparem com esta autonomia que por vezes chegavam a eles já demonstra que o escravo sabia se organizar e eleger um líder, mesmo que sob toda a sombra do passado no rei do congo, e a representação que estava inserida nisso. Portanto, alem da própria autonomia, teremos a cultura que será de difícil definição, afinal, ela será ibérica, antes mesmo dos escravos estarem inseridos no Brasil, será africana, tendo preservado sua cultura sem discernimento da presença ibérica, será brasileira...ou afro-brasileira? Elizabeth afirma que a cultura africana é tao forte que soube permanecer sob todas as circunstancias se remodelando, mas até onde uma cultura permanece a medida que se torna diferente para conviver com outra?

    ResponderExcluir
  11. Pra mim o interessante do texto de Elizabeth Kiddy é perceber como os grupos negros passam a se formar e, com isso, constituir uma forma de identidade afro-brasileira. Os reis negros e, posteriormente, os reis do Congo foram figuras importantes para que os laços com a cultura africana, deixada pra trás com a vinda para a América, não fossem totalmente desfeitos nesta passagem. Apesar de ter existido a mescla de elementos cristãos com as religiões pagãs da África, a autora do texto busca sempre priorizar as fontes que fazem referência aos elementos africanos em detrimentos daqueles relatos que procuram enfatizar os caracteres cristãos dos rituais presentes nas irmandades e grupos que se formaram ao longo do período escravista no Brasil.
    Além disso, achei interessante a diferenciação existente entre essas irmandades ao longo do território brasileiro, como é possível ver na descrição da autora no decorrer do texto. Em alguns locais essas irmandades eram aceitas sem quase nenhuma restrição pelos senhores, que consideravam essas organizações uma forma de “distração” dos negros. Entretanto, em algumas localidades, como é possível ver em alguns pontos do Nordeste, essas irmandades possuíam uma conotação negativa, ligada às organizações que procuravam resistir à escravidão se utilizando de meios violentos, como é possível ver em alguns relatos. Porém, mesmo assim, essas irmandades, cada vez mais, se desenvolviam ao longo do território brasileiro.

    ResponderExcluir
  12. Ao ler este texto um dos pontos que mais me chama a atenção refere-se à relação dos reis dos negros no Brasil com o cristianismo. Após a coversão do rei do Congo no seculo XV ao cristianismo, muitos africanos passaram a fazer parte desta religião. Ainda, a coversão do rei do Congo representava, para os europeus o simbolo maior de conversão africana ao cristianismo, logo, a vitória do cristianismo sobre o paganismo africano. No entanto, temos que pensar esta conversão como uma via de mão dupla, pois caracterizava, como afirma Kiddy, um "dialolo entre surdos", uma vez que esta conversão significava para os africanos não a aceitação de crenças cristãs em detrimento as suas, mas no triunfo das tradiçoes africanas, pois os reis do Congo entenderam o cristianismo como um extensão natural do seu proprio ritual de poder, adaptando-se às praticas africanas ja existentes, como ritos e talismas catolicos que foram incorporados à proteçoes contra a feitiçaria. Sendo assim, para a autora, esse cristianismo deve ser pensado como um cristianismo tanto africano quanto cristão.

    Daniel Hipolito - Noturno

    ResponderExcluir
  13. Segundo a perspectiva da estudiosa Elizabeth Kiddy ao se propor discutir os reis negros e os reis do Congo no Brasil,podemos perceber o destaque que é dado pela a manutenção da cultura africana e também para o surgimento de uma cultura nova, a qual é nomeada por Kiddy como “afro-brasileira”. Através da narrativa de Kiddy somos levados ao compreender o fato dos senhores não se importarem com a ocorrência da coroação no início, já que os senhores viam tais manifestações como apenas festividades,mas após algum tempo essa abertura que tinham sido dada e negociada com o negros escravos foi revista pelos senhores e a partir daí há proibições com o intuito de extinguir as coroações,pois elas passaram a serem vistas como suporte para a união dos africanos. Mas é interessante notar que mesmo enfrentando barreiras, a ocorrência das coroações não deixaram de acontecer e desse modo acabaram por se sedimentar como verdadeiro costume dentro da cultura brasileira e permanece vivo até os dias atuais em certas regiões do Brasil.

    Ana Paula Svirbul de Oliveira - 4H Noturno!

    ResponderExcluir
  14. O texto de Elizabeth Kiddy visa, entre outros aspectos, demonstrar a presença de reis negros e reis do Congo no Brasil. A autora como podemos notar pelo texto e por comentários de colegas, visa, entre outras coisas, demonstrar a importância desses reis para a cultura africana, e mais, entender como a presença desses reis no Brasil foi importante para a manutenção da cultura africana e com esta deu suporte ao “nascimento” de uma cultura nova, denominada pela autora de afro-brasileira. Porém, um importante questionamento, proposto por Marina de Mello e Souza nos vem à cabeça quando pensamos no assunto, pois “A existência de reis negros em várias sociedades coloniais das Américas é fato que à primeira vista surpreende, pois afinal estas eram s ociedades escravistas, nas quais os af ricanos e seus descendentes, isto é, os negros, eram na maioria das vezes propriedade de seus senhores, ou seja, escravos, portanto, como podiam, em algumas situações, ser reis?”* Tentando responder ao questionamento de Marina, podemos notar pelos posicionamentos de Kiddy, que muitos senhores não se importavam com tal coroação, acreditando ser esta apenas uma festividade, no entanto, durante todo o período analisado no texto, vários locais como Minas Gerais e Rio de Janeiro, a partir de proibições de governadores, por exemplo, buscaram banir tal coroação, entendendo que estas poderiam representar a união e força dos africanos e seus descendentes caso se unissem, como foi o caso de Palmares. Todavia, percebemos que mesmo após as proibições, as coroações sempre existiram, representando uma espécie de “costume estabelecido” em nosso país, o que representou a sua continuidade em terras brasileiras.

    ResponderExcluir
  15. Creio eu que pensar a importância dos chamados "Reis do Congo" para a cultura e desenvolvimento da sociedade brasileira é de extrema relevância, posto que nossa cultura ainda carrega inúmeros elementos do período colonial, onde houve por parte dos senhores de escravo, uma certa conivência para com algumas tradições africana, ou mesmo forma veladas de resistência escrava ao domínio senhoril que se tornaram hoje para nós tradições instituídas da cultura afro-brasileira, para com os povos escravizados e eu vejo a "coroação" de reis negros como uma destas conivências, dado que a existência destes reis para uns eram tidas como inofensivas para outros como extremamente perigosas como é relatado no texto de Elizabeth Kiddy.

    ResponderExcluir
  16. Realmente este texto serviu pra nos mostrar a face mais autônoma e livre dos escravos no Brasil, a visão de que estes escravos viviam para trabalhar é dissipada. Escravos tinham a liberdade de eleger representantes para si, no caso os reis negros e depois reis do Congo, além de terem a possibilidade de se locomover para ver estas eleições e coroações de reis. De acordo com a autora, a função destes reis foi a de manter e preservar algumas tradições vindas da África Central, e para depois se adaptar à cultura ibérica existente no país formando a cultura afro-brasileira.
    Mas quanto ao último quesito que citei, acho que a autora falha ao dizer que a cultura africana é tão forte e difícil de se acabar com ela, mas ao se adaptar e se acoplar a outra cultural, no meu entender isso demonstra que ela não é tão forte assim, mais forte que ela é a cultura ibérica (ocidental), que conseguiu chegar aqui e alcançou todos.

    Lennon Gustavo Cordeiro Silveira - diurno

    ResponderExcluir
  17. O texto de Elizabeth Kiddy complementa algumas questões que Nicolau Parés aborda e que não se esgotam ao longo do capítulo que vimos quanto ao sincretismo das práticas religiosas no território brasileiro. Nesse sentido Kiddy aponta, assim como propõe Parés, acerca do processo de ressignificação das práticas religiosas as quais já ocorriam de forma bastante incisiva desde o século XV. Deste modo a formação de uma cultura afro-brasileira consumou-se a partir de eventos culturais e políticos que já se apresentavam no cenário africano quando do confronto entre portugueses e africanos. Aspecto evidenciado, por exemplo, na conversão do rei do Congo ao cristianismo constituindo significado tanto para os africanos quanto para os portugueses. Assim a formação de uma cultura afro-brasileira sob o prisma da ressignificação torna-se mais inteligível a partir dessa herança na constituição daquelas sociedades.

    Rodrigo Rufino - Noturno

    ResponderExcluir
  18. (comentando o texto postado no blog)
    Achei interessante a permanência dessa cultura aqui no Brasil. Como se manteve, apesar da crença que os escravos não tinham "espaço" (e nem sei se seria o termo correto) no que estava sendo construído no Brasil.
    Foi um dos textos que eu mais gostei. Essa construção e permanência foi o que mais me chamou a atenção durante a aula.

    Ana Carolina Robaina - noturno

    ResponderExcluir
  19. Concordo com a Stéfani quanto ao texto quebrar com aquela idéia popularizada do escravo negro como agente passivo do processo histórico, contudo, enquanto para os escravos, o rei do congo era especie de "poder paralelo" existente entre eles, muitas vezes entre a populaçao de modo geral e as autoridades publicas eram vistos com escárnio. Vale lembrar que os escravos negros iam para as festas acompanhados por jagunços e policiais... também devesse conciderar que, nem todo rei do Congo ou festas do rei do Congo eram iguais, seu carater e aceitação frente as autoridades e ao povo variavam de lugar para lugar... E ao mesmo tempo que para os negros as festas do rei do Congo fossem como uma fuga da realidade, ou possibilidade de manutenção ou até de resistencia de sua cultura, na visão dos senhores das fazendas, funcionava como um sistema de recompensa pelo trabalho, como um valvula de escape, como foi dito varias vezes durante as aulas "negro que se diverte não se subverte".

    Ícaro 4ºHD

    ResponderExcluir