Anája Souza Santos
Pedro Henrique
Juscimara Honorato
Vinícius Alencar
Vitor T. Hortelan.
Durante a primeira metade do século XIX
os batuques preenchiam o recôncavo baiano com o som dos atabaques. Dentre todos
os festejos dos quais os negros (escravos ou libertos) participavam, o batuque
era a festa que reproduzia mais fielmente as experiências dos negros na África,
talvez por isso tenha se constituído num
dos principais alicerces para a fundação de uma identidade negra e escrava na
Bahia.
Sendo um elemento tão importante para a
comunidade negra, que representava grande parte da população do recôncavo
baiano, o batuque era preocupação constante dos governantes, que além de serem
autoridades políticas eram também senhores de escravos, ou seja, o que estava
em jogo para esses homens não era apenas a manutenção da ordem, mas também do
escravo enquanto propriedade.
As autoridades baianas trataram o batuque
a partir de duas perspectivas fundamentais. Uma delas encarava esse tipo de
festejo como uma válvula de escape para os escravos. As festas representavam um
momento em que os negros podiam esquecer da miserabilidade de suas vidas, além
de ser um momento em que os escravos poderiam ter liberdade para expressarem
suas diferenças, ou seja, durante o
batuque as diferentes nações africanas podiam ressaltar suas especificidades
étnicas e culturais, o que não ocorria no dia a dia dos escravos. Outra
perspectiva via nos festejos mencionados uma ameaça para a sociedade
escravocrata, pois neles os escravos poderiam sociabilizar e tramar revoltas.
Sendo assim, as festas deveriam ser reprimidas.
A revolta dos malês em 1835 só fez
aumentar o pavor dos brancos em relação ao batuque. A partir de tal sublevação o
pânico instalou-se no recôncavo e qualquer espécie de sociabilização de
escravos ou negros libertos era vista como suposto gérmen de revolta. Talvez a
imprensa da época tenha colaborado para a proliferação deste medo exacerbado,
uma vez que muitas matérias jornalísticas tratavam de caracterizar os festejos
em questão como bárbaros e ameaçadores, tanto para a ordem pública quanto para
a moral e os bons costumes católicos.
Deste modo, podemos perceber que o temor
das autoridades do recôncavo em relação aos batuques não se dava somente no que
tange à ameaça da revolta abrupta e violenta, mas também em relação a
incorporação de elementos da cultura negra pelos brancos, que passavam por sua
vez, a frequentar os batuques. Num momento em que a cultura europeia era tida
como um modelo a ser seguido, as autoridades temiam a “africanização” do
recôncavo.
Uma coisa é certa: os batuques
representavam ameaça para as autoridades brancas. Tanto aqueles que viam nele
uma válvula de escape, quanto os que o percebiam como bárbara ameaça, buscavam
minar qualquer forma de resistência por parte da comunidade negra. Todavia, as
tentativas de reprimir os batuques, ou de torná-los meros brinquedos que
corroborassem com a manutenção da sociedade escravocrata mostraram-se vãos,
pois a proibição das festas provocava revolta, uma vez que os negros viam-na
com direito constituído; e sua liberação também não era garantia de “paz na
senzala”, pois como demonstrou a revolta dos malês, festa e revolta andavam de
mãos dadas. Sendo assim, as festas mantiveram-se ao longo desse período como
uma forma dos negros resistirem à escravidão, no sentido de manterem uma
identidade própria, sem incorporar passivamente a cultura branca e católica. Os
batuques foram responsáveis também, pela incorporação de elementos culturais de
matriz africana por parte da sociedade baiana, que acabou “africanizando-se”
mais do que foi “europeizada”.
Em seu texto o autor João José Reis faz menção a um outro problema que vem sendo constantemente abordado ao longo do curso, que é a preocupação da sociedade escravocrata com a mestiçagem de brancos e escravos, mais particularmente aqui o autor aponta o medo dos "brancos" com a ameaça dos negros homens, em um ambiente em que havia falta de escravas. Levando em consideração a opinião de parte da sociedade, que era aquela contraria as festas de batuques, acreditava que tal evento incitasse o sensualismo e a promiscuidade, deixando assim as mulheres brancas da época "vulneráveis" aos escravos.Tal ato contribuiria cada vez mais para a construção de uma sociedade baiana africana, em detrimento da sociedade europeizada que se visionara a princípio.
ResponderExcluirJennifer Mariano 4 Historia Noturno
Elementos culturais africanos estiveram sempre ligados a uma dicotomia, entre a permissão e proibição, exaltação ou condenação. É claro que grande parte das vezes isso está intimamente ligado com uma visão de darwinismo social, em que há a ideia de que o grande problema social brasileiro da época era a mestiçagem de sua população, e que a solução para tal era o branqueamento de sua população. Dessa maneira, as medidas seguiam na ordem de trazer imigrantes europeus e evitar que a cultura negra permeasse nos valores culturais brasileiros.
ResponderExcluirRafael de Castro Hirabahasi (4º ano - Diurno)
As festas sempre foram motivo de discussões sobre qual seria o seu papel e sua representação na sociedade, sendo que para muitos era como em meio de expressão da resistência escrava e negra no Brasil e outros a entendiam como uma preparação para as revoltas. Isso é abordado no texto por REIS, e ele aborda isso usando documentos e analisando o perfil dos participantes e atitudes de senhores e autoridades políticas e policiais diante destas festas, e coloca uma questão: a quem serve a festa?
ResponderExcluirAluna: Lucimar Ranuzzi - noturno
A questão das festas realizadas por escravos, por mais que estejam sempre ligadas a dicotomia da autonomia negra e da elaboração de revoltas, mostravam a necessidade dos africanos de sair do ambiente de opressão de seus senhores. Submetidos a uma rotina dura de "trabalho", os escravos, ao serem privados dessas festas se mostrariam mais propensos a buscar revoltas, umas vez que estes não visavam de momentos de socialização dentro de uma rotina absolutamente bruta, porém, deve-se lembrar que, ao possuírem tal liberdade para a realização destas festas, as conspirações negras poderiam acontecer de forma mais recorrente. Dessa forma vemos a necessidade dos senhores de ter uma administração parcimoniosa dessas festividades, para que elas funcionassem como um elemento de gratidão dos escravos para com seus senhores, buscando se evitar assim os desejos de revolta dos negros.
ResponderExcluirCarolina Valli Ferreira - 4º ano/Diurno
As tentativas de imposição de uma cultura civilizada sobre hábitos e costumes considerados bárbaros são evidenciados desde os primeiros anos de colonização portuguesa, mas toma forma no período imperial. Nesse sentido, esse pensamento civilizador ganha grande influência na sociedade baiana do século XIX, algo pode ser exemplificado nas discussões, em 1855, sobre o batuque (festas negras) ocorridas na Assembléia Provincial baiana, onde, nesse momento, os deputados visavam combater esses costumes africanos, no qual eram considerados imorais e bárbaros e consequentemente prejudicaria o caminho da província para se tornar civilizada. Além disso, vale destacar, que tal situação é bem diferente do que ocorreu em 1835, quando as discussões sobre o combate do batuque africano, estavam relacionadas a possíveis revoltas escravas.
ResponderExcluirFilipe Faulin Valentim, 4º ano-diurno
Ao analisar as festas negras é necessário refletir sobre a postura que cada grupo social tinha sobre elas. Por exemplo, os senhores de escravos não gostavam, porém permitiam como uma forma de controle social; a igreja não se agradava, porém sempre buscava inserir os rituais e manifestações de origem africana em um ordem católica; e as autoridades da câmara que desejavam impedir os festejos, pois os concebiam como momentos propícios a desordens e problemas. Com isso, podemos refletir sobre o sentido de "ameaça" à ordem estabelecida, ou "controle" social, ou até mesmo a manifestação de "resistência" da cultura negra à branca; e, portanto, problematizar o uso desses termos. Por exemplo, o autor coloca que os negros, por meio dos batuques, puderam resistir a cultura branca, e não incorporar de maneira "passiva" o catolicismo. Ora, cabe ao historiador questionar essa tese; pois, o desenvolvimento do candomblé e da umbanda no Brasil não se deram de forma pacífica e "bem aceita" pela sociedade. Aceitar elementos de outra cultura para manter partes da sua religiosidade, ou manter certo "status" social, não pode passar desapercebido pelo historiador, muito menos ser atenuado com termos como "adaptação", ou "resistência". Pode-se argumentar que não é isso que o autor desejou dizer com o conceito de resistência; porém, para mim, são essas as implicações que o uso deste acarreta.
ResponderExcluirJéssica Abud de Souza - 4º ano- Matutino
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ResponderExcluirÉ interessante ressaltar a importância da imprensa neste período como instrumento propagador do medo à cultura negra entre a sociedade branca. Como o próprio autor discorre que após a revolta dos malês em 1835, o jornal "O Correio Mercantil" cumpriu o papel de divulgar o papel revolucionário das festas e espalhar o terror entre os brancos. Fazendo uma citação de um dos artigos deste periódico, o autor destaca o horror que sentia o branco somente ao escutar o batuque, que "fazem-no apressar o passo a ganhar a casa". Neste período, a festa se tornou mais temida do que a revolta em si.
ResponderExcluirPriscila Marques Cruz - 4º ano Noturno