segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Candomblé em Discussão


Munir Abboud Pompeo de Camargo
Lays Maria Lima Fernandes
Gustavo Garcia Toniato

Nesse post vamos tratar um pouco sobre o processo de formação do Candomblé e sua influência no processo de formação da cultura colonial, ou seja como o mesmo em seu processo de formação agregou elementos tanto a culturais aos senhores de escravo e aos próprios escravos.
A primeira coisa importante para a analisarmos a formação do Candomblé é conhecer algumas linhas teóricas que trabalham com a religião, Max Weber coloca que função da religião é dar um sentido à existência do sofrimento e algum meio para supera-lo ou transcende-lo enquanto Malinowski coloca que a religião é um meio para suportar pressões emocionais. Nota-se que as sociedades humanas são replicáveis, devido a isto é possível notar estruturas básicas que compartilhamos. Uma destas é a religião que explica o sofrimento humano, organizando a sociedade. A partir destas linhas de pensamento desenvolve-se em meados da década de 70 entre os estudiosos da África o “complexo fortuna-infortúnio” ou “ventura-desventura”, que analisa a religião como uma forma de prevenção do infortúnio e aumento da boa sorte.
Nota-se que os escravos trazidos para o Brasil vem de diversas partes da África Ocidental, e que cada um desses escravos trazia consigo uma religiosidade diferente, e é a partir da fusão dessas religiosidades que surgem os Candomblés e Calundu. Estas religiosidades tinham a característica de tentar trazer bons frutos para seus seguidores, isto ainda em vida. Em um primeiro momento nota-se a religião como uma forma de prevenção do infortúnio, esta religiosidade surge devido a uma necessidade de sobrevivência, algo para estes indivíduos se apegarem.
Quando os escravos das diversas regiões da África eram trazidos para o Brasil, os mesmos eram separados de acordo com o porto que saíram da África, e é nessa separação que surgem as nações do candomblé, sendo estas a primeira forma de se diferenciar os escravos das diversas origens, com cada nação tendo sua própria religiosidade e seus próprios rituais, sendo assim manter essas praticas uma forma de reafirmar sua própria identidade em um lugar totalmente desconhecido para os mesmos. Nota-se então que neste primeiro momento não havia uma instituição religiosa, tendo em vista que para se tornar uma instituição é necessário ter espaços sagrados, um corpo sacerdotal hierarquizado, coletividade de devotos, atividades de rituais periódicas, culto iniciático e oferendas,
 então, na realidade o que havia neste primeiro momento era uma religiosidade afro-brasileira, que carregava inclusive influências de religiões africanas periféricas, exemplos desta influência é a maior aceitação da mulher nos rituais, isto se dá por este reagrupamento de fragmentos religiosos.
É possível perceber que no início do processo de formação do candomblé, as Nações são totalmente ligadas a um componente étnico, e com o passar do tempo com a mistura dos escravos das diversas nações este passa a ter um sentido totalmente ligado ao Rito usado, e o membro da nação não seria mais por origem sanguínea e sim a partir da filiação do mesmo a determinada nação, e é nesse ponto quando as religiosidades africanas entram em um maior sincretismo que surge o Candomblé.
Em um segundo momento a religiosidade africana se institui, há uma consolidação da religião, devido principalmente à libertação dos escravos, possibilitando a estes o acesso a imóveis e a livre locomoção. Neste momento a religião se tornou uma forma de resistência cultural. Tendo em vista que havia mitos em torno dos lideres espirituais, como os que eram capazes de lançar maldições, feitiços e outros tipos de magia, era comum até a busca por estes lideres para realização de exorcismos de ditos demônios africanos.
 A religiosidade africana, tanto em seu primeiro quanto em seu segundo momento influenciou fortemente a religião católica, assim como a religião da colônia influenciou a religião afro-brasileira. Esta influencia torna-se bem clara nos oratórios afro-brasileiros do século XIX, onde havia uma forte presença de elementos católicos misturados com amuletos, patuás e outros objetos da religiosidade africana. Esta pratica era inclusive estimulada por alguns membros da igreja. Por outro lado ocorria também uma perseguição da religião africana por parte das autoridades, outras alas da igreja católica e setores da sociedade, fazendo com que os praticantes das religiões africanas criassem formas silenciosas de culto para que pudessem continuar manifestando sua cultura.

Parés, Luis Nicolau. 2007. A Formação do Candomblé. História e Ritual da Nação Jeje na Bahia. Campinas. Ed. Unicamp. 

12 comentários:

  1. Faz-se necessário lembrar que o candomblé só pode ser assim intitulado, a partir do momento em que unificou diferentes etnias africanas ao seu redor, criando assim um forte laço identitário entre os negros. Há então uma institucionalização da religiosidade que só poder ser vista em meados do século XIX e que acaba por criar uma rede de solidariedade entre os negros e afro-brasileiros no Brasil.

    Marina Maria Soares Pontin - Noturno

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  2. Essa aproximação da religião católica com o candomblé também é perceptível a partir de certas tentativas de assimilação de santos católicos com entidades do candomblé, essa associação é explicada pela proibição do exercício das religiões africanas. Os escravos buscaram então a aproximação de seus orixás a figuras católicas para manter a prática velada de sua fé.

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  3. Vale notar que a cultura negra, no Brasil como nos EUA e outros países da América, impõe-se apesar da rejeição das classes favorecidas economicamente, e, ao longo do tempo, acaba por se inserir entre os costumes da própria elite. foi assim como lundu, no século XIX, o samba no século XX e a capoeira, que hoje é aceita sema maiores contestações pela sociedade. Atualmente, a Umbanda vem ganhando espaço entre setores que sempre a viram com maus olhos e até o Candomblé, estigmatizado por seus batuques, danças e ritualística, já goza de uma maior respeito, malgrado os ataquesdas igrejas neopentecostais.

    Fabiano Segismundo 4º ano história Noturno

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  4. Povos vindos de diversas partes do continente Africano, acabam por misturar suas diversas realidades e religiosidades, o que acarreta na criação de diversos Candomblés, é interessante ressaltar a forma como a criação das novas religiosidades foi uma maneira de se apegar as origens africanas ao mesmo tempo que constroem uma identidade para si, acabam por ser separados na chegada ao brasil de acordo com suas regiões, assim existiam os mais diversos Candomblés, ressalva para a característica marcante da ausência de instituição religiosa.

    Allan Felipe da Silva 4ª Diurno.

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  5. Embora as religiões afro-brasileiras tenham ganhado mais notoriedade nos últimos tempos, com antigos frequentadores das religiões mais "tradicionais", como a católica, percebemos que muitos dos que frequentam terreiros de Candomblé, por exemplo, se mostram reticentes em assumir tal prática, muito por conta do forte preconceito e resistência que ainda existe em relação a essas práticas.
    Tocando na parte em que há uma influência e mistura em certos pontos da religiosidade africana e católica, vale lembrar que muitas das datas festivas do Candomblé são ligadas aos dias santos da religião católica.

    André Luis Gobi - Noturno

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  6. As religiões afro-brasileiras sem dúvida se desenvolveram para ajudar a suportar os males da escravidão; o complexo "fortuna-infortúnio" é um modo de analisar a religiosidade que se difundia através dos negro trazidos ao Brasil, pois a penúria na qual viviam eram insuportável e ter para onde "fugir" e se sentir seguro e pertencente a algum lugar e também a uma comunidade era de suma importância para que fosse possível carregar o fardo da escravidão. O Candomblé é de forma bastante clara a religião afro-brasileira que mais se desenvolveu e se perpetuou no Brasil colonial e permeia até hoje a sociedade brasileira, porque além de ser o aporte religioso de milhares de pessoas ontem e hoje, também foi e é um aspecto de identidade, de pertencimento.

    Aline de Lorenço Teixeira - Diurno

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  7. No Brasil ocorreu ao longo das manifestações religiosas africanas a incorporação de divindades que não faziam parte daquelas que eram cultuados tradicionalmente na África, sendo essa uma das características do candomblé. Neste sentido, a palavra candomblé passaria a ser uma designação genérica de diversas “seitas” derivadas e que apresentam influências diversas à sua cultura como elementos bantos, do espiritismo, também rituais e mitos indígenas. Dessa forma o sincretismo do candomblé é referente às diferentes religiosidades africanas e outras que se mesclaram em contatos variados e influências recíprocas.

    DIEGO DOS REIS TERLONE DE OLIVEIRA - NOTURNO

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  8. O principal aspecto que devemos ressaltar - na minha opinião - é referente a idéia de que as religiões afro-brasileiras e suas manifestações culturais eram provavelmente mais homogêneas aqui do que na própria África. Ou seja, o candomblé entre outras manifestações acabaram por ser um sincretismo entre a cultura católica, e algumas culturas vindas da Africa, que eram diferentes entre si. Formando assim,uma nova forma de crença, adaptada as condições e contextos nos quais estão inseridos

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  9. Um fator para que se deve atentar a respeito do Candomblé no Brasil é o fato dele não estar, de forma alguma, presente anteriormente no continente africano, uma vez que este se mostra como a construção de uma nova forma religiosa, composta por diversos elementos de diversas religiões presente nas tribos africanas que foram separadas quando vieram para o Brasil com o tráfico de escravos. Entende-se, dessa forma, que o Candomblé é um tipo religioso completamente diferente de tudo que existia na África, uam vez que este só se consolidou como foi graças a elementos que só vieram a ser descobertos e incorporados no Brasil, bem como a realidade de vida dos escravos foi um fator crucial para o seu desenvolvimento.

    Carolina Valli Ferreira - Diurno

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  10. Uma das principais contribuiçoes de A formação do candomblé é repensar o binômio assimilação-resistência, indicando que esses elementos são tendências complementares e não antagônicas. Parés indica, por meio da análise do jornal O Alabama, as relações estreitas entre a polícia, membros do exército e alguns dirigentes dos candomblés, além da importância das congregações religiosas como fonte de votos, principalmente para os conservadores. No século XX, o autor destaca como principais períodos de ressurgimento do candomblé os anos 1930 e 1970, o primeiro relacionado a Vargas e ao Estado Novo, o segundo à ditadura militar e a Antônio Carlos Magalhães. Mesmo assim, termina por adotar a idéia de resistência assumida pela nova historiografia: "No contexto dos africanos e afro-descendentes no Brasil, o campo da religião, das crenças e das práticas rituais associadas ao mundo invisível parece ter sido o domínio por excelência da resistência cultural"
    Wendell Blois - Noturno

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  11. Este comentário foi removido pelo autor.

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  12. É interessante analisar a necessidade que o Candomblé teve que ter em relação ao sincretismo religioso. Para ser, de certa maneira, aceito na sociedade, a fusão com elementos católicos é a prova dessa necessidade. Outro fator interessante sobre o Candomblé, é a resistência cultural por trás dessa religião afro-brasileira. Serviu para manter as raízes da cultura africana mas adaptadas à realidade dos negros no Brasil, e essa adaptação (com diversos elementos de culturas africanas), resultou na formação do Candomblé, que mesmo se adaptando ao país, permitiu aos negros criarem uma cultura própria através do pouco que lhes era permitido retomar das origens africanas.

    Lívia de Andrade Cañas - 4ºano H.D.

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