segunda-feira, 5 de novembro de 2012

“Batuque Negro: repressão e permissão na Bahia oitocentista” (II).


 Jennifer Mariano
 Lucimar Ranuzzi
 Nathan Lima
 Priscila Marques
 Rafael H. Silva

O autor discute batuques de negros, baseando-se em relatos, jornais, do final do século XVII e meados do século XIX, onde busca perceber transformações e continuidades quanto ao perfil dos participantes e atitudes de senhores e autoridades políticas e policiais diante da festa negra na Bahia. A grande questão era: a quem serve a festa?
As festas seriam sempre uma forma de discussão sobre qual seria a sua representação e o seu papel na sociedade. Para muitos, essas festas eram um meio de expressão da resistência escrava e negra no Brasil e outros entendiam que essas festas eram a preparação para as revoltas, mas havia pessoas que entendia como meio de controle social dos escravos, mas também eram vistas como uma maneira de demonstração da forma de liberdade dos africanos.
REIS aborda três exemplos distintos para ilustrar o quadro. O primeiro é uma festa ocorrida no ano de 1808 em Santo Amaro, nas oitavas de Natal, onde é observado a perspectiva da divisão étnica, onde os negros se reuniam conforme a sua origem, embora essa divisão não fosse completa. Neste ponto, é destacado pelo autor que, toda a comida e bebida e até as vestimentas eram pagas pelos próprios negros, mostrando que era possível a composição de pequenas plantações de subsistência e outros trabalhos que permitiam a remuneração. Outra abordagem é que os próprios senhores liberavam os escravos para participarem dos batuques, sendo que alguns desses senhores até assistiam àquelas comemorações. É destacado também a preocupação de alguns senhores e autoridades em relação à festa acontecer até a noite, porque para eles, os negros, dessa maneira, ficariam cansados para o trabalho do outro dia, e além disso, à noite eram o momento onde os demônios estavam a passear e onde os negros revoltosos circulavam com maior liberdade, gerando sempre o medo.
Outro momento analisado por REIS, é após a independência, onde os governos locais empregam grandes esforços para controlar melhor a população escrava, e tomam medidas que refletiam temores com a rebeldia escrava e com a disseminação dos costumes africanos, até porque nesse momento, os negros representavam a maior parte da composição demográfica de Salvador.
Já em meados do século XIX, muda-se a percepção em relação às festas e aumenta o temos em torno dessas reuniões, principalmente após a revolução dos malês. O batuque chega a ser confundido como um atentado a escravidão, mas ainda existiam senhores que permitiam as festas. A imprensa local criticava fortemente essas batucadas reforçando o medo com a festa negra. Para muitos a festa africana representava uma ameaça ao projeto de uma Bahia civilizada. Mas só a partir de 1850, após o final do tráfico transatlântico que aumento a esperança de diminuir a chegada de negros na Bahia e assim acabar com os batuques. A partir dessa década, os batuques ocorreriam somente nas festas religiosas e a festa do Bonfim era a preferida da população e em especial pelos negros. Mas em 1855, os negros foram proibidos de participarem dessas festas e essa discussão a respeito da participação dos negros tomou maiores proporções chegando a ser discutida na Assembléia Provincial. Com isso, pode-se dividir as festas dos batuques em duas perspectivas, aqueles que viam nela uma forma de ensaio para as revoltas, a repulsa moral e religiosa, que depois se transformaria em medo após as revoltas dos malês e a concentração de um maior número de escravos de mesma origem, especialmente os nagôs, e passa a ser novamente a preocupação com a resistência cotidiana, em especial a fuga temporária e a vagabundagem, que poderia ser favorecida pelas festas, com esse processo sendo encabeçado por autoridades conservadoras e o Correio Mercantil.
O principal discurso gerado entre essas disputas, foi o medo. Porém as raízes africanas permaneceram até os dias de hoje.

REIS, João José. Batuque Negro: repressão e permissão na Bahia oitocentista. In: JANCSÓ, István & KANTOR, Iris. Festa: cultura e sociabilidade na América Portuguesa. São Paulo: Edusp, 2001, p. 339-358.

11 comentários:

  1. Reis analisa os batuques partindo do pressuposto de que este tipo de festejo continha uma maior "africanidade", ou seja, no baque havia mais elementos propriamente africanos do que em outras manifestações culturais em que os negros participavam, como as irmandades ou as festas de coroação dos reis de Congo. Por esse motivo o autor afirma que os batuques eram elemento fundamental para a construção de uma identidade negra e escrava na Bahia. Deste modo, Reis compreende o festejo em questão como uma forma de resistência dos negros. Através dos batuques os negros poderiam manter sua cultura, sem incorporar totalmente os costumes brancos e cristãos.

    Anája Souza Santos, 4 HD

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Esse texto remete aos estudos sobre a situação política do Brasil entre a virada do século XVIII para o XIX. Havia, naquele momento, um grande receio das elites de que a Bahia pudesse gerar uma revolta semelhante à haitiana, comandada pela população negra. Nesse sentido, é compreensível que houvesse um receio dos governantes com relação a festas que se utilizassem de elementos africanos mais característicos, como o batuque, embora fosse exagerado e até descabido o receio de uma revolta organizada de grandes proporções e que envolvesse os negros em uma tomada de poder, como ocorreu no Haiti, até porque não havia nível de organização suficiente para tal.

    Fabiano Segismundo 4º ano história noturno

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  4. Nota-se que os batuques negros faziam parte de um momento de adaptação dos negos ao novo local. Seria um mantimento da cultura africana junto à cultura da colônia, uma forma de manter um grupo e uma identidade comum.
    Nota-se que a preocupação dos senhores com as festas era muito grante e as tentativas de proibição dos batuques podem representar também um reconhecimento da cultura negra e das formas de resistência dos individuos.

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  5. É interessante notar a mudança de significados que os batuques negros vai tomando, logo, esse sentimento de "medo" também muda de interpretação. O sentido vai se transformando a partir dos adventos históricos e das situações. Em um primeiro momento as festas representavam reuniões entre grupos de escravos. Depois, as festas passam a ser interpretadas como "de revolta", até mesmo pelo período (meados de 1830/40), com revoltas que aconteciam. Mas tarde, a preocupação seria a cultura negra sendo espalhada por todos os cantos, até mesmo, o processo de europeização que se passava na época (1850), logo os negros não faziam parte. Mas independente disso, é claro perceber a influência do negro, e sua contribuição para uma identidade nacional, mesmo sendo pressionados por uma elite local, política e imprensa.

    Marcos Stamillo - 4ºano - H.Noturno

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  6. Para João José Reis, as festas de batuque funcionavam como forma de resistência cultural frente a cultura europeia que eram de certa forma obrigados a incorporar para sobreviverem nas colônias. As festas de batuque era o meio para que esses africanos escravizado pudessem reencarnar socialmente, pelo menos naquele momento do encontro e sentir a africanidade novamente através de uma expressão de base mais próxima da que praticavam nas suas regiões de origem.

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  7. Uma relação clara é possível fazer entre o batuque e o samba no sentido de que são representações e/ou expressões da cultura negra no Brasil. Para alem disso, os batuques negros, que preenchiam o recôncavo baiano com o som dos atabaques, possuem, segundo o texto, como característica “distintiva” o fato de reproduzirem mais fielmente as experiências dos negros na África. Já, de outro lado, o samba perpassa um longo caminho de “misturas” culturais, como muito se discutiu a cerca do branqueamento e do enegrecimento. No entanto é fácil perceber que os dois movimentos tiveram, em parte, sua repressão decretada pelo fato de ambas parecerem, hora sim hora não, movimentos de rebeldia, sublevação e contestação.

    Wender Túlio de Paula
    4º Ano História Diurno

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  8. O autor estabelece como recorte para seu estudo a primeira metade do século XIX, ao contrário do que afirma o início do texto enviado pelo grupo (que estabelece como recorte do texto um período longo que compreende o fim do século XVII até meados do XIX). A principal questão do texto não é necessariamente “a quem as festas serviam”, mas qual o significado dessas festas para a formação de uma identidade negra no Brasil, e o que elas significavam para as autoridades nos diferentes momentos históricos analisados ao decorrer do texto.
    Em um primeiro momento, havia duas perspectivas das autoridades a respeito das festas: uma entendia as festas como momentos de conspiração negra e organização de posteriores revoltas; outra compreendia que as festas negras eram importantes para a própria manutenção da ordem, já que o negro deveria ter momentos de lazer e divertimento para esquecer de todo o fardo que levava enquanto escravo.
    O autor demonstra que em determinado momento a preocupação com as festas negras deixa de estar ligada somente às possibilidades de revolta escravista, para ligar-se também à preocupação com a fundação de uma cultura tipicamente brasileira, que não deveria possuir elementos da cultura negra. Isso ocorre em um momento em que as festas dos negros estavam mais populares entre os próprios brancos do que no início do século.
    Por fim, o autor afirma que apesar de todas as tentativas de implantação de uma cultura oficial branca, o que ocorreu na Bahia teria sido justamente o inverso: a cultura negra teria prevalecido como principal, em detrimento dos projetos de institucionalização da cultura branca europeia intentados no período.

    Vitor Terassi Hortelan
    4º ano de História diurno

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  9. Um dos contributos mais interessantes conferidos por Reis à essa manifestação cultural é justamente não encará-la como somente do universo cultural mas político também, como ferramenta simbólica de afirmação identitária da comunidade negra - bahiana, no caso. E isso é acompanhado por uma contestação - inconsciente, acredito - do padrão/modelo de civilização que estava em curso de implantação no seio socio-cultural nacional; ao invés do caminho Europa - Brasil, houve uma subversão, por parte desta comunidade - e, inclusive, por meio de seus folguedos -, desta imposição político-cultural, invertendo simbolicamente esse pirâmide e promovendo uma inversão de projetos civilizacionais.

    Vinícius Alencar
    4HD

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  10. Um ponto de essencial importância e que não é explícito neste texto de João José Reis, mas que permite toda sua análise é a temática do escravo como sujeito ativo na escravidão: o escravo não é somente aquele objeto do senhor, não é sujeito passivo deste processo, mas sim ativo, uma vez que absorve as influências culturais do meio em que vive de modo recíproco.
    Além disso, Reis expõe uma forma de manifestação cultural dos escravos, o batuque, como uma forma de manutenção de sua cultura, ao mesmo tempo em que ela absorve elementos. Isso só é possível se considerarmos o escravo não só como objeto de seu senhor, mas como um sujeito ativo neste processo da escravidão, no sentido de que encontra meios de perpetuar de alguma forma sua cultura.

    Tatiana Milanello - 4º História Noturno

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