Caio César Vioto
de Andrade
Fabiano
Segismundo
Marco Antônio
Teodoro de Souza
Rafael dos
Santos Andrade
Renan B. Ruiz
O
artigo de Antônio Flávio Pierucci se caracteriza pela fala de um autor de esquerda
dialogando com a esquerda. Procura desmistificar a ideia de diferença no Brasil
contemporâneo; ao desvendar a ótica do diferente dentro da cultura brasileira,
o autor mostra que o discurso de pluralidade acaba por se tornar uma armadilha
quando esta se torna uma bandeira defendida pela Esquerda. Segundo Pierucci,
sua proposta no artigo é debater “com todos aqueles que, sustentando posições
de esquerda hoje no Brasil, procuram fazer da diferença uma boa causa pela qual
lutar, uma boa idéia a ser defendida, difundida e ensinada”, trazendo reflexões
à esquerda que englobou na sua militância a defesa de minorias ou grupos
historicamente excluídos.
Nesse texto, partindo de uma
pesquisa em realizada
entre 1986 e 1987, em bairros de classe média de São Paulo, além da pesquisa de
Hans
J. Eysenck na década de 1940, o autor identifica paradigmas do discurso
conservador, mostrando as similaridades entre a sociedade brasileira da década
de 1980 e a inglesa de quarenta anos anterior à data da publicação de seu
artigo, mesmo com todas as diferenças entre as duas sociedades. Nessa
perspectiva, Pierucci destaca que a diferença é uma bandeira do conservadorismo,
que teria surgido com a Direita no fim do século XVIII, com a Revolução Francesa.
A chamada Restauração, ao destacar as diferenças entre as pessoas, estava confrontando
os ideais da Revolução representados pelos princípios da Igualdade, Liberdade e
Fraternidade. Nesse contexto, a Direita manteve-se apregoando a defesa das
antigas tradições hierarquizantes. De acordo com o autor, o discurso de
diferença fundado pela ultra-direita na Revolução Francesa, com as mudanças
históricas sofridas nas ultimas décadas, aparece hoje no discurso da Esquerda e
confunde-se dentro de uma lógica de defesa dos direitos de movimentos sociais
como o dos negros, índios, mulheres e homossexuais. No texto é enfatizado como
a esquerda se apropriou do discurso da diferença, que é defendida
historicamente pelo ultra-conservadorismo, que a considera natural entre os
homens, seja com abordagem étnica (brancos superiores aos negros), de gênero
(homens são melhores que as mulheres) ou mesmo econômica, visando uma idéia que
uns são melhores e mais esforçados que outros.
Pierucci destaca o trabalho de campo
feito com pessoas direitistas “leigas”, não intelectualizadas, e mostra que o
racismo como conceito de diferenciação, separação e definidor das condições
sociais encontra força no senso comum, estruturalizado historicamente, mas
delineado dentro de uma ideia meritocrática, como ele indica através de uma
entrevista com uma aposentada. Tal discurso, longe de ser exceção, está
enraizado mentalmente na cultura conservadora paulista – ou mesmo brasileira. A
defesa do conceito de diferença, e aqui até mesmo do racismo, mostra a ótica
paradigmática que conservadores possuem; são pragmáticos. Esse pragmatismo é
simples, a diferença não é apenas natural, mas também responsável pelo
delineamento e manutenção da ordem. É como se o negro, ou a mulher, por serem
diferentes, ocupassem seu papel na ordem da diferença natural estabelecida. Não
é por acaso que Pierucci sinaliza com
isso as construções de estereótipos, que são maneiras de realçar as diferenças
defendidas pelo conservadorismo.
Nesse
sentido, a defesa das diferenças pela Esquerda acaba por criar barreiras e
distorções no seu próprio discurso. A esquerda, com o advento dos novos
movimentos sociais, e também por sua própria reconfiguração, tenta reivindicar
a defesa das diferenças e da pluralidade em seu bojo ideológico. Entretanto, o
autor frisará as confusões conceituais que poderão gerar através dessa análise que
acaba por se tornar instável teoricamente. O maior exemplo é o caso da SEARS,
onde a Historiadora feminista Kessler-Harris acaba por entra em uma armadilha
teórica ao ser testemunha contra a empresa em questão. A tentar usar o conceito
de diferença e não de igualdade, acabou por deslegitimar sua defesa sobre a
discriminação feminina, dando ganho de causa à SEARS – que diferenciava os
cargos atribuídos aos homens e mulheres, apesar de ser a maior empregadora
privada de mulheres nos EUA. Esse caso mostra como o discurso de diferença na
direita é, além de consistente, coerente (o que não significa ser verdadeiro). Pierucci
defende que, apesar de não ser correto negar totalmente a questão das
diferenças, é assaz espinhoso tentar caminhar ou conciliar dois conceitos que
historicamente tem origens ideológicas distintas. O caminho político mais
simples para a esquerda será sempre a defesa da igualdade.
Outro
perigo na tentativa de conciliar o binômio igualdade/diferença está na
necessidade de uma análise profunda que leva a maior intelectualização, necessária
para explicar como o respeito às diferenças não deve acarretar em aceitação das
desigualdades, o que pode interferir na ação política militante, além da
confusão conceitual que se possa causar. Exemplo dado é o caso de geneticistas
não racistas; na busca por negar o “racismo biologizante acabam, volta e meia,
prisioneiros do individualismo monádico e universalista”, isto é, acabam por se
enveredar em uma armadilha conceitual engessada, fruto do binômio
igualdade/diferença; por um conceito excluir o outro, consubstancia-se uma
confusão.
A
partir daí, a análise observa o ressurgimento do conservadorismo, representado
por um discurso que defende o direito pleno das maiorias poderem impor sua
hegemonia cultural contra a “miscigenação cultural”, em nome de se manter o
“direito de diferenças”, sufocando o direito dos mais fracos.
Em
suma, se para a direita a coerência das ideias conservadoras de diferenças são a conditio sine qua non das suas bandeiras
reacionárias, da mesma forma a esquerda é herdeira dos ideais da Revolução
Francesa como Liberté, Egalité, Fraternité, que
no seu cerne, tem a igualdade como a raiz das outras duas bandeiras.
Acredito eu que a tentativa da esquerda de criar um diálogo com o discurso direitista através do uso de sua própria ideologia como base para um discurso de esquerda seja a produção dos elementos necessários pela direita para o enfraquecimento do discurso esquerdista. Incorporar o conceito de diferença, enraizado na sociedade conservadora, ao discurso defensor da igualdade torna-se uma cilada pois,sem uma análise profunda do contexto em que vão se aplicar e dos conceitos de igualdade/diversidade utilizados, a assimilação desse discurso se apresenta como ambígua. Reside neste ponto a cilada descrita pelo autor.
ResponderExcluirPenso que é válido destacar que a semelhança no discurso conservador de integrantes da população inglesa em 1940 com o discurso conservador de cidadãos paulistanos na década de 1980 se da principalmente pelo fato de que, mais do que uma forma de governo, a direita articula uma concepção de sociedade e um modo de sociabilidade, ou seja, muito mais do que conservação política, as idéias de direita visam uma conservação social, onde a assustadora semelhança ressaltada pelo autor Antônio Flávio Pierucci reside no fato de que o anseio por conservação social da direita, consideradas as devidads diferenças culturais e regionais, manifesta-se de maneira semelhante nas sociedades ao longo dos tempo.
ResponderExcluira partir do momento em que a esquerda tenta argumentar sobre a igualdade porem usando a diferença como no caso da SEARS acima citado, ela acabando entrando em uma cilada, pois como é possivel averiguar no texto, o próprio autor no diz que o discurso que a esquerda faz atacando as diferenças só era possível no ambiente academico, que fora dele as pessoas não teriam instrução suficiente para entender e argumentar sobre o que se estava sendo discutido.
ResponderExcluirIsso mostra o quanto o pensamento de diferença esta incorporado na sociedade não só aos conservadores mais na sociedade como um todo, dado o exemplo no texto de uma senhora paulistana, que diz que nunca poderia ser comparada a um vagabundo pois ela teria trabalhado a vida toda.
Francisco da Costa Gagliardi 4HD
Creio que a análise dos discursos que lutam contra o preconceito podem ser melhor entendidos e melhor utilizados se nos atentarmos para as "ciladas" que eles nos trazem. Quando a esquerda se apropria da enfase pela diferença, proveniente da direita conservadora, ela dá respaldo a própria direita o que gera inclusive um maior distanciamento entre os indivíduos dentro da sociedade. Por outro lado, se os grupos que combatem os preconceitos se utilizam de um discurso que enfatiza a igualdade, sem considerar as diferenças, correm o risco de serem interpretados como omissos, por não incluir as singularidades das diversas "tribos" em suas reivindicações. Talvez a melhor saída seja construir os discursos de combate ao preconceito com na base no conceito de pluralidade, onde podemos trabalhar com a busca pela igualdade valorizando as singularidades. No entanto, mesmo assim é necessária muita cautela, para que não apareçam novas "ciladas".
ResponderExcluirLuiz Carlos da Silva - 4º ano História Diurno
A partir da analise do tema em questão chegamos a conclusão que; ou construímos um discurso a cerca da igualdade entre os homens levando como ponto central o fator humano e não fator racial, sexual , religioso, etc. Para assim existir um discurso solido a respeito da igualdade entre os homens independente de qualquer diferença proveniente dos mais diversos fatores.
ResponderExcluirOu caso tentemos construir um discurso pro minorias pautando em si as diferenças entre os homens acabamos por entrar em uma armadilha teórica argumentativa, pois mesmo que bem intencionados acabamos por legitimar as diferenças.
Allan Felipe da Silva 4º H/D
A teoria de Pierucci é clara e muito cara ao nosso modelo politico atual: o contraste entre a direita e a esquerda em relação à diferença se realiza pelo fato de que, para a segunda, não há razão em se optar ou pela igualdade ou pela diferença. Supõe-se, inclusive, nos meios intelectualizados de esquerda, que a desigualdade nada tenha a ver com a diferença. Para Pierucci, é nesse ponto que reside o equívoco que constitui uma das "ciladas" da diferença: a crença de que a defesa da diferença possa se desvincular das relações de valor que fundamentam a desigualdade. A partir do antropólogo Luis Dumont, o autor demonstra que não há como enfatizar a diferença sem afirmar ao mesmo tempo uma distinção de valor. Por essa razão, anunciar a condição de "diferentes, mas iguais", ou de "igualdade na diferença" é correr o risco de eleger uma luta possível mais no discurso do que na realidade. Nesse sentido, a conclusão do autor é que anunciar o "direito à diferença" é uma postura mais coerente na direita do que na esquerda política.
ResponderExcluirWendell Blois 4ºH/N
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAcho interessante notar que o autor chama atenção para o fato de que o conservadorismo, independente do contexto histórico em que pode ser encontrado, possui características parecidas. O autor não é historiador e, portanto, não tem a preocupação de estabelecer recortes temporais. Entretanto, penso ser pertinente essa forma de análise, pois pelo que compreendi do texto, o conservadorismo político teria surgido após a Revolução Francesa, numa tentativa de manter valores tradicionais, contra os quais a Revolução teria se insurgido. Os valores que o conservadorismo desse período buscava manter estavam muito ligados à tradição escolástica, segundo a qual deus teria criado o mundo de maneira a hierarquizar o próprio universo, e estabelecendo funções específicas a cada parte constituinte desse universo. Essa tradição defendia que, sendo a própria natureza hierarquizada, por que não o seria a humanidade? Isso aparece, na Idade Média e no Antigo Regime, como justificativa para a sociedade na forma como se organizava até então (de maneira hierárquica mesmo perante as legislações vigentes). Assim, parece-me que o conservadorismo, segundo aponta o autor, ao defender a desigualdade, parte ainda dos mesmos valores empregados nas sociedades de Antigo Regime, como o fato de acreditarem que a desigualdade é algo natural. Nesse sentido, apesar de não levar em conta os diferentes contextos históricos das manifestações conservadoras, parece pertinente a afirmação do autor de que tais manifestações possuem traços comuns, pois se baseiam sempre nas mesmas premissas e argumentos para fundamentar seu discurso.
ResponderExcluirVitor Terassi Hortelan
4º ano de História diurno
Este texto é de extrema importância para nos não nos alimentarmos de possiveis desagrados com as nossas temáticas. No caso as lutas empreendidas pela esquerda podem ser levadas a uma cilada se não refletidas dentro do contexto histórico atual. Parece-nos muito particular assimilar que a desrespeito, agressão e abusos. E há, só que não pode ficar somente nesses termos, deve-se alinhar as atitudes as teorias, e as teorias as atitudes. Já que o homem é um sujeito histórico ( então o façamos ). Para não cair na cilada de achar que tudo é relativo.
ResponderExcluirMarcos Paulo Rocha Fernandes
4º Ano História
Conforme elucida Antônio Flávio Pierucci em seu texto "Ciladas da Diferença", o que se percebe, de acordo com sua própria comparação estabelecida, são as contradições existentes dentro da própria esquerda que acabariam levando à uma 'cilada'. O racismo apontado pelo autor, seria o 'trunfo' da direita para exaltar ainda mais a diferença, conseguindo delinear um espaçamento, um distanciamento.
ResponderExcluirEssa não aceitação e esse distanciamento percebe-se claramente na entrevista feita a Dona Mariauta de 58 anos, pertencente à um bairro de classe média baixa de SP:
"“Iguais?! Que que há, está me estranhando? Fazer o quê?, a vida é assim, azar! Tratar como nosso irmão?! Eu trabalhei
quarenta anos, não posso ser irmã de vagabundo. O que é isso, está me confundindo por quê, agora? Porque negro é isso... Todo mundo
sabe que há racismo, sempre houve e vai haver até ofim da morte, amém. Negro é negro, branco é branco, azul é azul, vermelho é
vermelho. E preto é preto. Não vem que não tem. Essas demagogias é bom é em época de eleição. Isso é demagogia, isso é falsidade, isso
é falta de religião católica apostólica romana.”
A direita, utilizando-se de discurso ideológico, elucida o "Direito à Diferença", ocasionando à esquerda um 'beco sem saída'.
Conclui-se então, que a cilada é ocasionada pela esquerda para a própria esquerda, e que o diálogo estabelecido pela direita acaba direcionando o discurso ideológico e acentuando a desigualdade o racismo.
Bruna Gomide de Oliveira - 4º ano de História Diurno