segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Samba


Rafael de Castro
Allan FilipeCarlos
Eduardo Pupin
Wender de Paula
Elisson Rossi

É consenso que o samba, nos dias atuais, é um dos maiores ícones da cultura nacional brasileira. No entanto, para tal reconhecimento foram necessários anos e um longo processo de incorporação e aceitação dos costumes e tradições negras à cultura brasileira. Não foi com o fim da escravidão que imediatamente tais valores foram inseridos à esfera pública do Brasil, mas sim com um duro e longo jogo de condenação e exaltação desses.
            Com a abolição da escravatura, as relações que se criaram dentro da esfera privada entre negros e brancos se manteve, mas não se expandiu à esfera pública. A incorporação do ex-escravo à esfera pública levou tempo, guiada por ideias de um Darwinismo social, que a aglutinação plena dos costumes africanos denegria a cultura nacional; mas, ao mesmo tempo em que havia essa condenação, alguns elementos tradicionais negros já se encontravam integrados a cultura popular negra. Um exemplo desta dificuldade na aceitação do negro na esfera pública é notada no processo de reurbanização do Rio de Janeiro.  Essa reforma acaba por criar duas cidades distintas: o Rio de Janeiro da nova norma urbanística (centro), e o Rio de Janeiro das malocas (periferias). Desse modo, muitas vezes esses dois Rio de Janeiro se confundiam; os negros andavam pelo centro da cidade, reurbanizado, já que existiam locais que eram componentes da cultura escrava, como por exemplo, as rodas de capoeira que aconteciam no centro da cidade. Tal presença negra nas regiões centrais causava desconforto em boa parte da população branca carioca.
            Sendo assim, duas visões conflitantes existiam sobre a cultura negra: uma que barbarizava e outra que exaltava. Para ilustrar essa dicotomia, a capoeira, ao mesmo tempo em que era proibida por lei, era exaltada como esporte nacional, fruto da mestiçagem brasileira. Dessa maneira, a transformação do samba de música negra a música da cultura nacional foi um processo de contato entre as esferas erudita e popular. O próprio samba era proibido oficialmente. O presidente Hermes da Fonseca, por exemplo, chegou a proibir qualquer banda marcial que tocasse melodias de samba; o mesmo, no entanto, ao mesmo tempo levava a sua casa sambistas e frequentava casas de samba. Algo que é importante ressaltar é que “samba” dizia muito mais respeito a um acontecimento do que a um gênero musical, sendo que no evento do “samba” eram executados maxixes, lunduns, entre outros ritmos. Outro exemplo é dos policiais, que tinham que vigiar o acontecimento de sambas, mas ao mesmo tempo eram de origem nas periferias, e cresceram no ambiente do samba.
            Há também os “oito batutas”, um grupo de sambistas que foram convidados a fazer uma turnê internacional na França, para demonstrar ao público europeu o maxixe brasileiro. Ao passo que para os estrangeiros aquela música representava uma característica interessante da cultura brasileira, para os nativos do Brasil era demonstração de involução do país, por serem oito negros tocando um ritmo de origem negra, e não representava com verossimilidade o real desenvolvimento da sociedade brasileira.
            Assim, o processo que tornou o samba símbolo nacional brasileiro não foi brando e rápido, mas sim conturbado, com várias contradições e conflitos. Foi resultado de um longo e tempestuoso jogo de concessões e críticas. 

13 comentários:

  1. Achei interessante a intervenção do professor na aula do texto acima comentado, pois houve uma comparação entre a maneira com a qual o samba e o futebol foram incorporado à esfera pública brasileira apoiados por um plano político nacional. Assim como a música hoje tida como símbolo da cultura brasileira, o esporte bretão, no Brasil, também seguiu caminhos tortuosos à sua aceitação definitiva. Se entre depois de popularizado, no início da década de 1920, e a Copa de 1938, quando Vargas deu todo o apoio à comitiva que seguiu para a França, havia um tácito preconceito com relação a este, o samba, assim resumindo, trilhou passou igualmente complicados.

    Lucas Ribeiro - 4º ano História Diurno

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  2. As construções de identidades não são rápidas, tampouco hegemônicas. Em uma nação, com diversos povos como o Brasil, essa identidade teve que passar por inúmeras contradições. A música, a linguagem, os costumes, tudo tem que entrelaçar, desde o popular, até o tradicional, para só então se tornar uma 'cultura nacional'. E com o samba não foi diferente. Apesar da resistência em assumi-lo como música nacional houve algum tipo de necessidade de se definir uma cultura brasileira. A criação dos mitos, das heranças, e da musicalidade foi um ato inevitável para se instaurar a identidade do povo brasileiro, que até certo ponto da resistência da sociedade, não a tinha de maneira tão bem definida.

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  3. O repudio e o medo das antigas tradições e dos costumes negros também englobava a culinária.
    Gilberto Freyre deixa bem claro que sem a escravidão não é possível ter a compreensão de o que ele chama de uma arte de doce, uma técnica de confecção muito complexa que envolve uma estética de mesa, sobremesa e tabuleiro. Esta arte está entranhada na cultura nacional e se mantem muito forte até os dias de hoje.
    Durante o fim do século XIX e inicio do século XX as elites começam a tentar constituir um espaço urbano aos moldes europeus. Porem tal plano sofre seus obstáculos. Com a industrialização as cidades começam a crescer, consequentemente sua população sofre um aumento considerável. Observa-se que a população das cidades era uma população muito variada, cada uma com sua cultura e, para se adaptarem ao meio urbano, começam a desenvolver inúmeros tipos de atividades, principalmente a população marginalizada pela elite. Tais meios de sobrevivência, não agradavam em nada a população mais abastada, que tentava criar alguns métodos para poder controlar melhor tal parcela popular.
    As ocupações dos cidadãos marginais eram varias. Entre essas ocupações se destacava o grupo dos vendedores ambulantes. Tais vendedores faziam seu comercio a céu aberto com caixotes e tabuleiros, vendiam suas criações caseiras e representava a cultura de uma população que se adaptou à uma sociedade em transformação que tentava eliminar tais seres sociais. Nota-se que o comercio de doces, guloseimas, quitutes, era muito forte, era a antiga herança do açúcar se adaptando as mudanças sociais.
    O grande medo era o contagio social tal comportamento estava ligado aos antigos costumes e tradições, devido a isto, tal comportamento representava uma afronta à nova ordem que as elites tentavam criar no país, e representava um risco de atrair mais pessoas para esse modo de vida. Esta população fazia parte de um passado que as elites tentavam negar.
    Devido a tais culturas não serem bem vindas ao meio urbano pelas elites nacionais, tentou-se regulamentar tais atividades tentando criar então uma vigilância e um controle sobre tal população. Porem tal feito representa também um reconhecimento a tais culturas.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. A demora pela aceitação dos elementos referentes à cultura negra tem relação com a influência das ideias darwinistas e evolucionistas sociais. Principalmente nos finais do século XIX e início do XX, a “elite pensante” brasileira reunia-se em grande escala nas Faculdades de Medicina e Direito para, entre outras ações, estudar e divulgar tais teorias. Apesar da abolição da escravatura, não caía bem expor à esfera pública a incorporação ou, no mínimo, valorização de elementos culturais do mundo dos negros: a música é um exemplo claro de tal panorama.
    Os elementos socioculturais do universo rural (a influência da cultura nordestina na formação do estilo, fato que não podemos esquecer) e dos marginalizados (os pretos que habitavam nos morros, à margem dos urbanizados) penetrariam suave e lentamente o urbano, de acordo com um tenso jogo político, confluindo-se com a parcela de valores e concepções do mundo branco de origem europeia civilizada.
    Somente o tempo traria as frestas para que o samba – enquanto evento que aglutinava diversas outras manifestações e, principalmente, como gênero musical específico – pudesse ser compartilhado entre um maior público. O samba estilo musical, para se ter uma ideia, ganharia maior exposição somente a partir da década de 30 do século XX . O Estado Novo de Getúlio Vargas e o mercado cultural do período, em conjunto, trabalhariam para explicitar a nova música, levando o estilo ao consumo em nível de massa. Aí então é que o samba, apesar dos incontáveis questionamentos que surgiriam, inclusive de sua suposta perda de identidade, passaria a ser mais valorizado e tido como símbolo da identidade nacional brasileira.

    Matheus Barbosa de Oliveira - noturno

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    1. vc tocou nos 2 assuntos que eu queria ressaltar, por achar terem passados batido; o samba praticano no Recôncavo Baiano (não só no Rio de Janeiro), e o samba como identidade nacional, que só pode ser entendido após o Estado Novo do Getúlio.

      outro ponto interessante, achei em um livro na biblioteca ("Iniciação à Música Popular Brasileira" de Waldenyr Caldas), que cabe nessa conversa, é o fato de o samba no Rio de Janeiro ter 2 polos de referência: o samba de morro, tipicamente de negros, e o samba da cidade, que já contava com a mestiçagem e inclusive com brancos bem formados (como Noel Rosa, formado em medicina) na composição e popularização desse ritmo musical. Vale frisar que a divisão nunca existiu.

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  6. Interessante observar como o samba, que surgiu como um acontecimento de ritmos musicais e evoluiu até se tornar um ritmo propriamente dito, passou de motivo de vergonha e atraso da nação, para símbolo nacional, sendo exportado e exaltado nos dias atuais. Também como o gênero samba se originou de vários ritmos, como os citados maxixe e lundun, e posteriormente gerou variações, como o samba-enredo, samba canção, dando origem a um dos eventos mais lucrativos, simbólicos e famoso do Brasil, o Carnaval. O mesmo samba, que sofreu com o preconceito nacional por ser um ritmo tocado por negros, se "branqueou" através dos anos e hoje apresenta uma diversidade de músicos brancos, fazendo com que se tornasse um ritmo extremamente lucrativo para o mercado fonográfico.

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  7. A partir da análise de um objeto como o samba, podemos observar uma clara linha de separação que afastava cultura negra de cultura brasileira, ignorando sua relação de mutualismo. Deslegitimar as manifestações ditas apenas dos negros é um problema, de inicio, por que ao dizer que tal representação é "exclusivamente" negra, alarga-se o distanciamento fruto do preconceito. Obviamente interpretações do tipo "mas naquela época era assim mesmo" podem surgir provenientes de opiniões mais rasas, mas é sempre necessário lembrar que ainda ocorrem as divisões na cultura tida como brasileira separando-a da cultura negra,como se esta não integrasse aquela. Ainda pior é o fato de tal separação vir, em muitos casos, dos próprios grupos defensores da equalização da sociedade brasileira.

    Luiz Carlos da Silva - 4º História Diurno

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  8. É interessante a dicotomia com a qual trabalha a autora do texto, Letícia Vidor de Souza Reis, com relação ao samba, música que, apesar da resistência e de mal vista por muitos, se tornou um expoente da cultura nacional, inclusive exportável. Além do mais, a questão dicotômica vai mais longe, com a pesquisadora abordando que, apesar dos desejos dos governos da Primeira República de livrar o país da cultura de raiz africana, cultura esta bárbara, com a proibição até da prática da capoeira, os elementos afro-brasileiros permaneceram vivos nas grandes cidades do país, condição que provou a ineficácia do projeto.

    Carlos Henrique Genova - 4º História Diurno

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  9. O preconceito com a cultura negra no Brasil sempre existiu desde a entrada da escravidão na sociedade colonial brasileira, porém isso não quer dizer que os costumes negros se mantiveram afastados das camadas de elite que aqui viviam. É visível que muitas heranças culturais trazidas pelos escravos para o convívio com os brasileiros se entranhou em nossa cultura até hoje, o samba com certeza é um dos mais marcantes. Mas não somente esse ritmo musical é perceptível nas músicas populares, mas também é possível ver que outros ritmos africanos foram sendo incorporados na música brasileira com seus ritmos de percussão, assim como gírias na fala com sons próximos de palavras africanas faladas pelos negros, como por exemplo a palavra usada até hoje nenê. A cultura africana, sem sombra de dúvida, deixou inúmeras contribuições culturais para o Brasil.

    Aline de Lorenço Teixeira - 4º ano Diurno

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  10. Um aspecto interessante para se destacar, até mesmo por várias vezes que tocamos no assunto música, e também pensando mais amplamente, é pensar a música popular, desde o final do séc.XIX, estão muito atreladas ás questões sociais nacionais. Eram desabafos sobre problemas do Brasil por meio das canções, podendo até pensar em estudar a história do Brasil por meio da música popular. Até mesmo no começo do séc.XX, as questões raciais e preconceituosas, estavam muito presentes. Como citaram no final do post, o grupo Oito Batutas, que vão tocar em Paris em 1922, em função ao 100 anos da independência do Brasil. Os Batutas encontram na Europa uma explosão de bandas de jazz. E lá Pexinguinha tem o contato com adornos do jazz (saxofone/bateria), e quando voltaram para o Brasil, mudaram seus estilos, eles voltam com características de um grupo de jazz (roupas e instrumentos). A imprensa, antes chamando eles de negros, música rasteira, com essa mudança, começam a falar que eles deixaram de ser brasileiros e novamente, recriminaram Pexinguinha. Essas mudanças, nesses períodos tomavam uma grande conotação (outro exemplo é a Carmen Miranda quando volta dos EUA). Sempre o que entra em questão é a nacionalidade e identidades. Por detrás da música sempre tinha uma questão social a ser tratada, e isso era passado nela. As questões sociais, as contradições da sociedade, o preconceito, e a formação de uma cultura brasileira, sempre esteve em contato com a música e esta, aqui, com os negros também.

    Marcos Stamillo - 4ºAno - H.Noturno

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  11. Acho interessante a discussão que o texto provocou em sala acerca da transição que o "samba" sofreu, passando de uma festa/celebração/movimento para um estilo musical e também para um fator de identificação identitária brasileira.
    O samba era um evento, uma celebração da cultura africana assimilada por negros brasileiros (embora, já neste momento não exclusivamente por este grupo)onde ritmos como o Maxixe e demais batuques africanos eram tocados. Com o passar dos anos, estes eventos (e festas parecidas) foram contribuindo para a formação musical de músicos como Pixinguinha e Donga, que, influenciados pelos ritmos e o batuque africano acabaram por criar um novo estilo musical que seria chamado de samba, que, de modo análogo ao Blues norte-americano, consiste em música criada em território nacional por descendentes de africanos misturando aspectos das duas culturas resultando em ritmos únicos e com identidade forte (devido justamente, a esta multiplicidade de fatores contribuintes para o desenvolvimento dos estilos musicais em questão).

    Pedro Contatto Gasparini 4º ano de Relações Internacionais.

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  12. É interessante lembrar a contribuição de Getúlio Vargas para a identificação do samba como o grande símbolo da nacionalidade. É sabido como, as ditaduras de se valem de símbolos, imagens, projeções do sentimento nacional, para unificar a população e mesmo, aliená-la. O samba serviu para modular a moral nacional, inclusive promovido e patrocinado pelo Estado em momentos como o de deslegitimação da bohêmia, incentivando e cooptando artistas para que compusessem sambas de "elevados" valores de bom convívio e conduta, e para além: também exportou uma imagem de Brasil. Houve uma confluência de fatores, para além destes citados acima, o rádio foi popularizado nacionalmente, nesse momento histórico, começo do século XX.

    Vinícius Alencar
    4HD

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